Enio Lins

“Que se espalhe e se cante no universo”: Camões é pop!

Enio Lins 26 de abril de 2023

Que satisfação ver o Brasil de volta ao mundo civilizado, como se viu na solenidade do Prêmio Camões, finalmente entregue a Chico Buarque, depois de quatro anos dormitando nos escaninhos da organização dos países lusófonos, em Lisboa.

Que honra em saber da realização da solenidade de recebimento do Prêmio Camões às vésperas da notável Revolução dos Cravos, levante que derrubou a ditadura salazarista e devolveu a Democracia ao povo português no dia 25 de abril de 1974.

Que alegria lembrar da “Fado Tropical”, composta por Chico em 1973, junto com o moçambicano Rui Guerra, para a peça “Calabar, o elogio da traição”, com as premonitórias estrofes “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal/Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!”

Que reconforto refletir sobre as trajetórias dos povos do Brasil, de Portugal, e dos demais países lusófonos, constatando a dureza das lutas contra as ditaduras daqui e d’além-mar, comprovando as vitórias tão sofridas e tão valiosas da Democracia.

Que entusiasmo ao reconhecer que a obstinação na luta (em frente ampla) contra a opressão e o autoritarismo, contra todas as formas de nazifascismo, tem se multiplicado e impingido repetidas derrotas a esses monstrengos reacionários aqui, em Portugal e alhures.

Que esperança renovada no avanço civilizatório ao registrar a presença, no emblemático e aristocrático Palácio de Queluz, de pessoas com ideias e ideais populares, antes vítimas das perseguições mais rasteiras praticadas pelas forças retrógradas lusas e brasileiras.

Que júbilo constatar a continuidade desse belo projeto, iniciado em 1988, pelo presidente do Brasil, pelo presidente e pelo 1º ministro de Portugal, respectivamente, José Sarney, Mário Soares e Cavaco Silva. São 35 anos de valorização cultural lusófona.

Que venham mais deste prêmio! Pois como Camões dizia n’Os Lusíadas: “Que a tamanhas empresas se oferece, / De soberbo e de altivo coração, /A quem Fortuna sempre favorece, / Pera se aqui deter não vê razão” – vamos em frente: Avante, camaradas!

HOJE NA HISTÓRIA


26 de abril de 1937 – Guernica, pequena vila basca, é bombardeada por aviões nazistas em apoio aos fascistas espanhóis comandados pelo Generalíssimo Francisco Franco.

Sob o comando de Wolfram von Richthofen, oficial aviador nazista e futuro Marechal-do-Ar, uma esquadrilha da Legião Condor usou Guernica como “laboratório” para testar o poder do fogo da força aérea germânica em franca e ilegal reconstrução. Pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha não poderia ter aeronaves militares.

Em seu diário de bordo, von Richthofen anotou: “Guernica queimando”. O bombardeio chocou a opinião pública por sua ferocidade, num “trailer” do que viria a acontecer na II Guerra, antecipando o poder letal da Luftwaffe. O mundo foi impactado pelo fato do povoado ter sido arrasado mesmo sem ser um alvo militar legítimo, vitimando apenas civis.

Pablo Picasso, em protesto, pintou o mural “Guernica” que se tornou um dos maiores ícones das artes plásticas em todo mundo. Com a vitória dos fascistas na Guerra Civil, em 1939, o pintor mandou a tela para Nova Iorque, evitando sua destruição, com o compromisso de que ela deveria voltar à Espanha só depois do fim da ditadura franquista, o que se concretizou em 1981, seis anos após da morte de Franco e 44 anos depois do massacre.


Ler mais em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guernica_(quadro)
e https://vermelho.org.br/2014/04/27/bombardeio-de-guernica-77-anos-depois/