Enio Lins

Acordo entre terroristas é positivo, mas não resolve o problema

Enio Lins 23 de novembro de 2023

Anunciado nos últimos dias, o acordo entre o governo de Israel e o governo de Gaza (leia-se Hamas) deve ser saudado como um flash de paz e vida em meio ao tenebroso cenário de guerra e morte no Oriente Médio.

É um bom acordo por libertar reféns de ambos os lados em combate, o que significa menos gente em sofrimento e sob ameaça permanente de morte. Os dias de trégua, se confirmados, também são muito bem-vindos.

Mas é indispensável não se acalentar ilusões sobre a possibilidade de uma paz duradoura entre quem apoie ou quem se oponha à política de ocupação total, colonização absoluta, do espaço palestino por Israel.

Israel não desistirá de dominar toda a região palestina, integralmente, do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão (no mínimo), aí inclusos o Mar da Galileia, o Norte do Mar Morto, e se apropriar de toda Jerusalém (o que já acontece).

Na Palestina, segundo a estratégia sionista, não existe nenhum lugar para palestinos. A atual população palestina superconcentrada em Gaza e dispersa na Cisjordânia está condenada (por Israel) à morte ou ao degredo.

Para a população palestina está colocado, desde 1946, um dilema simples e direto: aceitar perder toda sua terra ancestral em silêncio ou, se berrar, ser assassinada ou exilada. De nada valem as resoluções conciliadoras da ONU.

São letra-mortas todas as decisões da ONU, várias e meritórias, que se opõem aos interesses colonialistas e racistas dos sionistas. Nunca valeram ao longo de 76 anos de avanço, violento e incontido, de Israel sobre o território palestino.

Para o sionismo israelense, a palestina é o seu Lebensraum (Espaço Vital) – tese suprematista criada por Friedrich Ratzel, e ideologia transformada por Hitler em justificativa para a expansão territorial do III Reich, a partir de 1939.

Israel sionista aplica esse conceito do Espaço Vital (nazista) desde sempre, tornando extremamente letal a fusão das concepções do alemão Friedrich Ratzel (1844/1902), e do judeu Theodor Herz (1860/1904).

Voltaremos ao Lebensraum israelense em breve (exige mais espaço); mas, por ora, fiquemos na pauta da hora: a trégua passageira na matança, paz efêmera e elogiável, entre terroristas. Parabéns aos envolvidos, especialmente ao Catar, pela mediação.

.HOJE NA HISTÓRIA 


23 de novembro de 1694 – Em Londres, o intelectual, poeta e ativista John Milton (1608/1674) divulga seu manifesto, Areopagitica, condenando a censura. Esse panfleto é considerado o texto precursor do conceito moderno de Liberdade de Expressão.

Milton – que seria Secretário de Línguas Estrangeiras sob o governo republicano de Oliver Cromwell – protestava contra uma portaria aprovada pelo Parlamento Inglês, conhecida como Ordenação de Licença de 1643, ou Regulamentação da Impressão, exigindo uma licença aprovada pelo governo antes de que qualquer obra pudesse ser impressa.

Areopagitica, vocábulo criado por Milton, evocava Areopagitikos, título de discurso proferido no século IV a.C., pelo ateniense Isócrates (436 a.C./338 a.C.), grande orador tido como o “Pai da Retórica”. Areópago é o nome de uma colina em Atenas.

Wikipédia: “Milton destaca que o licenciamento foi instituído pela primeira vez pelos católicos com a inquisição. Este argumento apelou às crenças religiosas do Parlamento, uma vez que era dominado por protestantes e havia conflitos entre protestantes e católicos na Inglaterra. Milton fornece exemplos históricos das consequências após a Inquisição, incluindo como houve papas em Roma no início do século 14 que se tornaram licenciadores tirânicos”.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Areopagitica

https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Milton

https://pt.wikipedia.org/wiki/Is%C3%B3crates