Enio Lins
Bairros em afundamento e ações de reparação a levantar
Ricardo Mota, o mais contundente dos colunistas políticos alagoanos, sempre avaro em elogios, foi preciso ao avaliar que “o senador Renan Calheiros tem sido o mais competente adversário político da Braskem, por esses dias”. Sem deixar de cutucar, alfinetou a demora em entrar em campo, mas destacou que “chegou para ficar”.
“Ele tem se dedicado com intensidade na defesa das vítimas da mineradora de Alagoas, sugerindo um novo alento a quem teve as suas vidas destruídas. Além do mais, e talvez principalmente, ele cobra da empresa os prejuízos causados aos cofres públicos desde que foi detectado o afundamento”, escreveu Mota no Cada Minuto.
De fato, a entrada do experiente Renan trouxe para a questão Braskem x Comunidade um tom diferenciado, não só por ser mais incisivo localmente, mas pela capacidade superior de repercussão nacional dos posicionamentos do senador. Há de ser considerada, pelas partes, a eficiência do megafone muriciense.
Muitas são as questões candentes, em suspenso, na relação entre a grande empresa e a população atingida, naturalmente com destaque para quem teve de deixar para trás seu patrimônio localizado nas áreas com risco de afundamento. Mas, se essas pessoas são as principais vítimas, não são as únicas, existem prejuízos outros.
Precisam ser considerados os danos econômicos gerais, os malefícios ambientais, os transtornos urbanos, as perdas culturais. Os incentivos concedidos afundarão também? Os empregos irão para o buraco? O que será feito na área adquirida? Como ficará o patrimônio histórico, artístico e cultural do perímetro afetado? E o impacto ecológico?
Mesmo identificado tardiamente, o desastre foi detectado antes de causar vítimas fatais, isso é muito importante. Reavaliar e corrigir as indenizações é a missão do momento, assim como, ainda em tempo hábil, formular um plano estratégico com projetos reais para as áreas econômica, ambiental, urbana e cultural. Antes que alguma caverna desabe.
HOJE NA HISTÓRIA
20 de abril de 1862 – Louis Pasteur e Claude Bernard divulgam, em Paris, os resultados de suas pesquisas desmontando as teorias da “geração espontânea”, que consideravam o surgimento de novas formas de vida a partir de materiais orgânicos e/ou inorgânicos.
Mito muito antigo, a Abiogênese assegurava que seres vivos, como vermes, se originariam espontaneamente de matéria orgânica em decomposição, e até insetos nasceriam de flores, formigas e cupins brotariam do solo – todos esses seres sem progenitores.
Várias contestações a essa tese, criacionista em essência, foram apresentadas na Europa, pelo menos desde o Século XVIII, como tentaram provar Francesco Redi, em 1668, e Lazzaro Spallanzani, em 1770. Mas apenas as demonstrações apresentadas por Pasteur e Bernard foram plenamente aceitas, reconhecidas como irrefutáveis.
Mesmo assim, tal qual a estultice terraplanista, a asneira da tese da geração espontânea ainda povoa mentes em pleno Século XXI.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.