Enio Lins

Com sua ginga, o craque maior precisa entrar no jogo

Enio Lins 01 de junho de 2023

Há algumas semanas, colunas e colunistas têm insistido na necessidade de uma maior atenção de Lula ao Congresso. Observação pertinente: o presidente, líder inconteste de massas, precisa se chegar à batalha parlamentar. Ou o caos será irreversível.

Desde 3 de outubro está definido o perfil do parlamento federal (e dos estaduais). Afinal, não existe segundo turno para o Legislativo. A centro-direita e a direita ganharam a maioria das cadeiras e até várias estrelas da extrema-estupidez foram agraciadas.

Esquerda e centro-esquerda são minoria no Congresso. Ponto. Isso é público e notório desde que as urnas eletrônicas, eficientíssimas, expuseram seus números – há oito meses. É ruim para o governo, mas não precisa ser tragédia, pois para tudo tem jeito.

Política existe exatamente para dar jeito, para criar soluções onde a aritmética básica encalacra com algo como a impossível raiz de índice par para número negativo. A política inventa o número complexo e a raiz quadrada de -4 passa a ser 2i. Oquei?

Não existe problema intransponível para arranjos produtivos entre um governo de centro-esquerda e parlamentares de direita e centro-direita. Lula fez essa engenharia de forma brilhante nos dois mandatos anteriores. Não pode ter esquecido o modus operandi.

Existem novos vícios, sim. Foram sintetizadas entre 2016 e 2022 substâncias turbinadas, mas das mesmas drogas. Uma Cracolândia política foi estabelecida e não será dissolvida no cacete nem no grito – paz, amor e carinho são indispensáveis.

Lula precisa ser essa mensagem de paz, amor, carinho e doses detoxes. Dentro da lei e da ordem, mas com compartilhamento de espaços e de recursos, pois quem se viciou no Orçamento Secreto não se desintoxica “de grátis” nem a pau.

Sem firulas: causas como as ambientais, indígenas, igualdade de gênero, direitos humanos... só serão aprovadas por esse Congresso com votos da direita e da centro-direita. Sem isso, nada feito. Todo mundo sabe disso desde 3 de outubro do ano passado.

Para conseguir esses votos é necessária Política com P maiúsculo. Nem mesmo verbas (polpudas) alcançarão sozinhas esse objetivo. Lula da Silva, o Presidente Lula, precisa entrar em campo, correr, suar no gramado do Congresso – ou o Brasil perderá esse jogo.

HOJE NA HISTÓRIA


1º de junho de 1808 – Impresso em Londres, e de lá enviado para o Brasil, começa a circular o primeiro jornal brasileiro: Correio Braziliense, também intitulado Armazém Literário. Rodou 175 edições mensais, por 14 anos, até 1º de dezembro de 1822.

Não deve ser confundido com o jornal homônimo criado em Brasília, por Assis Chateaubriand, no dia 21 de abril de 1960, coincidindo – não por acaso – com a inauguração da nova Capital federal, e que (felizmente) circula ainda hoje, 63 anos depois.

Fundado por Hipólito da Costa, residente na Capital britânica, o Correio Braziliense original foi planejado num momento em que a impressão de livros e jornais era proibida no Brasil. No mesmo ano da criação do mensário, a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro faria com que o antigo veto fosse posteriormente abolido; mas o jornal já estava com tudo pronto para ser impresso em Londres e assim foi feito.

Na época o gentílico não estava definido. Hipólito da Costa era ligado à corrente vernacular que considerava “brasiliense” quem aqui nascia com raízes estrangeiras (europeias); “brasileiro/brasileira” seria pessoa estrangeira aqui residente; e a gente originária (indígenas) seria “brasiliano/brasiliana”. E mais, na ortografia da época, Brasil era com z.