Enio Lins

Rearrumação na casa do tesouro alagoano

Enio Lins 16 de março de 2023

Depois de oito anos, três meses e 13 dias, George Santoro se despede do manche da Secretaria da Fazenda do Estado de Alagoas. Como ás da aviação, derrubou bem mais que cinco objetos voadores inimigos do erário alagoano.

Como sabem
, para um piloto de guerra ser considerado “ás” precisa detonar mais que cinco aeronaves inimigas e George tirou do ar dezenas de obstáculos ao sucesso fiscal, num êxito inédito na história fazendária alagoana.

Como sabem, Santoro tem brevê conquistado como piloto militar, cadete qualificado pela Força Aérea Brasileira. Treinado para matar, aprendeu a salvar. Tornou saudáveis as contas públicas em parceria com Renan Filho e manteve a aeronave em céu de brigadeiro durante esses primeiros meses Paulo Dantas.

Isto feito, decola para nova missão, desta vez em Brasília. Apesar da paz reinante, certamente os estresses acumulados em mais de três mil dias de combate pesaram muito nessa decisão. Discreto, Santoro não fala sobre isso, mas é fácil imaginar o bombardeio.

Um dos méritos
de George é sua capacidade de construir ótimas equipes, mesclando craques importados e estrelas nativas. Isso se comprovou na mudança de comando em pleno voo, operada com sucesso e nenhum ruído digno de nota, sob tranquilidade e unidade perturbadoras para quem é do contra.

George trouxe-nos
Renata Santos, Fabrício Marques (só para citar dois nomes) e entre os locais escalou para posições certas nativos como Francisco Suruagy, Paulo Castro, Gabriel Albino (resumindo aqui, em três, uma longa lista).

Renata Santos
, paulista com ginga carioca, virada guerreira alagoana, merece um texto exclusivo até por sua capacidade de encarar questões financeiras dramáticas sem deixar de exibir um contagiante sorriso de orelha a orelha. Aguarde carta.

Voltando a nosso ás
, carioca da gema, bom de papo, bom de bola, deixa um leg ado ainda não avaliado adequadamente. Perfeito? Ninguém é. Canonização não está em pauta, mas sim o reconhecimento de um papel histórico, marcante, cumprindo frente a um dos órgãos mais complexos da administração pública em qualquer lugar, em qualquer tempo.

Comandante George, ajustes os flaps e decole em paz. Obrigado pela paz que você construiu desde janeiro de 2015 nessa Alagoas velha de guerra. Vá e fique, mantenha suas raízes nessa terra e nessas águas, afinal você é cidadão muito mais que honorário.

Hoje na História


16 de março de 1190
– Massacre de judeus na Torre de Clifford, cidade de York, Inglaterra. Numa demonstração do poder mortal do antijudaísmo, praticamente toda a pequena comunidade hebraica local foi sitiada e executada.

Os judeus haviam se instalado naquela região por volta de 1066, trazidos, principalmente, da área de Rouen, na França. A nobreza inglesa precisava de financiamento para a construção de castelos e ações de proteção do reino; e emprestar dinheiro não era permitido aos cristãos.

Quase dois séculos depois, os cristãos deviam bastante dinheiro aos financiadores hebreus, e quando as tropas de cruzados se armavam para combater os “infiéis” na Palestina, os judeus estabelecidos na Inglaterra (e nos outros países europeus) passaram a ser vistos como “inimigos da cristandade” e “assassinos de Cristo”, e perseguidos num movimento que, na verdade, tinha o calote como motivação principal, pois morto não cobra dívida.

Para fugir a uma onda de violência cristã em março de 1190, a comunidade judaica de York se refugiou na fortificação da cidade, o Castelo de Clifford, acreditando na proteção da autoridade policial do Guardião da Torre– o que não aconteceu. Em resumo, a grande torre (que era de madeira) foi incendiada, incinerando em seu interior cerca de 150 pessoas, todas de origem judia, de todas as idades. Boatos da época diziam que pais teriam assassinado os filhos poupá-los da morte lenta nas chamas.

Os registros das dívidas dos cristãos para com os judeus também viraram cinzas, só que estavam guardados “em segurança”, longe da torre, na Catedral de York. Esse acontecimento deve ter servido de inspiração para Hitler, mais de 700 anos depois.

Leia mais em: https://www.english-heritage.org.uk/visit/places/cliffords-tower-york/history-and-stories/massacre-of-the-jews/