Enio Lins
Uma lição que não é dever de casa e precisa ser resolvida na sala
Nos Estados Unidos, os ataques letais às escolas são uma tragédia nacional em preocupante frequência, agravado pela absoluta licenciosidade com a posse e porte de armas. Essa calamidade americana está sendo copiada no Brasil.
Em território americano, entre 1970 e 2022, se contabilizam 2.054 ocorrências, segundo divulgado pelo Centro de Defesa e Segurança Interna da Escola de Pós-Graduação Naval em Monterrey, Califórnia. Uma chacina a cada nove dias.
No Brasil, esse tipo de atentado se faz notar desde 2002, e 25 ocorrências estão registradas a partir daquele ano, mas esse desfortúnio explodiu nos dois últimos anos, com 16 ataques concentrados de 2020 para cá – ou seja, 64%.
Evidentes estão os elementos responsáveis por tamanha multiplicação de casos: a disseminação do discurso de ódio, e sua massificação nas redes sociais. A anarquia no acesso às armas concedida pelo governo passado ainda não se refletiu nesse cenário.
Como a enxurrada de armas e munições tem sido direcionada para abastecer o crime organizado, nem todos os psicopatas de escolas tiveram acesso aos revólveres, pistolas e fuzis que choveram no Brasil. Facas e machados têm sido usados.
“Treinado para matar”, entretanto, é um sentimento que grassa entre os assassinos potenciais, mormente homens jovens, brancos e associados às teses odiosas da extrema-direita e – sem exceção – ligados às redes sociais apologistas da violência.
Esse sentimento se espalhou pelo Brasil, com força desmesurada, desde a campanha presidencial de 2018 e deslanchou com a eleição do tal mito, energúmeno defensor da tortura com opção preferencial para a matança. Virou febre.
Escolas são alvos fáceis para esses psicopatas estimulados, excitados, pela odiosa verborragia. No ambiente escolar estão pessoas absolutamente vulneráveis. Basta chegar e ir matando, mesmo sem o treinamento para matar que tanto orgulha o mito.
Em menos de um mês, contando a partir de 27 de março, quando um aluno de 13 anos esfaqueou várias vítimas e matou uma professora de 71 anos numa escola em São Paulo, sucederam-se mais dois ataques, com mais quatro assassinatos.
Sem contar com essas tragédias recentes, 30 pessoas morreram em atos semelhantes: 23 estudantes, cinco professores e dois funcionários. É uma tragédia, um desastre nacional que exige combate imediato, duro, permanente e amplo.
HOJE NA HISTÓRIA
14 de abril de 1865 – Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos, é vítima de um atentado à bala, cometido por um conservador revoltado pelo fim da escravidão e pela derrota dos escravocratas na Guerra Civil Americana.
Assassinar também o vice-presidente Andrew Johnson fazia parte do plano original dos terroristas, que chegaram a pensar na alternativa de sequestrar Lincoln para exigir como resgate a liberação de prisioneiros sulistas (escravocratas).
Apesar das ameaças dos “homens de bem” derrotados na Guerra Civil, Lincoln compareceu, praticamente sem escolta, ao Teatro Ford, em Washington, para assistir a uma peça chamada “Nosso primo americano” (Our american cousin).
No intervalo, o guarda-costas do presidente saiu do teatro para tomar um gole na esquina (juntamente com o cocheiro) e o terrorista, que estava de olho e conhecia os meandros do teatro por ser ator, entrou no camarote e atirou à queima-roupa.
Atingido na nuca, Abraham Lincoln foi socorrido com vida e resistiu até o dia seguinte. O terrorista fugiu da cena do atentado, sendo localizado e morto 12 dias depois.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.