Enio Lins
Gaza, Lídice & Lezaky: o nazismo redivivo
Em maio de 1942, a resistência antinazista na então Tchecoslováquia ocupada pelos alemães realizou um atentado contra os invasores, matando o oficial SS Reinhard Heydrich, Reichprotektor da Boêmia e Morávia.
Impactar o III Reich com o assassinato de um de seus mais proeminentes líderes nos países ocupados foi o objetivo dos resistentes tchecos; um grupo de militantes foi treinado e armado pela Inglaterra para essa missão.
Heydrich foi emboscado numa rua de Praga por dois ativistas, Jan Kubis e Josef Gabcik, que jogaram uma bomba no carro do comandante nazista. Atingido pelos estilhaços, o predileto de Himmler morreria dias depois.
Kubis e Gabcik foram localizados em 18 de junho, escondidos na Igreja de São Cirilo e São Metódio, onde resistiram à bala ao cerco da SS nazista e findaram mortos juntamente com outros combatentes, inclusive o bispo Gorazd.
Apesar da morte dos militantes tchecos (terroristas para os alemães), o alto comando nazista não se deu por satisfeito. Consideravam que a resposta ao ataque tinha de ser exemplar, para desestimular novos atentados.
Hitler determinou uma pesada represália à população civil da Tchecoslováquia como forma de punição “à altura”, deixando evidente a lição sobre as consequências do combate ao poder nazista nas áreas ocupadas.
Essas áreas ocupadas eram consideradas o “Espaço Vital” para os arianos, a raça superior que os alemães acreditavam ser, e a posse desses territórios que o nazismo cria como seus exigia a subjugação e “limpeza étnica” da população nativa.
Para dar uma lição capaz de inibir ações semelhantes, foram escolhidas as vilas de Lídice e Lezaky. À 22 km de Praga, Lídice teve todos seus moradores homens com idade acima de 16 anos assassinados. Todas as mulheres em Lezaky foram mortas.
Todas as mulheres em Lídice foram enviadas para campos de concentração. Ambas as vilas foram incendiadas e Lídice, depois de reduzida a escombros e cinzas, nivelada. Se estima que 1.300 pessoas tenham sido mortas.
Esse ensinamento nazista da retaliação desproporcional contra a população civil (por um ato agressivo de resistência) continua em voga. Gaza é a Lídice do século XXI.
HOJE NA HISTÓRIA
27 de outubro de 1965 – Castelo Branco, ditador de plantão desde 1º de abril de 1964, edita o Ato Institucional Número Dois, proibindo eleições diretas para a presidência da República e para as próximas escolhas dos governos estaduais, além de intervir no Poder Judiciário.
Com essa manobra, os militares golpistas deram mais uma rasteira em seus aliados civis, que já haviam tomado uma baionetada nas costas com a “transferência” da eleição presidencial programada para o começo daquele mês. Em 3 de outubro as urnas haviam acolhido os sufrágios para os demais cargos em disputa.
As candidaturas golpistas aos governos estaduais foram derrotadas em cinco estados, surpreendendo os militares, que resolveram abandonar a conversa mole que “queriam democracia”. Através do AI-2, assumiram a ditadura, processo autoritário coroado pelo AI-5 em 1968 (sob o general Costa e Silva, o novo ditador de plantão).
Logo após deixar a presidência, na espiral de radicalização militar, o marechal Castelo Branco morreu num suspeitíssimo “acidente aéreo” (em 18/07/1967), quando o pequeno avião em que viajava foi atropelado, em pleno ar, por um jato de guerra da Força Aérea Brasileira.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.