Alisson Barreto

O efeito coringa e os ataques a escolas

Alisson Barreto 06 de abril de 2023
O efeito coringa e os ataques a escolas
O efeito coringa e os ataques a escolas - Foto: Alisson Barreto

O efeito coringa e os ataques a escolas


Houve uma época em que os jovens assistiam a Batman e motivavam-se à superação e à defesa do correto. Nas entrelinhas dos filmes, viam-se vilões, que se divertiam em ver e fazer “o circo pegar fogo”. E nos noticiários atuais da vida real, vê-se nas notícias de covardes ataques, a multiplicação de tais tragédias. É o contágio do mau pela notícia do mal. Afinal, as escolhas diante dos fatos geram novos fatos.


O que diferencia um Batman de um Pinguim ou Coringa?



Nas histórias de heróis como o Batman e vilões como o Pinguim ou o Coringa, percebe-se a ocorrência de situações traumáticas. É claro que há ao menos uma versão em que um dos vilões desenvolveu uma patologia mental, como se um certo limite de tolerância a traumas tivesse sido suplantado. Mas o caso de um herói como o Batman, que viu seus pais serem mortos diante de seus olhos e sofreu uma experiência traumática de cair em um poço repleto de morcegos, reagiu ao trauma fazendo-se mais forte que o medo da situação traumática, transformou a causa do trauma em motivo de superação, causa de reação positiva.


Muitas pessoas passam por situações difíceis, mas do chamado livre arbítrio brota a execução da escolha pela liberdade ou pela libertinagem.


O que mudou no mundo ultimamente?



Parece-nos haver uma escalada da admiração por vilões, lampiões da história atual. Soam ecoar anseios por interprestar papéis de vilões não apenas nas ficções de teatros ou televisões como também nos ataques escolas e creches. É como se as pessoas de hoje preferissem brincar de ladrão, em vez de polícia, ou viver a vida de polícia para se sentir forte e não para defender o fraco.


É como se, de um lado, uma parte da sociedade fomentasse um anseio pela lei do mais forte, em vez de um mover-se à solidariedade; um orgulho pela covardia, em vez do humilde estender a mão. E como se, por outro ângulo, um estender a mão a um justificasse um ilícito puxar algo de outro. Parece-me que, nos dois lados da moeda, enquadrar-se de um ou do outro lado motivasse ou justificasse ser injusto contra o outro.


O que há de espiritual nisso?



Na sociedade há dois aspectos que convém serem observados: o das escolhas do livre arbítrio e o da submissão ou não a ideologias.


As escolhas do livre arbítrio podem ser por optar pela liberdade do amor libertadoramente cristocêntrico ou pela escravidão do pecado, que é um agir “contra caritas” ou em desamor.


Nota-se, na sociedade atual, um empenho em polarizações, ou lado A ou lado B, reduzindo pessoas a enquadramentos sintéticos e preconceituosos elaborados por grupos de manipulação. Pelo visto, parte da humanidade está a esquecer-se de quem é o Diabo e segui-lo, ou seja, seguem aquele cujo nome significa divisor; seguem-no com empenho, dividindo famílias e segregando familiares, no reducionismo das ideologias e paixões políticas, muitas vezes até camufladas com o nome de fé — em falsa fé, multiplicadora de falaciosas crenças, errôneas tradições, deturpados valores e falsa notícias. Há muita gente ignorando a importância de buscar a unidade em Cristo para empenhar-se nos ataques dualistas do Divisor.


E o que têm a ver as escolas e creches com isso?



A falta de amor; o anseio por repercussão, fama, seguidores, influências; a vontade de se sentir forte, ainda que contra pessoas mais vulneráveis; a perda da noção do discernimento do que é real ou fictício, do que é verdadeiro, do falso; a perda dos valores e da noção de valores como o da vida e a dignidade da pessoa humana são alguns dos fatores que levam ao agir maléfico. Trata-se de um efeito de repetição, um efeito coringa, não apenas pela repercussão de um filme, mas pela repetição de uma carta que assume várias formas.


Creches e escolas, primeiramente, são cenários onde ataques já foram realizados, tornando-se ambientes do imaginário dos que se encantam com a carnificina ou pela infração do ataque, ou pelo brincar de atacar pessoas. Creches, escolas, templos muçulmanos são ambientes ondem têm acontecido ataques, pois são ambientes onde ocorrem aglomerações de pessoas e repercussões nas mídias, por isso se tornaram vítimas reiteradas.


É Semana Santa, o que muda?



Por um lado as famílias vítimas do ataque à creche de Blumenau sofrem junto com o Cristo Sofredor e, no exemplo de Jesus, carregam as dores de uma cruz que não é resultado dos próprios pecados. Por outro, é hora de todos repensarmos o que nutrimos nas almas da sociedade, se está sendo alimentado o amável ou o covarde, se há busca pelo resgate ou pela condenação, proteção a quem está nas ruas ou nos rifles.


Há muitos que querem apenas o pão a ser cortado e há os que querem cortar os seus irmãos, sejam com facas, puxadas de tapetes ou discriminação. E onde está a nossa parcela de contribuição? No amor que rompe com a cadeia do mal ou no mal que gera a escravidão dos corações?


O que muda, portanto, não é a semana anotada no calendário, mas a santidade com se encara a semana.





Abençoada Semana Santa e, desde já, um santo Tríduo Pascal!


Do autor,


Alisson Francisco Rodrigues Barreto