Enio Lins

Quadrinhos sobre antigas tragédias ainda mortais

Enio Lins 14 de outubro de 2023

Mantendo em pauta semíticos temas, ousarei sugestões sobre histórias em quadrinhos. Isso mesmo: existem ótimas opções no formato HQ – Novela Gráfica abordando as várias trajetórias dos povos árabes, hebreus e outros menos lembrados.

Semitas são os povos fenícios, hebreus, árabes, amoritas, acadianos, assírios, sírios, caldeus, arameus, hicsos... equivocadamente, ou maliciosamente, o termo (e seu antônimo “antissemita”) é entendido como referente unicamente a judeus.

Bom, vamos lá: os livros seguintes podem ser encontrados em livrarias virtuais como a Amazon ou no sebo digital www.estantevirtual.com.br


VALSA COM BASHIR

Relato de Ari Folman, desenhado por David Polonky. Folman era soldado do exército israelense, em serviço, quando ocorreram os massacres contra palestinos abrigados em território libanês, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, matança realizada por terroristas libaneses, acobertados pelas forças armadas de Israel, em 1982.

Se estima que tenham sido assassinados 3.500 palestinos nos dois campos de refugiados, sendo a maioria das vítimas mulheres, idosos e crianças, em dois dias de assassinatos em massa, entre 16 e 18 de setembro de 1982.

Em 16/12/1982 a Assembleia- geral da ONU condenou o massacre declarando-o um ato de genocídio, por 123 votos a favor, 0 contra e 22 abstenções. Ariel Sharon, ministro da defesa de Israel, foi demitido por conivência com esse crime contra a humanidade.


NOTAS SOBRE GAZA

Escrito e desenhado pelo afro-americano Joe Sacco, o livro tem 418 páginas, publicado no Brasil pela Quadrinhos na Cia., em 2010. É uma reportagem extensa sobre a vivência do autor como jornalista, entrevistando pessoas palestinas de todas as idades e camadas sociais moradoras da Faixa de Gaza.

Obra de fôlego, mostra sem atenuantes o sofrimento e a luta da população palestina confinada num gigantesco campo de concentração. Dramas, opressões, resistência, debates internos e muita opressão sofrida pelos palestinos estão nas centenas de páginas detalhadamente desenhadas quadro a quadro.


O COMPLÔ

Com o subtítulo “A História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião”, um dos maiores artistas gráficos do mundo e ícone do desenho de histórias em quadrinhos, Will Eisner, criador do termo Graphic Novel, conta a história de uma das mais nocivas e longevas fake news de todos os tempos, o famigerado “Protocolos dos Sábios do Sião”.

Criado com a finalidade de incriminar a população de origem hebraica e justificar as perseguições contra o povo judeu (especialmente na Europa), esse documento, apesar de ser uma falsificação grosseira, foi largamente utilizado como material de propaganda antijudaica.

Will Eisner, americano do Brooklyn, filho de judeus migrantes do Império Austro-Húngaro, faz um detalhado relato histórico desde a invenção desta falsidade.

MAUS

Art Spiegelman, personagem icônico da contracultura americana, resolve entrevistar o próprio pai sobre a dramática história da família como judeus europeus sob a opressão nazista. Vladek e Anja, pais do artista, foram dos poucos sobreviventes dos campos de concentração alemães e migraram para os Estados Unidos, onde Art nasceu.

Diz a Wikipédia: “Críticos classificaram Maus como livro de memórias, biografia, história, ficção, autobiografia e uma mistura de gêneros. Em 1992, tornou-se o primeiro graphic novel (sic) a ganhar o Prêmio Pulitzer”.

Art declarou que fez o caminho inverso de Walt Disney, pois enquanto Disney humanizou os animais (como o camundongo Mickey e o pato Donald), ele “animalizou os humanos”, fazendo que os judeus (ele próprio inclusive) fossem ratos (maus, em alemão), os alemães gatos, poloneses viram porcos, americanos cães...