Enio Lins
Garimpo ilegal na Amazônia: um crime maior que o tráfico
Um dos maiores prejuízos sofridos pelo Brasil durante o quadriênio do crime, entre 2019 e 2022, está nos efeitos diretos e indiretos do garimpo ilegal de ouro, que se fortaleceu e se expandiu de forma avassaladora na Região Amazônica.
Como se não bastassem as denúncias da assassinatos, prostituição e corrupção que minaram, com mais crueldade ainda, as tribos que têm o azar de estar na área do ouro, o envenenamento pelo uso do mercúrio cresceu vertiginosamente.
Diz a midianinja.org, citando estudo da Fundação Oswaldo Cruz: “os resultados alarmantes revelam que todos os seis estados amazônicos apresentam níveis de contaminação [com mercúrio] acima do limite aceitável estabelecido pela OMS”.
Em 2022, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) alertou para a contaminação ampla nos rios Madeira, Tapajós, Tocantins, Xingú e Negro, que alcançaram “níveis alarmantes e máximos” do terrível mercúrio em suas águas.
Chamando a atenção para “34 estudos concentrados nas bacias dos rios Tapajós, Tocantins e Madeira” a ABRAN denunciou a contaminação humana nas ribeiras “com Mercúrio (Hg) com níveis de 2 a 10 vezes maiores que o limite recomendado”.
Essa contaminação em massa é mais um subproduto criminoso de uma atividade criminosa: o garimpo ilegal – que, sem quaisquer fiscalizações nem controle, usa técnicas superadas (e baratas) para obter o máximo de lucro sem ligar para a saúde alheia.
Não foi inventado o garimpo ilegal pelo desgoverno passado, sim. Mas é certo que o mito, bandido visceral, estimulou mais essa atividade criminosa sob seu manto, chegando a receber representantes das quadrilhas que atuam nessa área.
Considerar o garimpo ilegal como atividade criminosa com periculosidade superior ao tráfico de drogas é questão que se impõe e com muita urgência. Aí vem o mimimi: “Ain, essa garimpagem oferece milhares de empregos...”. O tráfico também!
Oferecer empregos informais, e em enorme quantidade, é característica do crime organizado. Traficar, assaltar... empregam rios de gente. Matar por encomenda garante o pão de quantas pessoas? Mas por isso deve ser tolerado?
Traficar, assaltar, contrabandear, contaminar, matar por encomenda – esses são os traços do garimpo ilegal (há séculos!), mal que explodiu entre 2019 e 2022. Ou se torna alvo de um duro, e permanente combate policial, agora, ou nada os deterá.
HOJE NA HISTÓRIA
7 de junho de 1494 – Assinado, entre os reinos de Castela (Espanha) e Portugal, o Tratado de Tordesilhas, dividindo o Novo Mundo (descoberto e a descobrir) entre essas duas potências marítimas, as maiores de sua época.
Diz a Wikipedia sobre o Tratado: “(...) estabelecia a divisão das áreas de influência dos países ibéricos, cabendo a Portugal as terras ‘descobertas e por descobrir’ situadas antes da linha imaginária que demarcava 370 léguas
(1.770 km) a oeste das ilhas de Cabo Verde, e a Castela as terras que ficassem além dessa linha”
Segue a enciclopédia virtual: “Como resultado das negociações, os termos do tratado foram ratificados por Castela a 2 de julho e, por Portugal, a 5 de setembro do mesmo ano. Contrariando a bula anterior de Alexandre VI, Inter Coetera (1493), que atribuía a Castela a posse das terras localizadas a partir de uma linha demarcada a 100 léguas de Cabo Verde, o novo tratado foi aprovado pelo Papa Júlio II
em 1506”.
Como se sabe, os portugueses, muito sabidos e ousados, “furaram” a linha de corte de Tordesilhas e foram alargando à Oeste suas possessões. E deu no que deu: um Brasil do tamanho do bonde e a maior parte Amazônia para tomarmos conta.
Tamanha foram as mexidas que, em 1750, um novo acordo, o Tratado de Madrid, substituiu o defasado (literalmente) Tordesilhas. Outra fronteira, diferenciada, foi definida entre Portugal e Espanha na América do Sul, usando agora marcos geográficos como rios e montanhas.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.