Enio Lins

Mais crônicas sobre uma tragédia crônica

Enio Lins 05 de dezembro de 2023

Estas linhas foram escritas sob a tensão do anunciado “dolinamento” de uma das condenadas minas da Braskem, neste caso, a de número 18. Torço para que, quando estiverem sendo lidas nada tenha acontecido, nem venha a acontecer.

Mas, ocorrendo ou não o colapso da mina 18 – ou de qualquer outra – a tensão não se dissipará, A tragédia geral, em perspectiva, conforme prevista pela ciência, é bem maior que a ocorrência esperada para esses dias.

Longa é essa (terrível) expectativa, cujas primeiras hipóteses foram levantadas -e publicadas pela então Tribuna de Alagoas – em 1985, numa reportagem dos estudantes Érico Abreu e Mário Lima. Já se vão 38 anos.

Esta TIC TAC já lembrou isso, mas vale a pena ler de novo. Entre 1974 e 1985, o grande temor era a possibilidade de acidentes na fábrica do Pontal da Barra, por conta da letalidade de produtos ali processados, como cloro e soda cáustica.

José Geraldo Marques, professor da UFAL e ecologista, foi o nome mais destacado entre as vozes pioneiras que ousaram denunciar os problemas potenciais do projeto Salgema desde os primeiros dias. Foi ignorado e isolado.

Por volta de 1974, e já se vão 49 anos, um dos diretores da então Salgema esnobou José Geraldo, afirmando ao ecologista que seria “mais fácil mudar Maceió para outro lugar que mudar a fábrica para outro canto”.

Pois é: uma parte de Maceió já foi deslocada para outros lugares. Mesmo que não sejam engolidos pelos dolinamentos, parte dos bairros de Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Pinheiro desapareceram do mapa como áreas habitáveis.

Estas linhas estão sendo escritas na esperança que nenhuma área afunde. E, em surgindo dolinas, que sejam administráveis. Mas, o mais importante, o fundamental, neste período tenso, é que medidas enfim adequadas – na radicalidade exigida pelo desastre em curso – sejam implantadas para o enfrentamento deste grave problema social, econômico, ambiental, geológico, ético e político criado pelo empreendimento Salgema/Braskem.

E já se vai meio século nessa toada. Sempre piorando na confirmação dos velhos e novos alertas, perigando para que a dor crônica se banalize e não sejam cobradas à empresa (i)responsável todas as suas responsabilidades.

HOJE NA HISTÓRIA


5 DE DEZEMBRO DE 1889 – O vapor Alagoas chega à Lisboa, conduzindo a família Bragança, recém-destituída da sinecura de proprietários da monarquia brasileira. Os Bragança continuavam no poder em Portugal desde que Pedro (I do Brasil e IV de Portugal) havia dado o golpe para assegurar para sua própria descendência as duas coroas.

Dom Carlos I, primo que havia sido coroado Rei de Portugal em setembro daquele ano, entretanto, manda logo informar que a parentalha mazomba, deposta e deportada do Brasil, não era bem-vinda à Lisboa. Além de queda, coice: os Bragança brasileiros vão para outras plagas, com escala na cidade do Porto (onde morre Dona Teresa Cristina, naquele mesmo mês). O viúvo Pedro II parte para Paris, ali morrendo dois anos depois, em dezembro de 1891.

Mais trágico foi o fim de Dom Carlos I, monarca português, e seu filho e príncipe herdeiro, Dom Luiz de Bragança: foram assassinados, em Lisboa, em 1º de fevereiro de 1908, nove anos depois de terem recebido e afastado de terras lusitanas seus parentes Bragança brasileiros.