Enio Lins

A impunidade fardada e o crime muito organizado

Enio Lins 19 de outubro de 2023
A impunidade fardada e o crime muito organizado
Armas militares - Foto: Ilustração

Assunto assaz delicado, mas – até por isso – precisa ser abordado sem medo nem preconceito: a ligação de elementos militares com o crime organizado. Tema antigo, câncer que foi bastante ampliado nalguns momentos da história recente.

Momento mais expressivo nessa expansão altamente perigosa do crime organizado no meio castrense se localiza nos anos podres do regime militar implantado no País pelo golpe de 1º de abril de 1964, como exposto aqui antes.

Antes de relembrarmos essas questões, vamos ao motivo da repetição deste tema: o sumiço de 21 metralhadores de alto calibre, armas letais, subtraídas ao Arsenal de Guerra em São Paulo, no Quartel do Exército de Barueri.

No dia 10 deste mês, uma inspeção de rotina notou o desaparecimento de 13 metralhadoras antiaéreas calibre .50 e oito metralhadoras calibre 7,62 – equipamento, como o nome do arsenal ululantemente indica, de guerra.

Armamento fundamental para o crime (altamente) organizado, especialmente as .50, pois se supõe, como dito, por serem armas antiaéreas, capazes de abater aeronaves como os helicópteros usados pelas polícias.

Essa ocorrência se dá quando o governo federal – muito acertadamente – reduz a liberalidade estabelecida pelo desgoverno anterior para a compra de armas e munições, restringindo a desenvoltura bélica do crime organizado.

Nos anos 30, os cangaceiros usavam armamento de cunho militar, como as então moderníssimas e sempre sofisticadas pistolas luger parabelum, originalmente adquiridas pelas forças armadas brasileiras poucos anos antes.

Entre 1964 e 1985, essa sinergia entre farda e crime organizado pode ser localizada, apesar da rigorosa censura à imprensa, em casos como os do Capitão Guimarães – relato disponível em [https://pt.wikipedia.org/wiki/Capit%C3%A3o_Guimar%C3%A3es].

Quais respostas à altura foram dadas a esses crimes no passado? Quais militares, e de quais patentes, foram punidos por isso? O que se pode apostar como veredictos da Justiça Militar, ao fim e ao cabo, neste caso de Barueri?

Vejamos se o resultado dessa ocorrência será diferente dos processos movidos contra o Capitão Guimarães e seus parceiros (anos 70), e/ou contra o Capitão Jair Messias (anos 80), e/ou sobre as armas entregues aos cangaceiros (anos 30). Veremos.


HOJE NA HISTÓRIA

19 de outubro de 1960 – O governo dos Estados Unidos impõe “el bloqueo”, o bloqueio comercial contra Cuba, o mais duradouro embargo comercial, econômico e financeiro a um país em tempos modernos.

Baseado em discricionárias “leis” próprias (como a “Lei da Democracia Cubana”) o governo americano decidiu isolar Cuba do resto do mundo, cerco que se mantêm até hoje. Diz-nos a Wikipédia que o prejuízo de Cuba até 2015 seria (segundo Havana) na ordem de 121 bilhões de dólares. Em contrapartida, os Estados Unidos calculam em 8 bilhões de dólares suas perdas com os confiscos pelo governo cubano de empresas ianques na ilha.

Desde 1992 a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova, anualmente, uma resolução exigindo o fim do bloqueio econômico americano contra Cuba e apenas dois países votam contra: Estados Unidos e Israel. Contra todas as probabilidades das leis econômicas do capitalismo, Cuba sobrevive ao cerco há 63 anos.