Enio Lins

Afinal, quem mandou matar Marielle (e Anderson)?

Enio Lins 26 de julho de 2023

Na segunda-feira, 24, o noticiário nacional sacudiu-se com a divulgação de parte do depoimento, em delação premiada, de um criminoso envolvido no duplo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Fundamental é, inequivocamente, esse processo ter andamento mais objetivo e célere, pois o duplo assassinato exibe características de crime político que poderia ser o estopim de uma política de eliminação de adversários ideológicos.

Até prova em contrário, não existem elementos de mera disputa política (briga por votos, redutos, lideranças, denúncias, projetos...) que possam ter motivado o atentado fatal, assim como estão descartadas malquerenças pessoais.

Ideológica foi a motivação, ou não? Ideológica foi, por exemplo, a onda de ataques à vereadora depois de seu assassinato, desde as fake news sobre a vida de Marielle, e até a furiosa destruição das placas com seu nome. Ou não?

Por que tanto ódio a uma jovem vereadora? Por ser mulher? Por ser lésbica? Por ser de esquerda? Por ser negra? Por ser corajosa? Ou por ser uma mulher lésbica de esquerda, negra e corajosa? É a mesma coisa. Motivação ideológica.

Nesse caminho óbvio a investigação encontrará, indubitavelmente, mandantes ideológicos. Gente importante e que se sentiu protegida por circunstâncias especiais e favoráveis para o cometimento do assassinato que deveria servir de exemplo. Ou não?

Mas as investigações ainda não avançaram significativamente em direção a quem mandou matar Marielle e, por tabela, Anderson. Pelo divulgado anteontem, o depoimento se espalhou para os lados e para baixo, como escreveu Josias de Souza.

“Élcio Queiroz reivindica premiação judicial fornecendo detalhes que permitiram aos investigadores confirmar o que já se sabia. Olhando para dentro, Élcio confessou sua própria participação no crime”, avança o colunista da Folha.

“Virando-se para o lado, entregou o cúmplice Ronnie Lessa. Colaborando para baixo, apertou um pouco mais o nó no pescoço do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, já condenado em 2021 por obstruir as investigações”, segue Josias.

Como bem disse o jornalista, é necessário convencer o denunciante a apontar para o alto, indicar de onde veio a ordem para matar. Ou não?

HOJE NA HISTÓRIA


26 de julho de 1953 – Jovens revolucionários tentam derrubar a ditadura do general Fulgêncio Batista com um ataque ao Quartel de Moncada, em Santiago de Cuba. A investida é derrotada. Fidel Ruiz Castro, aos 27 anos, líder do grupo insurgente, é preso.

Derrotado militarmente, o ataque a Moncada se transforma, a médio prazo, numa vitória política contra a ditadura Batista. Os rebeldes sobreviventes são julgados. Fidel, na condição de advogado, faz sua própria defesa e seu discurso com as alegações finais, “A história me absolverá” se transforma num dos pronunciamentos mais importantes do Século XX.

A pressão política contra o regime de Batista termina forçando, dois anos depois, a anistia aos revolucionários, que partem para o exílio. Em dezembro de 1956, Fidel, seu irmão Raul, o médico argentino Ernesto “Che” Guevara e mais 80 jovens cubanos retornam clandestinamente à ilha e se embrenham na mata, ocupando o alto da Sierra Maestra. Depois de dois anos de guerrilha, conquistam o poder em 1º de janeiro de 1959.

https://brasilescola.uol.com.br/historiag/assalto-ao-quartel-moncada-revolucao-cubana.htm