Enio Lins
Todos os terrorismos devem ser condenados
Muito, e com razões óbvias, se tem falado em terrorismo no Oriente Médio, especialmente em relação às recentes ações assumidas pelo grupo Hamas, quando alvos civis foram atacados letalmente. Mas essa classificação não pode ser unilateral.
Vejamos a definição da Wikipédia: “Terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, por meio de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, pânico e, assim, obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo o restante da população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas, grupos separatistas e até por governos no poder”.
TERRORISMOS A CONDENAR
Em coro, a quase totalidade da grande mídia tem acusado a resistência palestina, no caso em curso, de terrorismo. Corretamente, o Brasil se posicionou condenando os atentados contra a população civil de Israel.
Acertadamente, o governo brasileiro manteve a orientação diplomática de denominar como terrorista apenas os grupos que são considerados assim pela ONU, que não rotula – até agora – o Hamas como tal.
Informalmente, considerando os alvos civis e as visões gerais sobre terrorismo, a contraofensiva palestina poderia ser classificada como terrorista – mas isso exigiria semelhante designação para ações do governo israelense.
Há, pelo menos, 77 anos que praticamente todos os grupos, e até governos, no Oriente Médio, lançam mão, habitualmente, de meios que podem ser denominados de terroristas. Isto é fato e essa designação não pode ser seletiva.
Civis judeus e palestinos, inclusive crianças, têm sido vítimas de ataques sem chance defesa. Israelenses são trucidados por ações das organizações palestinas e palestinos são assassinados por ações do governo israelense.
UM HISTÓRICO DE TERROR
Em 22 de julho de 1946 foi cometido o primeiro grande atentado terrorista naquela região: a explosão do Hotel Rei Davi, em Jerusalém, cometido pela organização sionista Irgum Zvai Leumi contra a autoridade britânica.
Menachem Begin, então com 32 anos, e líder do Irgum, foi o terrorista assumidamente responsável pelo atentado contra o Hotel Rei Davi, causando a morte de 91 pessoas e ferimentos graves em mais 45 vítimas.
Esse atentado, impune, fez escola e o método tem sido reproduzido intensamente ao longo desses 77 anos. Tudo indica que seguirá sendo praticado pelo governo israelense e pelos grupos de resistência árabes-palestinos.
Posteriormente, Begin foi primeiro-ministro de Israel entre 1977 e 1983 e (juntamente com o presidente egípcio Anwar Sadat) levou para casa o Prêmio Nobel da Paz em 1978. Como se poder ver, o terrorismo pode compensar.
A INVERSÃO DE POSIÇÕES
Pode-se considerar a Faixa de Gaza como um gigantesco campo de concentração ou como um gueto, onde estavam confinadas (até estes recentes acontecimentos) 2,3 milhões de pessoas em uma tripa de 41x10 km.
Nesses 410 km² superpovoado e miserável, 2,3 milhões de palestinos sofrem sob Israel o que os judeus sofriam sob os nazistas nos guetos da Europa. E como os hebreus de Varsóvia, se revoltam e tentam reagir.
Entre 19 de abril e 16 de maio de 1943, o Gueto de Varsóvia se rebelou contra o poderoso exército nazista e a resistência judaica foi considerada pelos alemães como terroristas e o gueto arrasado. Mas deixou um exemplo.
Gaza está sendo arrasada pelo poderoso exército israelense. As ações do Hamas devem ser criticadas, mas não podem ser usadas como justificativa para transformar o Gueto de Gaza num campo de extermínio de famílias palestinas.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.