Enio Lins
Palavras sobre Aline e Nara e o cinema alagoano
No filme “Casamento é negócio?”, rodado há noventa anos, se assiste a um discurso em que o cinema é visto como uma nova opção para a economia alagoana – sempre traumatizada com as amarras da hegemonia açucareira.
Além da cinematográfica alternativa, “Casamento é negócio?” aponta para os caminhos do turismo (com longas tomadas das lagoas e panorâmicas do então belo centro urbano de Maceió) e – destacadamente – do petróleo.
Nomes mais conhecidos daqueles tempos pioneiros, é-se indispensável citar o italiano Guilherme Rogato e o nativo Moacir Miranda, aquele o cinegrafista/diretor e esse o ator principal daquele longa-metragem dos anos 30.
CURTAS, SUPER-8 E CINEJORNAIS
Num pulo de três décadas, os anos 60 focam uma Alagoas teimando em produzir filmes, com destaque para uma garotada que fazia milagres com uma Super-8 na mão e muitas ideias na cabeça, além dalgumas tentativas de profissionalização.
Ressalte-se no quesito profissionalização, o trabalho da Caeté Filmes e de seu criador, o saudoso José Vanderley, que conseguia colocar seus “cinejornais” nas telonas dos cinemas maceioenses como o São Luiz.
Na seara do Super-8, campo da arte pura, era simplesmente o amor ao cinema a mola propulsora, e o começo dos anos 70 registrou produções importantes como “Casamento de uma Maria”, “Escadaria da Gal” e tantas mais.
“Mulheres Liberadas”, “A Volta pela Estrada da Violência” (Zé Vanderley e Adnor Pitanga), “Guenzo”, o inacabado “Calabouço” (Joaquim Alves), e “Ponto das Ervas” (Celso Brandão), foram tentativas profissionais dignas de elogios e registro.
Isso tudo sem falar em Cacá Diégues e a alagoanidade levada por ele para todas as suas produções – todas listadas dentre as melhores do cinema profissional brasileiro dos anos 60 até hoje, numa sequência de títulos de enorme sucesso.
ESTRELAS RADIOSAS DA HORA
Não é novidade, portanto, o êxito conquistado – nos dias em cartaz – por Nara Normande e Aline Marta. A diferença está na simultaneidade das premiações e do destaque (sem falar em Cacá Diégues, o decano) dessas duas belas criaturas.
Essas duas estrelas radiosas fazem parte de, pelo menos, duas gerações de gente brilhante no cinema alagoano contemporâneo, lista grande que aqui – por questão de espaço – apenas um nome será citado: Pedro da Rocha.
Aline e Nara são de gerações diferentes, coabitam o mesmo tempo com tempos de vida bem distintos, assim como experiências diferenciadas: Aline vem do teatro, dos palcos dos anos 70, e Nara é Século XXI, das praias para as telas.
Uma é atriz, outra diretora. Duas gênias. Aline, reconhecida por dois prêmios consecutivos como Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, e Nara conhecida pelas seleções para Cannes e Veneza, além do prêmio carioca.
Aline era a menina do Poço, mais precisamente da Bomba da Marieta, moradora num dos raros arruados nos limites entre as zonas urbana e rural de Maceió, perímetro onde – coincidência? – estava encravado o Cine Plaza.
Nara era a garotinha do território livre Guaxuma/Garça Torta, região povoada pelo sentimento hippie desde que a pioneira Regina Coeli desbravou o pedaço, logo seguida por Eduardo e Fátima (pais de nossa cineasta) e outros jovens casais de então.
Pois não é que aquele trecho Norte de Maceió sempre teve um pendão para as artes e para o cinema? Riacho Doce e adjacências foram cenários para “Casamento é negócio?”, Zé Lins lá ambientou seu romance famoso... Área de Aline e Nara.
Pois bem, queridas Aline e Nara – e todas as radiosas pessoas da sétima arte alagoana: sigam adiante. Vocês representam vitalidade, talento, renovação & permanência das artes cênicas e cinematográficas em Alagoas. Vocês são a sequência viva e criativa do discurso de abertura do seminal “Casamento é negócio?”. Vocês são a chance de um novo tempo.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.