Enio Lins
Oh, Glória!
Glória Maria saiu do vídeo para entrar na História. Viverá eternamente como a primeira mulher negra a conquistar e manter espaços de grande destaque no principal meio de comunicação de massas em seu tempo, a televisão.
Jornalista dedicada e brilhante, se destacou por suas matérias focadas, perguntas inteligentes e por sua alta capacidade de expressão e comunicação. Interagia fácil com quem entrevistasse e com quem a assistisse.
Gloriosa em conteúdo e forma, se me permitem declarar. E teria extrapolado em beleza se perseverasse o cabelo afro, em minha modesta opinião de fã dos pêlos crespos (perdoem, novamente, esse circunflexo ilegal). Mas ninguém é perfeita.
Sua presença negra, retinta, na tela da Globo, nos anos 70, deve ser salientada como um ponto fora da curva, num tempo em que a mulher preta só aparecia na TV representando papéis de empregadas domésticas e/ou escravas.
Glória quebrou estereótipos sem nunca ter sido do tipo militante de carteirinha. Se impôs por seu talento, arrobando com um magnífico sorriso um monte de portas até então travadas à população afrodescendente brasileira. Na moral.
Cobriu todas as áreas do jornalismo, da cultura à política, passando pela radioescuta policial, do esporte à ciência. Destacou-se em reportagens internacionais, virou uma das caras do Fantástico nos melhores tempos da atração dominical.
Confirma o Globo.com que ela “apresentou o Fantástico de 1998 a 2007” e foi “a primeira repórter a entrar ao vivo e a cores no Jornal Nacional, mostrou mais de 100 países em suas reportagens e protagonizou momentos históricos”.
Sua antológica cobertura ao então presidente eleito Tancredo Neves foi tão marcante que na onda de boatos e especulações sobre a doença e morte do líder mineiro, seu nome foi envolvido como “testemunha” de atentados mil.
A indústria de boatos dos anos 80 inventou até um tiro nela, “atingida de raspão (na perna) pela bala que acertou Tancredo” enquanto o mandatário assistia uma missa na Catedral de Brasília. O fato é que a jornalista acompanhava pari passu o presidente.
Menina, que perda sua partida! Melhor escrevendo, que ganho fantástico foi sua chegada iluminada, presença marcante – durante meio século – no jornalismo brasileiro.
Leia mais sobre Glória Maria em
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/02/02/gloria-maria-morre-no-rio.ghtml
https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2023/02/02/pioneira-gloria-maria-mulher-negra.ghtml?utm_source=push&utm_medium=web&utm_campaign=pushwebg1
https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2023/02/02/gloria-maria-veja-melhores-momentos-da-jornalista.ghtml?utm_source=push&utm_medium=web&utm_campaign=pushwebg1
HOJE NA HISTÓRIA
3 de fevereiro de 1488 – Bartolomeu Dias alcança a Baía de Missei, depois de fazer a curva no até então invencível Cabo das Tormentas, e se torna o primeiro navegador europeu a vencer esse trajeto, estabelecendo, finalmente, um caminho marítimo para o continente indiano.
Depois desse feito, o nome da extremidade austral da África passou a ser conhecido como Cabo da Boa Esperança. Até o feito de Bartolomeu Dias, nenhuma embarcação europeia ousava desafiar o Mar Tenebroso no Cabo das Tormentas, pois era morte certa.
Tendo sobrevivido ao mais temível trecho de oceano, Bartolomeu fez parte das esquadras de Vasco da Gama, em 1497, e de Pedro Álvares Cabral – e com este fidalgo foi o principal navegador no comboio que descobriu o Brasil, sendo mencionado com elogios na carta de Pero Vaz de Caminha. No caminho de volta, entretanto, no dia 29 de maio de 1500, sua embarcação naufragou, o levando junto.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.