Enio Lins
Feliz democracia nova!
2022 se vai. E já vai tarde, encerrando um ciclo venenoso, um quadriênio perdido. Neste réveillon o Brasil se despede de 2022, 2021, 2020, 2019 – quatro em um –, e recepciona 2023 na certeza de que tempos duros se anunciam para a reconstrução do País, com o soerguimento da economia nacional e o retorno das responsabilidades sociais da República.
2023 se chega. Chega tarde, pois muitos dos prejuízos brasileiros não podem ser recompensados em quatro anos, nem nunca – como no caso das centenas de milhares de vítimas mortais do Covid 19, vidas que poderiam ter sido poupadas se o governo federal tivesse tratado a pandemia de forma correta, responsável e com ações baseadas na ciência.
Enfim, é hora da virada. Hora de focar no trabalho (árduo) pela frente e consolidar a retomada do Brasil das mãos das milícias, devolvendo a Nação ao povo brasileiro. O ano novo encontrará o País com um governo respeitado internacionalmente e, nacionalmente, representativo do melhor das forças democráticas brasileiras.
O ministério, cujos derradeiros nomes foram apresentados na quinta-feira, é coerente com as esperanças e reflete a ampla frente que derrotou o golpismo, o milicianismo, o crime organizado. Um ministério multipartidário, multifacetado, capacitado, democrático. A esplanada volta a contar com gente qualificada em todos os níveis.
2022, ao ir-se, deixa a memória de – entre tantos dissabores – uma vitória memorável da aspiração democrática contra o pesadelo totalitário. Da vitória da Lei contra o crime organizado. Nesse quesito o ano findo lavou a alma brasileira com a eleição de Lula & Alckmin.
O ano se encerra com a afirmação do Estado Democrático de Direito, com a derrota das vivandeiras do ódio, com a derrota dos arautos da ditadura, com a derrota da indisciplina militar. 2022 se encerra com o começo do desmonte da impunidade.
2023 raia esperançoso entre nuvens carregadas que teimam em ficar no horizonte ameaçando com sua chuva ácida. O ano novo deve ser iniciado com a consciência de que o ano velho não quer ir embora e de que os golpistas não recuarão por conta própria.
Este ano novo não será tempo pacificado, e sim de lutas, de enfrentamento. A alcateia de hienas uivará e exibirá suas dentaduras de uma forma ou de outra, defronte aos quartéis ou noutros lugares. O importante é dar-lhes combate sem tréguas – dentro da Lei – e não cair em provocações, pois a meta é concentrar esforços na reconstrução do País.
Tchau 2022! Seja bem-vindo 2023!
SUGESTÕES
Nesta virada de ano tão significativa, quando um passado nojento que vigorou durante quatro infelizes anos é devolvido à catacumba da qual nunca deveria ter saído, recomendo dois livros, ambos abordando a permanência do tempo em termos das contradições políticas, ideológicas e culturais num Brasil cujas tenebrosidades não podemos esquecer.
1968, O ANO QUE NÃO ACABOU – Escrito pelo jornalista Zuenir Ventura, em 1989, no formato livro-reportagem, relembra os fatos de um ano muito intenso, período marcante pelo crescimento da resistência ao golpe militar de 1964 e o recrudescimento das tendências assassinas da ditadura. 1968 ficou para a história como o ano das grandes manifestações pela reconquista da liberdade e da democracia; e pelo golpe dentro do golpe, quando a extrema-direita militar impôs, através do Ato Institucional nº 5, um sistema ditatorial que esmagou as oposições e garantiu à elite dirigente o silêncio e a impunidade sobre os crimes cometidos, inclusive sobre a corrupção que correu solta e sem registro de qualquer tipo.
FELIZ ANO VELHO – Escrito por Marcelo Rubens Paiva, no formato autobiografia, tem como epicentro o momento em que o jovem autor sofre um acidente que o deixa tetraplégico para o resto da vida. Os momentos de sua existência são desfiados a partir dessa virada trágica, incluídos aí tanto os momentos de amor e sexo quanto a tragédia do sequestro de seu pai, Rubens Paiva, cometido por militares que o assassinaram em seguida.
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Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.