Enio Lins

Culto aberto à intolerância e ao crime

Enio Lins 06 de julho de 2023

Conforme divulgado ontem, o MP abriu formalmente uma investigação contra um cidadão que se apresenta como “pastor evangélico” e que, durante um “culto” amplamente divulgado nas redes sociais, pregou o assassinato de homossexuais.

De fato, nos trechos disponíveis na internet, é evidente a incitação ao homicídio de pessoas não-binárias, inclusive com o “pastor” insistindo na pergunta sobre o que os fiéis fariam para cumprir aquela “palavra de Deus”.

Relembrando: o “culto” foi realizado num “templo”, localizado na cidade americana de Orlando, de uma seita denominada de “Igreja Batista da Lagoinha” e transmitido para o Brasil; o “pastor” inicia a peroração condenando o casamento homoafetivo.

Falando como se fosse Deus, o sujeito diz “se Eu pudesse, Eu matava todo mundo e começava tudo de novo. Mas, prometi para Mim mesmo que não posso, então, está com vocês” – e completa: “Vamos para cima! Eu e minha casa serviremos ao Senhor!”.

Como era de se esperar, e essa foi a intenção, a fala criminosa se espalhou freneticamente, como fogo morro acima, pelas redes sociais, multiplicando a divulgação do nome do indivíduo (que não será repetido aqui) como vírus contagiante.

Em qual contexto cai e rola essa fala? Num Brasil que, em dados de 2021, é considerado o país onde mais se mata pessoas da comunidade LGBTQIA+ no mundo – dados divulgados pelo Instituto Sou da Paz. As estatísticas, independente do ranking, são dantescas.

Segundo o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, em 2021, foram registrados 316 assassinatos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, intersexuais – e outros – no Brasil. O número pode ser maior, pois nem todos esses crimes são registrados assim.

Mais preocupante fica o quadro quando, nos últimos anos, a pregação contra toda existência não-binária assumiu ares de poder constituído, com “celebridades” governamentais garantindo que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”.

Notícias sobre violências e assassinatos contra pessoas LGBTQIA+ são abundantes em todas as mídias. Acintosamente, esse terror cresce no Brasil.

Menosprezar essa tragédia é um crime hediondo, assim como é criminoso e covarde considerar esse tipo de fala como “liberdade de expressão” e/ou “liberdade religiosa”.

HOJE NA HISTÓRIA


6 de julho de 1917 – Tropas formadas por rústicos guerreiros do deserto invadem a cidade de Aqaba (porto no Mar Vermelho), derrotam os poderosos turcos otomanos e garantem a posse para os britânicos de um ponto estratégico nos combates da I Grande Guerra Mundial.

No “assessoramento técnico” das tribos beduínas estava o oficial inglês Thomas Lawrence. A liderança nativa foi do beduíno Auda abu Tayi, sheik da tribo Howeitat – nômades que circulavam por onde hoje é a Arábia Saudita.

Lawrence (discriminado pelos colegas de farda como suposto homossexual) costurou uma aliança militar tida como improvável até então, conseguindo que Auda abu Tayi mudasse de lado, renunciando ao acordo com os otomanos e enfileirando-se junto aos britânicos e ao então emir Faiçal, futuro rei árabe da Síria (1920) e do Iraque (1920/1933). Esse momento histórico foi relatado nas memórias de Thomas Lawrence, no livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”, mais tarde usado como base para o épico “Lawrence da Arábia”, magnífico longa-metragem dirigido por David Lean, com Peter O’Toole no papel de Lawrence, Alec Guinness como o príncipe Faiçal e Anthony Quinn na pele de Auda abu Tayi.

Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Aqaba