Enio Lins

Ainda no árido tema: militarismo & bolsonarismo x militares profissionais

Enio Lins 20 de janeiro de 2023

Vamos seguir hoje na mesma pauta de ontem: o vício do militarismo que corrói o Brasil há tempos imemoriais e cujas recentes metástases afloraram nas manifestações golpistas cercando os quartéis em todo País e no domingo de terror contra a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Essas ocorrências tiveram a participação de militares, isso é público e notório.

E isso precisa ser abordado
sem rodeios, preto no branco, ou melhor, verde no amarelo. No final do dia 8 de janeiro, impulsionado pela desmoralização da tresloucada ala bolsonarista – depois da merda federal da depredação terrorista em Brasília – o segmento militar profissional se impôs e as forças sadias da segurança pública puderam, enfim, cumprir seu papel.

É ponto positivo,
para o profissionalismo militar brasileiro, sem dúvida. Mas o câncer bolsonarista segue vivo e metastático no ambiente fardado. É preciso repetir, insistir na identificação do bolsonarismo como o culto à indisciplina, à quebra de hierarquia, à fraude descarada e à covardia mais deslavada. Militar que admire o mito Jair B admira essas características e é, portanto, antimilitar, é alguém que trai a farda, é pessoa em quem o País não pode confiar. Essa é a questão.

É errado igualar o bolsonarismo
à direita militar, pois o ideário conservador é majoritário em toda caserna desde antes dessa pústula surgir no cenário. O chamamento que a cidadania precisa fazer não pode ser dirigido a uma (inexistente) tendência canhota nas Forças Armadas, até porque o som não se propaga no vácuo.

É-se necessária a consciência
de que militares direitistas resistiram e resistem à bolsocriminalidade – como os generais Santos Cruz, Rêgo Barros e Fernando Azevedo, só para citar três oficiais superiores que fizeram parte do governo do Jair e tiveram a coragem de romper com o capitão renegado. Isto é muito importante para a Democracia real – que precisa conviver com o debate entre esquerda, direita, centro –, e indica o caminho a seguir para a profissionalização efetiva das FFAA.

As Forças Armadas
são insubstituíveis para a missão precípua de defesa da soberania nacional, isso é correto, assim como é líquido e certo não serem as FFAA poder constituído. O papel constitucional militar exige a despartidarização dos quartéis, exige a profissionalização total. Enquanto isso não for entendido e praticado, o Brasil viverá sob o risco de vir a ser uma república de bananas, vulnerável a um mito desprezível e covarde como Jair B.

HOJE NA HISTÓRIA


20 de janeiro de 1917
– “Pelo Telefone”, gravado no ano anterior e considerado o primeiro disco de samba, é lançado no Rio de Janeiro. Segundo a Wikipédia, existiriam dois sambas gravados antes disso – “Samba: Em Casa da Bahiana”, de 1911, e “Urubu Malandro”, em 1914 –, mas a composição assinada por Donga (Ernesto dos Santos) entrou para a história como a pioneira. Ressalte-se que, ao contrário das duas mais antigas, basicamente instrumentais, “Pelo Telefone” foi gravada com letra completa.

Diz mais a Wikipédia: “A canção foi composta em 1916, no quintal da casa da Tia Ciata, na Praça Onze. A melodia, originalmente, intitulava-se ‘Roceiro’ e foi uma criação coletiva, com participação de João da Baiana, Pixinguinha, Caninha, Hilário Jovino Ferreira e Sinhô, entre outros. Sobre a paternidade da música, Donga a registrou antes, justificando a ação com a máxima atribuída a Sinhô: ‘Música é como passarinho, [é] de quem pegar primeiro’”.