Enio Lins
Golpismo e cinismo são traços do bolsonarismo
Característica da aristocracia brasileira há séculos, o golpe é alma imortal da elite local desde os primeiros genocídios contra as populações originárias, crime conta a humanidade varrido para baixo do tapete colonial, assim como a pulada de cerca do Tratado de Tordesilhas.
Destaque nesse caminhar golpista está na única independência nacional que manteve a mesmíssima família no poder do país ex-colonizador e do país ex-colonizado. Por sua vez, a “áurea” supressão da escravatura sem compensações materiais à população cativa é outra jabuticaba (diferente, inclusive, dos Estados Unidos, onde uma indenização mínima foi liberada para ex-escravos); e o fim da monarquia dos Pedros não foi tão diferente...
Mas, ao longo dessa história de camas-de-gato, sempre se procurou uma desculpa, uma explicação que encaixasse a quebra das regras estabelecidas (ou sua tentativa, no caso de insucesso) em algum figurino ético que vestisse uma justificativa qualquer.
Isso mudou com o bolsonarismo, com o cinismo próprio da mitológica criatura. O golpismo, a vagabundagem, a vigarice, a corrupção, todas as modalidades de preconceito e atitudes criminosas são assumidas na cara de pau, com a canalhice típica do capitão-fujão replicada como “autenticidade”.
Ser bolsonarista é ser “pessoa do bem” autorizada a fazer o mal. Bolsonaristas podem tentar golpes de estado, podem destruir o patrimônio público, podem invadir festas de aniversário e matar o aniversariante, podem trucidar toda a torcida adversária por perder um jogo de sinuca, podem matar o pai de criança que buzine alto, podem – de armas em punho – perseguir pessoas nas ruas, podem fazer rachadinhas no salário alheio, podem praticar o genocídio contra tribos inteiras... podem tudo, afinal são “patriotas” e “do bem”.
Ser bolsonarista é a licença poética para praticar crimes, esse é o entendimento. A defesa de que o “golpe é um direito” é pérola mais recente desse raciocínio, expelida por um molusco deputado dito evangélico, numa entrevista à Folha de São Paulo. Em cima do lance, o jornalista Reinaldo Azevedo alertou para que “o exercício da fé não se misture com golpismo, obscurantismo e misoginia” e denunciou o culto à “bezerros de ouro”.
Jair, o falso messias, é o bezerro de ouro do momento, ídolo para o gado acrítico, boiada que muge em uníssono, seguindo o mito e um tipo de “pastores” chifrudos e de cascos fendidos. Um perigo que segue ameaçando o Brasil.
HOJE NA HISTÓRIA
28 de fevereiro de 1897 –A rainha Ranavalona III passa a ser cativa da França, que decreta nesse dia o fim da independência de Madagascar, imensa ilha africana.
Madagascar se torna colônia francesa e a família real nativa, composta a partir daí por apenas três mulheres (Ranavalona III, sua irmã Rasendranoro, e sua sobrinha Razafiandriamanitra), se torna prisioneira, de fato, do governo francês. Mantidas em detenção confortável, viverão o resto de suas vidas no exílio.
Os demais membros do governo malgaxe são afastados, ou detidos, e os mais importantes, como o primeiro-ministro Rainilaiarivoni (também marido, no papel, da rainha), exilados na colônia francesa da Argélia.
A deposição da secular monarquia malgaxe e a ocupação francesa da ilha de Madagascar foi mais um movimento da invasão e colonização europeia do continente africano.
Depois da morte – em Paris, 1948 – de Marie-Louise Razafinkeriefo, definitivamente acabou a monarquia malgaxe. Ranavalona III morreu em1917, como exilada. Marie-Louise, sem filhos, era filha da princesa Razafiandriamanitra (morta no parto, aos 14 anos) e de um soldado francês desconhecido. Como a rainha deposta, e sua tia, não tinha filhos, adotou-a em 1897.
Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ranavalona_III
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.