Bartpapo com Geraldo Câmara

OH, QUE SAUDADES NÃO TENHO!

Bartpapo com Geraldo Câmara 10 de janeiro de 2023

Quem viveu sabe e não tem saudades. As badernas de rua da década de 60, principalmente em capitais como Rio e São Paulo marcaram a geração daquela época da qual fiz parte. A repressão violenta com os cavalos atropelando pessoas e as matando mesmo são cenas incalculáveis para o mundo de hoje. Cenas realmente medievais e até me lembro de uma quando pacificamente atravessava a rua do Ouvidor, no Rio, em direção a um escritório e a cavalaria surgiu no princípio da rua, as pessoas entrando nas lojas de qualquer jeito e as portas se fechando e eu, no susto entrei por uma meia banda de porta metálica a tempo de me livrar dos cascos que pareciam armas em cima do povo desarmado. Os cavalos só pararam à força porque do alto de uma das lojas começaram a derramar bolas de gude no chão, os animais deslisavam e caiam parando o ataque de furor dos cavaleiros do exército.

Há quase sessenta anos não via nada parecido com o que aconteceu neste fim de semana em Brasília. Só que houve o inverso. O povo enfurecido, povo selecionado e escolhido, invadindo as principais casas da república, mostrando uma sede de terror como nunca tinha visto. O que aconteceu nada mais foi do que o transbordamento do ódio que foi gradativamente infestando as mentes de parte do povo brasileiro lavado cerebralmente por um ditador óbvio que jamais suportou deixar o poder que julgou ter adquirido pelo resto dos tempos. Foi triste, muito triste ver o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a Suprema Corte brasileira, todos vandalizados incrivelmente por brasileiros, gente! Brasileiros que se deixaram conduzir pelo ódio incontido do pseudo-chefe achando que, com isto poderiam provocar um golpe militar que trouxesse de volta o ídolo caído. Falta de respeito total à constituição, aos símbolos pátrios, aos semelhantes de todas as cores e credos.

Este foi o fim de semana onde tentaram intimidar metade do país, as forças constituídas e a parte inocente do povo brasileiro que só quer trabalhar e ter condições de sustento. Um povo que precisa de pão e não de armas. Um povo que precisa de amor e não do ódio. E que, para isso, vai precisar ter forças suficientes para ainda aguentar a grande dissenção instalada neste país.

As urnas revelaram o que a maioria queria. Então deixemos que o presidente governe, que erre, que acerte e que tente por todos os meios, através sobretudo do trabalho digno tirar de cada brasileiro a colaboração do apoio, da sensibilidade e até da participação. Colaboração onde deve entrar também a crítica construtiva, o aponto de erros e de falhas, enfim o trabalho que pode e deve ser exercido pela sociedade. De mãos limpas, desarmada, colocando o coração e a razão acima das armas mortais e perigosas.

Agora começam ações repressivas, necessárias, equilibradas para que a nação volte ao seu estado normal. Agora entram todas as medidas de precaução para que sejam preservados os direitos do povo, autoridades, tudo baseado na Constituição porque acima de tudo essas medidas serão necessárias. Não se pode deixar de limpar a sujeira já que se permitiu que o “leite fosse derramado”. Um leite que poderia ter tido a cor vermelha manchando ainda mais a história do Brasil. Por isso, do alto de toda uma experiência de vida, parafraseando o grande Gonçalves Dias, “Oh, que saudades não tenho”!