Enio Lins

A escalada das cheias mais frequentes

Enio Lins 11 de julho de 2023

Aparentemente, a cada ano, a quadra chuvosa (abril, maio, junho, julho – podendo alcançar agosto) alaga mais em Alagoas. Essa constatação precisa ser respondida com ações públicas mais efetivas, mais antecipadas e planejadas em conjunto.

Esse processo natural é velho conhecido e, rezam as lendas urbanas e rurais que grandes enchentes se repetem a cada 10 ou 11 anos, nos mesmos locais, esborrando a partir dos vales do Mundaú e do Paraíba. Sem esquecer o sertanejo Ipanema, lógico.

Quem tem mais de seis décadas no lombo se lembra da grande cheia de 1969, que praticamente engoliu São José da Laje e devastou todo Vale do Mundaú. Lembrar-se-ão também esses ex-jovens do fenômeno – anual – dos “flagelados”.

Todo ano, até o começo dos anos 80, com a construção do Dique-estrada, a Lagoa Mundaú teimava em se alargar e alagar com força, avançando, em Maceió, sobre as humildes moradias que ocupavam sua orla, desabrigando centenas de famílias.

Recolhidas às baias do Parque da Pecuária, os “flagelados” ocupavam, por semanas, as áreas projetadas para bois e cavalos; quando as águas recuavam, avançavam de volta para o que havia restado de seus casebres e no ano seguinte, a coisa se repetia.

Uma vez edificado, o Dique-estrada acabou com as enchentes ao longo de sua extensão, é certo, mas – obviamente – não reduziu a miséria que segue flagelando boa parte dos moradores da beira da lagoa (tema para outro comentário).

É de se perguntar: um dique é boa solução ambiental? No trecho em que foi construído, aparentemente, resolveu o problema das enchentes. Pode ser usado, sem causar alterações significativas à Natureza noutros locais?

E qual o impacto ambiental dos muitos aterramentos em áreas alagadiças que têm sido feitos para o acomodamento de loteamentos de luxo especialmente na área da grande Maceió e do complexo estuarino dos canais e lagoas?

Certo é que não se pode entender essas cheias periódicas como problemas restritos às prefeituras. Se faz indispensável um plano estadual, e apoio federal, para uma intervenção ampla e eficaz que proteja as comunidades ribeirinhas e lacustres.

Certo é que no próximo ano teremos chuva novamente.

HOJE NA HISTÓRIA


11 de julho de 1804 – Duelo entre o vice-presidente dos Estados Unidos (Aaron Burr) e o ex-secretário do Tesouro americano (Alexander Hamilton), que resultou na morte de Hamilton e no fim da carreira política de Burr.

Ambos eram lideranças importantes na consolidação dos Estados Unidos como república e país em franco desenvolvimento. Opositores ferrenhos, chegaram ao duelo como ápice de duras disputas políticas que evoluíram para inimizade pessoal visceral.

Mais habilidoso, Hamilton havia imposto revezes importantes a Burr, como a sua escolha para vice-presidente e não presidente (as primeiras eleições presidenciais americanas eram decididas mesmo no Colégio Eleitoral) e, em seguida, manobrou para uma segunda derrota do adversário na disputa pelo governo de Nova Iorque.

Acusações de Hamilton contra Burr, levaram a este desafiar aquele para o duelo. A prática já havia sido colocada fora da lei, mas continuava sendo praticada clandestinamente. A arma escolhida foi pistola. Ao serem autorizados a disparar, Hamilton atirou para o alto, num convite ao desafiante a fazer o mesmo, mas Burr mirou e acertou.

Atingido no abdômen, Hamilton morreu dias depois. Burr, depois desse fato, não conseguiu mais sucesso na carreira política. Sobre ele existe uma excelente biografia romanceada, escrita por Gore Vidal (Burr, Editora Rocco, 1999), onde o genial escritor descreve, implacavelmente, as mesquinharias do processo de construção do gigantesco Estados Unidos da América.

https://www.greelane.com/pt/humanidades/hist%C3%B3ria--cultura/duel-between-alexander-hamilton-aaron-burr-104604/

https://pt.abcdef.wiki/wiki/Burr%E2%80%93Hamilton_duel

https://www.amazon.com.br/Burr-Gore-Vidal/dp/8532509886