Enio Lins

A mulher dos museus e sua visão de futuro

Enio Lins 12 de agosto de 2023

Cármen Lúcia Dantas é a homenageada com a Medalha Nacional do Mérito Museológico, concedida pelo Conselho Federal de Museologia, na categoria Museóloga de Destaque. Ela merece. Merece essa e outras homenagens mais.

Desde os anos 70 atuando intensamente com a memorialística alagoana, seu nome se transformou em sinônimo da profissão. Se alguém pergunta por museus, a reposta é uma só: “Cármen! Procure Cármen Lúcia” – problema resolvido.

Para quem entenda a museologia como transferência de conhecimento entre gerações, democratização da história pelo testemunho material, ou a eterna juventude do fato relevante, ela é a maior, nesse ramo, por essas plagas.

Merece essa comenda, óbvio. Mas, igualmente, faz jus a lauréis por outras tantas questões, subjetivas, inseridas em seu papel de guardiã da memória e de espalhadora do saber. Mas, especialmente, merece por seu protagonismo.

OS MUSEUS E A MUSEÓLOGA

Sua obra referencial é o Museu Theo Brandão, ninho da antropologia e da cultura popular, ponto de encontro com algo ainda mais vasto que a vasta obra do Doutor Theo, o médico que dedicou a vida ao âmago da alma alagoana.

Das instituições museológicas que a tiveram como parteira, também se destacam (numa lista incompleta): Memorial Raimundo Marinho (em Penedo), Memorial Teotônio Vilela, Museu Pierre Chalita – só citando o que vem mais rápido à lembrança.

Cármen não se limitou aos museus, muito menos parou no tempo. Tem feito história há meio século, segue fazendo. É personagem viva, jovial e resplandecente da contemporaneidade, espalhando ensinamentos.

No caso da restauração do antigo Palacete dos Machado, sede do Museu Théo Brandão, ela deu uma lição de bom uso das verbas públicas e, ao concluir as obras, devolveu recursos economizados para a Caixa Econômica Federal.

Tão impressionada ficou a direção da Caixa com esse gesto, que devolveu a parte devolvida na forma de projetos complementares, cujo resultado manteve atuante e contemporânea aquela instituição durante mais de duas décadas.

PRAXIS TRANSFORMADORA

Ética, eficiência, racionalidade, zelo com a coisa pública, para Cármen, não são “coisas de museu” (no sentido pejorativo), e sim compromissos perenes, reais. Sua atuação exemplar nos vários cargos que passou merece mais medalhas.

Ela é uma radical serena. Sem ranços. Não é de berrar palavras-de-ordem, mas de sussurrar diretivas irrebatíveis. Defensora de bandeiras das mais importantes de nosso tempo, sabe fazer acontecer, sem alarde, sem estrelismos.

Nos recentes embates que sacudiram o Brasil, foi hábil e dura na defesa da Democracia, dos direitos humanos, da liberdade, dos espaços para as ditas minorias; na luta pela inclusão social, e contra toda forma de discriminação e opressão.

Em 2013, o ato de casamento com Cíntia Ribeiro foi o mais importante gesto em defesa da união legal entre pessoas do mesmo gênero em Alagoas, pela capacidade de furar as bolhas, de mostrar como é normal ser diferente.

Em Cármen Lúcia Dantas estão presentes os laços entre gerações, interligando, através dela e de sua vivência retransmitida, o legado dos ícones culturais dos anos 60 e 70, com gente do hoje. E, mais importante: interagindo com gente do amanhã.

Ah, sim: a museóloga em tela não é lembrança do passado, é portal para o futuro, no sentido de expor-se como exemplo de diversidade, tolerância, combatividade, ética, cidadania, e luta por um mundo melhor e menos desigual.

Parabéns, Alagoas, por ter Carmen Lúcia Dantas como uma das protagonistas da arte, da cultura, da memória viva e da Democracia – além dos museus, lógico.