Enio Lins

Um câncer na segurança pública brasileira

Enio Lins 29 de novembro de 2023

No filme “Tropa de Elite 2”, uma das cenas mais impactantes é a do assassinato do capitão PM André Mathias, alvejado pelas costas pelo PM/miliciano Marreco, que cumpria ordem do major PM/miliciano Rocha.

Negro, o personagem “André Mathias” representa o policial íntegro e rigoroso – vítima de perseguições administrativas e morto à traição por PMs milicianos, cuja presença criminosa nas instituições policiais só faz aumentar ao longo do filme.
Ficção: “Tropa de Elite 2” é um filme de 2010, dirigido por José Padilha e que expõe a assustadora realidade da infiltração criminosa das milícias nas entranhas da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Vale para todo Brasil.

Realidade: sexta-feira, 24 de setembro de 2023, Rua Passo da Pátria, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a PM Vaneza Lobão, 31 anos, do setor de inteligência da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, foi assassinada à porta de sua casa.

Recompensa de R$ 5 mil foi oferecida pela polícia carioca “por informações que ajudem a identificar os criminosos”. Por favor, um pouco de respeito à obviedade: os principais suspeitos são os colegas investigados por ela!

Das telas, a ficção traçada por Padilha virou realidade ainda mais dantesca. De fato, as milícias – corroendo as forças policiais por dentro – tornaram-se o maior perigo e maior problema para a segurança pública brasileira.

E não é de hoje: em 2005, um ícone miliciano, capitão PM Adriano Nóbrega, preso, foi condecorado pelo então deputado estadual carioca Flávio “Rachadinha”, em cujo gabinete na ALERJ abrigava parentes daquele presidiário.

Jair Messias, então deputado federal, fez pronunciamento no plenário em defesa do bandido de estimação condecorado pelo filho 01. Anos depois, foragido da justiça e emitindo sinais de que poderia falar, Adriano foi morto.

Do eixo Rio/São Paulo para o resto do Brasil, as milícias sinalizam espalhamento. O assassinato de Nóbrega, em 2020, pela PM baiana, levantou suspeitas de queima de arquivo que nunca foram devidamente respondidas. Mortes que seguem.
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HOJE NA HISTÓRIA

Pintura do britânico William Turner, denunciando o massacre dos escravos no navio Zong


29 DE NOVEMBRO DE 1781 – No meio do Oceano Atlântico, 54 africanos, escravos em trânsito como, são jogados vivos ao mar pela tripulação do navio negreiro britânico Zong. Nos dias seguintes, mais 78 negros foram atirados às ondas. O objetivo da matança foi receber o seguro que haviam feito pela “carga”.
William Gregson, líder do Sindicato de Comércio de Escravos, e sócio do Zong, entrou com um pedido de indenização e resgate do seguro pela perda de 132 “peças” de sua carga de escravos comprados na África e que seriam vendidos no Caribe.
Graças à denúncia de um sobrevivente, Olaudah Equiano, o caso virou escândalo e grupos de opositores à escravidão entraram com petições na justiça britânica para impedir a indenização, denunciando o caráter criminoso da escravatura. No final da demanda, os criminosos não conseguiram receber o seguro, mas não foram presos. O caso contribuiu para a proibição, pela Inglaterra, do tráfico de escravos.
Leia mais em [https://www.bbc.com/portuguese/geral-55333175], [https://pt.wikipedia.org/wiki/Olaudah_Equiano], [https://arteeartistas.com.br/william-turner-o-precursor-do-impressionismo/]