Enio Lins
Mais crônicas sobre uma tragédia crônica
Estas linhas foram escritas sob a tensão do anunciado “dolinamento” de uma das condenadas minas da Braskem, neste caso, a de número 18. Torço para que, quando estiverem sendo lidas nada tenha acontecido, nem venha a acontecer.
Mas, ocorrendo ou não o colapso da mina 18 – ou de qualquer outra – a tensão não se dissipará, A tragédia geral, em perspectiva, conforme prevista pela ciência, é bem maior que a ocorrência esperada para esses dias.
Longa é essa (terrível) expectativa, cujas primeiras hipóteses foram levantadas -e publicadas pela então Tribuna de Alagoas – em 1985, numa reportagem dos estudantes Érico Abreu e Mário Lima. Já se vão 38 anos.
Esta TIC TAC já lembrou isso, mas vale a pena ler de novo. Entre 1974 e 1985, o grande temor era a possibilidade de acidentes na fábrica do Pontal da Barra, por conta da letalidade de produtos ali processados, como cloro e soda cáustica.
José Geraldo Marques, professor da UFAL e ecologista, foi o nome mais destacado entre as vozes pioneiras que ousaram denunciar os problemas potenciais do projeto Salgema desde os primeiros dias. Foi ignorado e isolado.
Por volta de 1974, e já se vão 49 anos, um dos diretores da então Salgema esnobou José Geraldo, afirmando ao ecologista que seria “mais fácil mudar Maceió para outro lugar que mudar a fábrica para outro canto”.
Pois é: uma parte de Maceió já foi deslocada para outros lugares. Mesmo que não sejam engolidos pelos dolinamentos, parte dos bairros de Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Pinheiro desapareceram do mapa como áreas habitáveis.
Estas linhas estão sendo escritas na esperança que nenhuma área afunde. E, em surgindo dolinas, que sejam administráveis. Mas, o mais importante, o fundamental, neste período tenso, é que medidas enfim adequadas – na radicalidade exigida pelo desastre em curso – sejam implantadas para o enfrentamento deste grave problema social, econômico, ambiental, geológico, ético e político criado pelo empreendimento Salgema/Braskem.
E já se vai meio século nessa toada. Sempre piorando na confirmação dos velhos e novos alertas, perigando para que a dor crônica se banalize e não sejam cobradas à empresa (i)responsável todas as suas responsabilidades.
HOJE NA HISTÓRIA
5 DE DEZEMBRO DE 1889 – O vapor Alagoas chega à Lisboa, conduzindo a família Bragança, recém-destituída da sinecura de proprietários da monarquia brasileira. Os Bragança continuavam no poder em Portugal desde que Pedro (I do Brasil e IV de Portugal) havia dado o golpe para assegurar para sua própria descendência as duas coroas.
Dom Carlos I, primo que havia sido coroado Rei de Portugal em setembro daquele ano, entretanto, manda logo informar que a parentalha mazomba, deposta e deportada do Brasil, não era bem-vinda à Lisboa. Além de queda, coice: os Bragança brasileiros vão para outras plagas, com escala na cidade do Porto (onde morre Dona Teresa Cristina, naquele mesmo mês). O viúvo Pedro II parte para Paris, ali morrendo dois anos depois, em dezembro de 1891.
Mais trágico foi o fim de Dom Carlos I, monarca português, e seu filho e príncipe herdeiro, Dom Luiz de Bragança: foram assassinados, em Lisboa, em 1º de fevereiro de 1908, nove anos depois de terem recebido e afastado de terras lusitanas seus parentes Bragança brasileiros.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.