Enio Lins
Retornando ao mundo civilizado, recuperando o brilho
Prestígio é marca da diplomacia brasileira (exceção entre 2019 e 2022). Na virada do século XIX para XX, o Barão do Rio Branco, chanceler, foi uma celebridade, substituindo com louvor as figuras dos nossos chefes de Estado.
Pedro II era um bonachão distanciado dos problemas políticos mundiais e os primeiros presidentes pouco ligavam para o cenário internacional. O Barão, que conservou o título na República, era o rei da diplomacia brasileira.
JK, o presidente bossa-nova, espalhou simpatia num planeta tenso pela guerra fria. Jânio surpreendeu à destra e à canhota quando condecorou Che Guevara. Jango teve seu brilho. Os generais-presidentes se entocaram, mas a diplomacia não fez feio naquele tempo de terror.
Tancredo foi um relâmpago diplomático no retorno do poder civil e Sarney reabriu as portas para o mundo, com 34 viagens para 23 países, sendo o primeiro presidente brasileiro a visitar todos os países da América do Sul.
Fernando Collor se destacou nesse ramo, apesar do mandato encurtado; visitou 20 países, foi um dos fundadores do Mercosul. Teria recebido até raro presente, carpas do Imperador do Japão, peixes valiosos que se reproduziram no lago do Alvorada até....
Fernando Henrique Cardoso, antes Ministro das Relações Exteriores, botou pocando, visitando 40 países. Estados Unidos, com oito visitas, e Argentina, com nove, foram os que mais receberam o então presidente FHC.
Lula contabiliza 82 países visitados como Presidente do Brasil, na maior e mais expressiva performance diplomática de um Chefe de Estado brasileiro. Ah, os Estados Unidos receberam o Presidente Luiz da Silva por 12 vezes...
Dilma foi recepcionada por 37 países, com destaque para Argentina e Estados Unidos, seis vezes cada. Foi prestigiada também por ser mulher, ampliando o brilho brasileiro no mundo. Temer foi a 18 nações e ficou meio invisível.
Jair esteve em 22 países espalhando suas estupidezes pessoais, e nos encontros internacionais parecia o Fernandinho Beira-Mar num evento do MP, ninguém queria saber dele. Chamou a atenção ao visitar Moscou para ser solidário a Putin às vésperas da invasão da Ucrânia. Sob o falso messias o Brasil virou, pela primeira vez, um pária mundial.
Assim, o encontro entre Lula e Biden, nos Estados Unidos, reafirma o retorno do Brasil ao topo da diplomacia internacional, depois de um intervalo de quatro anos de desmoralização e isolamento. Uma página podre, enfim, virada.
Hoje na História
14 de fevereiro de 842 – Primeiro registro escrito do que viria a ser a língua francesa. O documento, bilingue, teve versão simultânea no que mais tarde seria o idioma alemão, era um tratado de aliança política entre dois monarcas, ambos netos de Carlos Magno.
Carlos, o Calvo e Luís, o Germânico, eram irmãos e guerreavam contra um terceiro mano deles, Lotário I. No compromisso chamado de Juramentos de Estrasburgo, Carlos e Luís combinam que o primeiro seria rei da França e o segundo, rei da Alemanha, e Lotário se lascaria.
Luiz, o Germânico, fez o seguinte juramento, que foi escrito e lido em língua protofrancesa para que as tropas francas compreendessem o acordado: “Pro deo amur et pro christian poblo et nostro commun salvament, d'ist di in avant, in quant deus savir et podir me dunat, si salvarai eo cist meon fradre Karlo et in aiudha et in cadhuna cosa, si cum om per dreit son fradra salvar dist, in o quid il mi altresi fazet, et ab Ludher nul plaid nunquam prindrai, qui meon vol cist meon fradre Karle in damno sit”, ou seja, em português contemporâneo: “Pelo amor de Deus e pelo bem do povo cristão e nosso bem a todos os dois, a partir deste dia, enquanto Deus me dará sabedoria e poder, eu darei socorro a meu irmão Carlos com minha ajuda e toda outra coisa, como se deve acudir seu irmão por igualdade, à condição que ele faça o mesmo por mim, e não passarei nenhum acordo com Lotário que, de minha vontade, possa ser prejudicial a meu irmão Carlos”.
Carlos e Luís detonaram Lotário, reinaram sobre a Francia (França) e a Francia Oriental (Alemanha) até baterem as botas, em 877 e 876, respectivamente. Lotário perdeu a guerra, mas não era otário e garantiu uma nesga de terra para chamar de sua, a Lotaríngia, que algum tempo depois de sua morte (em 855) sumiu do mapa-múndi, partilhada e incorporada pelos reinos vizinhos (atuais Holanda, Alemanha e França).
Leia mais em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_II_de_Fran%C3%A7a
e https://pt.wikipedia.org/wiki/Juramentos_de_Estrasburgo
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.