Enio Lins
O crime não pode ser premiado
Questão essencial, no imbróglio Braskem x povo alagoano, foi colocada pelo deputado Alexandre Ayres em projeto de lei: a área forçadamente adquirida à população dos bairros afetados pela mineração não pode mais ter uso comercial.
Essa definição é fundamental porque garante que a empresa causadora na maior tragédia ambiental brasileira, responsável pelo deslocamento compulsório de milhares de famílias de suas casas, não venha obter lucros nessa operação de reparação.
Caso a imensa área hoje despovoada possa vir a ser renegociada no mercado imobiliário, a empresa mineradora será premiada, e potencialmente muito bem remunerada, por um delito que prejudicou toda uma cidade.
Imaginem o valor da disponibilidade para negócios imobiliários na vasta área hoje interditada. A própria evidência de lucros poderosos moverá céus e terras para, em alguns anos, o perímetro temerário venha a ser liberado para uso residencial.
É impossível essa liberação? Não, pelo contrário. As obras de preenchimento das cavernas e outras mais atitudes nesse sentido visam “desperigar” a área. Procuram afastar a ameaça, hoje assustadora, provocada pelos ocos antes cheios de sal-gema.
Eliminar os riscos, reduzir a níveis aceitáveis as possibilidades de desabamento dos poços de extração (agora desativados) é o objetivo desse esforço. Independente do uso que venha a ser dado à área, esse espaço precisa ser salvo do desastre.
Então tá. Todo mundo torce para o perímetro ficar fora de perigo. Alguém quer um cataclisma, com o engolimento de uma casa que seja? Lógico que ninguém em sã consciência acalenta isso. Todo mundo quer salvar o que foi Bebedouro, Cambona, Pinheiro, Jardim Acácia...
Uma vez salvo, esse vasto território compreende uma maravilhosa margem de lagoa, encostas fantásticas, uma crista de tabuleiro com vistas extraordinárias e um platô com área (originalmente) repleta de pequenos lagos naturais. Quanto vale?
Pergunta-se: quem vai se beneficiar – depois da desgraça alheia – da graça de ter algo como 2,4 km² nesse solo urbano privilegiado? É uma boa ideia o uso público, coletivo, reserva natural preferencialmente mantida por quem causou o problema. Alguma outra sugestão?
HOJE NA HISTÓRIA
19 de maio de 1848 – Invadido e derrotado pelos Estados Unidos, o México ratifica o Tratado de Guadalupe Hidalgo, entregando metade de seu território aos americanos.
Com essa pilhagem homérica cometida contra o México, os Estados Unidos aumentaram sua extensão territorial em mais 25%, abocanhando (inteiros) os atuais estados da Califórnia, Nevada e Utah; e mais parcelas de áreas mexicanas que são incorporadas a outros quatro estados americanos (Colorado, Arizona, Wyoming e Novo México).
Consequência direta da doutrina do “Destino Manifesto” que garantia Deus ter concedido aos americanos a missão de “civilizar” o mundo, as tropas estadunidenses invadiram o México em 1846, que resistiu por dois anos, capitulando em 1848 e perdendo ‘uma área total de 1,36 milhões de quilômetros quadrados.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.