Enio Lins
Resultado da idolatria às armas e ao culto do direito de usá-las
Mais um atentado fatal cometido numa escola brasileira ainda não fez acender sequer o sinal amarelo para a maioria da sociedade brasileira, apesar dos insistentes alertas e apelos feitos por uma minoria preocupada com isso.
Aos 71 anos, Elizabeth Tenreiro, professora de biologia, foi covardemente assassinada dentro da Escola Estadual Thomazia Motoro, situada na capital paulista; e, informa O Globo, “duas outras instituições sofreram ameaças, e os casos são semelhantes”.
Qual a idade do assassino? 13 anos! As almas sebosas podem, se cinismo suficiente tiverem para isso, arguir “facilidades” pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, fugindo assim da constatação e do debate sobre as consequências do discurso de ódio.
Leniência da lei? Em certo sentido, sim. Mas não na legislação focada na criança e na adolescência, e sim ineficiência das normas legais que deveriam entender e combater como crime a prática, a difusão do discurso de ódio.
O suposto “direito de reação pessoal violenta” ao que considere agressões recebidas é o que faz um deputado vociferar “eu não uso chupeta, mas uso revólver”, e partir para a violência em plenário da Câmara Federal.
Esse tipo de “direito”, usualmente associado à “macheza”, é o mesmo que uma deputada considerou ter ao perseguir, rua afora, de arma em punho, um cidadão (negro) que lhe teria respondido com palavras que achou “agressivas”.
Esse culto à violência, associado à idolatria às armas, tem um líder, um pastor supremo do mal: Jair, o Falso Messias, que ocupou (desgraçadamente) a presidência da República por quatro anos e, como nada fez em obras reais, obrou esse espírito odiento.
As redes sociais estão recheadas desse culto à violência, da idolatria às armas e à difusão do “direito de matar” (mesmo sem treinamento); a presença desse discurso de ódio só tem crescido, se retroalimentando a cada ocorrência criminosa.
As escolas, espaços de reunião de jovens ululantemente mergulhados nas redes sociais, passam a ser palcos para a materialização desses sentimentos odiosos em que a covardia é transmutada em valor moral positivo.
Segundo reportagem do site globo.com, desde o atentado numa escola em Realengo/RJ, em 2011 – um massacre, com 12 crianças assassinadas e 10 feridas, com o assassino se suicidando –, mais dez escolas foram alvos de ações semelhantes, em vários estados brasileiros.
Sem dúvida, é a lição de casa do ódio e do “treinamento para matar” fazendo escola.
HOJE NA HISTÓRIA
31 de março de 1964 – Um general, chamado Olímpio Mourão Filho, resolve colocar a tropa sob seu comando, num quartel mineiro, em marcha contra o governo federal, no que seria mais uma entre tantas ações subversivas, de parte das forças armadas, desde 1954.
Golpes contra a Democracia estavam sendo tentados desde a eleição de Getúlio Vargas, em 1950. Golpismo que quase dá certo em agosto de 1954, quando o presidente Vargas se suicida e a pressão popular frustra a intenção de golpistas militares e civis. Os fardados foram tentando mais vezes, como em Jacareacanga e Aragarças, sem sucesso.
A disputa entre as quadrilhas golpistas era enorme, desde os anos 50, e os militares estavam divididos em bandos adversários, tendo o General Mourão muitos desafetos entre seus pares, o que impediu uma adesão mais ampla e imediata a seu gesto.
O movimento do General Mourão não teve apoio suficiente em 31 de março, apesar de deserções do lado democrático, e o dia findou com a tropa subversiva, de 2.714 militares, sob pressão de mais de cinco mil soldados legalistas que esperavam a ordem presidencial, de João Goulart, para contra-atacar.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.