Enio Lins

Um mercado verborrágico, falante pelos cotovelos

Enio Lins 17 de março de 2023

Pesquisa indicou, há dois dias, que “98% dos operadores de mercado acham que a política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está indo na direção errada”. Viva!! Esse resultado indica que Lula está indo no caminho certo.

Realizada pela
Genial/Quaest, “ouviu a opinião de 82 gestores, economistas e analistas de fundos de investimentos com sede no Rio de Janeiro e em São Paulo”. Traduzindo: foram ouvidos 82 potentados, todos ululantemente – medularmente – bolsonaristas.

Perguntados, disseram
que “quando o assunto é a Selic, mercado confia mais em Campos Neto do que no presidente”. Uau! Confirmaram que Campos, o neto de Bob Fields, é inconfiável. Mais um ponto positivo para o olhar certeiro de Lula.

Nos idos do ano de 1776
, o economista e filósofo Adam Smith, em seu livro “A Riqueza das Nações”, apresentou sua teoria da “mão invisível do mercado”, defendendo a autorregulamentação do mercado e condenando a interferência do Estado.

Adam Smith
, concordando-se ou não com suas teses, foi genial e seu pensamento é tema para estudos sérios ainda hoje, três séculos depois. Mas no Brasil a mão do mercado é acintosamente visível e enfia seus dedos no bolso do Estado o tempo todo.

A mão-leve
do mercado brasileiro, além de pilhar o erário, quer simultaneamente ser a mão pesada que desce, sem pena, no lombo de quem ouse questionar seus lucros exorbitantes e fáceis. E pense num mercado falante! Berra mais que o homem-da-cobra.

Esse mercado loquaz,
palrador incansável, abomina riscos e responsabilidades, só enxergando o Estado como o ente que seria obrigado a cobrir, com dinheiro público, prejuízos que ocasionalmente alcancem seus cofres privados.

Impossível não ouvir
o mercado tagarela brasileiro, e não se deve fechar os olhos à essa mão-grande, visível e exibicionista, repleta de joias tão brilhosas. Escutar e prestar atenção, pois suas falas expõem suas aratacas – das quais precisamos correr.

Isto posto
, em primeiro lugar, deve-se parabenizar Lula, Alckmin e Haddad, pois a política econômica brasileira está 98% no rumo certo, de acordo com esse recente gesto da mão visível do mercado (bolsonariano raiz). Muito bem!

Mas deve-se
ter preocupação com os 2% de polegares voltados para o alto nesse pequeno universo privilegiado. Isso pode significar que algo de errado existe nos direcionamentos econômicos do governo Lula.

E, ironias à parte
, é torcer para que as pesquisas localizem, um dia, no Brasil, um mercado menos partidarizado, com mãos menos visíveis e boca mais fechada.

HOJE NA HISTÓRIA

Ilustrações francesas da época: mapa da baía de Guanabara e a batalha pelo controle da Ilha de Villegagnon


17 de março de 1560 – as forças coloniais lusitanas derrotam as forças coloniais francesas na batalha pelo controle do Rio de Janeiro. Era o fim da “França Antártica”.

Na refrega foi tomado e destruído o Forte Coligny, referência da presença francesa na área de domínio português no novo mundo, oficialmente descoberto em 1492, quando Colombo atracou numa das ilhas do Caribe. Os portugueses, então entre os maiores navegadores do mundo naquele tempo, registraram o achamento do (posteriormente chamado) Brasil, como se sabe, em 22 de abril de 1500.

Cinco anos depois da posse lusitana os franceses se amoitaram pela baía da Guanabara e construíram uma fortificação batizada em homenagem a Gaspar II de Coligny, nobre que a Wikipedia apresenta como “conde de Coligny, barão de Beaupont e Beauvoir, Montiuif, Roissiat, Chevignat e outros lugares”. Almirante e líder protestante, foi assassinado pelos próprios compatriotas, franceses católicos, em Paris, na Noite de São Bartolomeu, em 1572.

Enfim, há 463 anos, sem a presença do nobre homenageado, os franceses perderam a guerra contra as tropas formadas por portugueses, luso-brasileiros, e índios nativos comandadas por Mem de Sá. Ao fim e ao cabo, a ilha onde o Forte Coligny havia sido edificado ficou com nome do francês que o construiu, Villegagnon, deixando de lado o termo indígena de “Serigipe” e a denominação dada pelos lusitanos, de “Ilha das Palmeiras”.