Enio Lins
Na penumbra, um espectro emerge da cova da direita
Nos idos de 1981, um relatório cínico e ostensivamente mentiroso expôs à desmoralização parte do comando do exército brasileiro: foi o “Relatório Coronel Job Sant’Ana” sobre o atentado terrorista/militar (frustrado) no RioCentro.
Para quem não se lembra do escândalo, vai um resumo básico: em 1981, a edição carioca da festa pelo Dia do Trabalho estava sendo realizada na véspera do feriado, no RioCentro, e militares do exército tentaram colocar bombas no evento.
Mas uma dessas granadas explodiu no colo de um dos terroristas, o sargento Guilherme do Rosário, matando-o e ferindo gravemente seu cúmplice, o capitão Wilson Dias Machado. Outras bombas foram apressadamente retiradas depois do desastre.
Frente a tamanho escândalo, parte dos militares em posição de comando tentou montar uma farsa para proteger os dois terroristas e a si próprios (por óbvio envolvimento), numa sequência circense de trapalhadas.
Wikipédia: “No dia seguinte às explosões, o general Gentil Marcondes Filho, comandante do I Exército, determinou que o enterro do sargento fosse realizado com honras militares e, em um episódio incomum, fez questão de carregar uma alça do caixão”.
Parte das Forças Armadas se recusou a coonestar essa armação. O coronel Prado Ribeiro foi afastado por tentar levar a sério a investigação. Enfim, o tal Job aceitou a canga e conduziu um IPM hilário, concluindo que a dupla era vítima de “terroristas de esquerda”.]
Golbery do Couto e Silva, o general tido como o maior estrategista da direita brasileira, então ministro-chefe da Casa Civil, pediu demissão do posto por discordar dos rumos da palhaçada criminosa. O governo do general Figueiredo, lentamente, definhou.
Como disse Reinaldo Azevedo, apareceu um canhestro “inquérito militar”, de tom bolsonarista, sobre o 8 de janeiro de 2023, que é um novo “Relatório Job”. Repetindo-se como farsa da farsa, novamente querendo transformar criminosos em vítimas.
Apesar da parcela majoritária das forças armadas ter recusado o golpismo bolsonarista, existe uma banda necrosada que insiste em desmoralizar-se como instituição, persiste em abusar do poder, atentar contra a inteligência e a desrespeitar a Democracia.
HOJE NA HISTÓRIA
3 de agosto de 1645 – Ocorre a Batalha do Monte das Tabocas, travada entre a tropa da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais e uma milícia organizada por senhores de engenho pernambucanos, que ganharam a parada.
Com o fim da União Ibérica, em 1640, e a retomada da coroa portuguesa pelos portugueses, encerrando 80 anos de usurpação espanhola, a paz foi estabelecida com a Holanda (inimigos da Espanha). Nesse meio tempo os senhores de engenho nordestinos haviam acumulado dívidas com os holandeses, numa fortuna equivalente a 100 toneladas de ouro.
Com a paz, o grosso das tropas holandesas deixou o Nordeste, ficando apenas um pequeno grupo armado para proteger as empresas batavas que mantinham seus escritórios concentrados em Recife. Aproveitando essa oportunidade, os ricaços nordestinos inflaram suas milícias com escravos e índios (até então discriminados por eles) e botaram pra quebrar nos credores para não pagar o que deviam. É a “insurreição pernambucana” que desemboca na famosa Batalha de Guararapes. Ganhar a briga em Tabocas foi o passo decisivo para a vitória final dos caloteiros, que sacramentaram o xexo (seixo). Mais tarde, Portugal pagou (com o ouro brasileiro) essa pesada conta para evitar nova invasão holandesa.
Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_do_Monte_das_Tabocas
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.