Enio Lins
As rosas e o Dia Internacional das Mulheres
Não é má ideia presentear as mulheres com uma rosa no dia 8 de março; uma flor pode ser um belo tributo à causa feminina – se a origem da data não ficar obnubilada por tal gesto.
Gentileza gera gentileza, já dizia o Profeta Gentileza, José Datrino (1917-1996), que circulava pelas ruas cariocas espalhando mensagens de amor e consolação, e que respondia toda vez que era chamado de maluco: “Sou maluco para te amar”.
Flor é pura gentileza, beleza. É bem-vinda, sempre, mas essa rosa não pode ser um espinho a rasgar a pele habitada por uma história ancestral de lutas das mulheres em todo o mundo; não deve ser o docinho momentâneo que alivia o amargor do machismo milenar.
8 de março é a data de lembrança das lutas que as mulheres têm travado contra todas as formas de opressão, dominação, humilhação, redução, empulhação. Não é uma versão florista do Dia da Criança.
Diz-nos a insuspeita BBC sobre essa data: “Suas sementes foram plantadas em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto”.
Segue: “A proposta de tornar a data internacional veio de Clara Zetkin, comunista e defensora dos direitos das mulheres. Ela deu a ideia em 1910 durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague”.
Mais: “Foi celebrada pela primeira vez em 1911, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Mas o Dia Internacional das Mulheres só foi oficializado em 1975, quando a ONU começou a comemorar a data”.
8 de março é um dia de luta. Não é comemoração dalguma vitória, mas afirmação de que a luta continua! É um recarregar de baterias para ir adiante, pois o machismo segue dominante e violento, embora distribua flores de vez em quando.
Por falar em machismo, o feminicídio cresce no Brasil e o ano de 2022 registrou uma mulher assassinada por dia. O Dossiê Mulher do ISP, com dados de 2016 a 2020, diz: “a maioria das vítimas de feminicídio é morta pelo companheiro ou ex-companheiro (59%)”.
Além dessa tragédia, há quem ainda creia que a mulher deva receber menos que o homem por trabalho semelhante, que existem profissões que não são “femininas”, que a mulher instiga o próprio estupro, e outras tantas pétalas.
Enfim, fiel às minhas mestras, repito que 8 de março é um dia de luta. Mas, tudo bem, mando aqui também flores – todas rubras. Viva o Dia Internacional da Mulher!
Leia mais em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60646605
HOJE NA HISTÓRIA
8 de março de 1824 – Terminado o processo da Independência do Brasil, com a derrota das tropas coloniais portuguesas que teimavam em resistir na última região brasileira. E que área brasileira era essa? Montevidéu.
Apois era a tal da Província Cisplatina, hoje o independente Uruguai. O território foi descoberto, em 1512, pelos lusitanos, que depois se desinteressaram; os espanhóis foram ocupando a área a partir de 1516 e fundaram Montevidéu em 1724. Espanha e Portugal (e Inglaterra) seguiram disputando a bela terra, mas nos idos de 1822, até o grito do Ipiranga, era propriedade do então Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve.
As tropas portuguesas se encastelaram em Montevidéu em 1823 e resistiram por um ano ao cerco, até serem derrotadas pelas forças brasileiras, voltando a fazer parte do novo país, o Brasil. Mas os habitantes da Província Cisplatina lutavam pela própria independência desde 1810, contra espanhóis, portugueses, ingleses e brasileiros – e conquistaram sua autonomia finalmente em 25 de agosto de 1825. Hoje o Uruguai é o país mais próspero da América Latina e uma das referências de Democracia no mundo.
Leia mais em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Uruguai, https://pt.wikipedia.org/wiki/Cerco_de_Montevid%C3%A9u_(1823%E2%80%931824)
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.