Enio Lins
TEMPOS DIFÍCEIS PELA FRENTE, SEM ILUSÕES NEM PESSIMISMOS
Se falou, dias atrás, sobre uma observação do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, ao final de uma avaliação sobre o desastre administrativo bolsonarista. Teria dito ele que mediante tanto descalabro, não seria difícil ser melhor – ou algo assim. Essa suposta fala caiu nas graças de quem acha que o “céu é perto”, como se dizia antanho.
Nada de moleza, minha gente. Exatamente por conta do desastre administrativo, econômico e social do desgoverno mitológico – catástrofe sem precedentes depois da ditadura –, a tarefa de reconstrução será muito difícil. E contribui para isso a absoluta falta de transparência da gestão Jair B. Pela primeira vez depois da redemocratização, a equipe que chega assume sem conhecer em profundidade a gestão anterior, e várias questões essenciais serão dimensionadas apenas depois de 1º de janeiro.
Lula não está recebendo o governo de FHC, assim como esse recebeu a chave do Planalto de Itamar Franco, com as informações devidamente coligidas e repassadas em tempo hábil. Lula e Alckmin estão recebendo uma coisa cujos problemas não foram ainda totalmente quantificados, apesar de muitos indícios evidentes. Além do rombo fiscal, “estranhamente” não percebido pelo mercado, as estruturas funcionais estão desmanteladas, como no caso dos órgãos fiscalizadores do meio-ambiente, assim como bichadas estão as estruturas da segurança pública (vide PRF). E, por exemplo, a segurança institucional sob o comando do general Helenão virou um Cavalo de Troia.
Há de se conciliar um magote de interesses divergentes, próprios das frentes amplas, isso é óbvio. Mas a questão do Orçamento Secreto é algo inventado no período mitológico e que não será possível reverter a curto prazo, quiçá nunca. Independentemente da posição do Poder Judiciário sobre essa excrescência, ela foi gerada e ficou entranhada nos desvãos do Legislativo a tal ponto que a própria bancada do PT não ousou votar contra esse monstrengo em sua recente tramitação pela Câmara dos Deputados. A penumbra orçamentária é uma questão congressual que não quer se expor à luz, não importa quem esteja no Executivo.
E, congressualmente falando, digamos assim, o nó é ainda mais embaixo. Não se esqueçam dos resultados das urnas para a Câmara e Senado Federais. E nem adianta acampar defronte aos quartéis pedindo anulação para os avanços do centrão fisiológico e da direita orgânica e inorgânica. É encarar a realidade e ir adiante.
NOTAS
# Confirmada para esta terça-feira a noite de autógrafos coletiva no Anexo do Deodoro, com lançamentos e relançamentos de livros alagoanos.
# São publicações excelentes, à exceção de um opúsculo de charges que fere a sensibilidade do mito que, dizem, tem chorado rios por isso.
# “Jangada Independência”, do jornalista e pesquisador Edberto Ticianeli é um dos títulos mais esperados do ano e lá estará à disposição do público.
# Nide Lins relançará seu Guia da Culinária Alagoana e Sávio de Almeida será o homenageador da noite, à partir das 19 horas, no Anexo do Deodoro.
HOJE NA HISTÓRIA
20 de dezembro de 1192 – Ricardo Coração de Leão, como era conhecido nas quebradas o Rei Ricardo I da Inglaterra, é identificado e preso e pelo Duque da Áustria, Leopoldo V, quando tentava atravessar a Europa Central. O rei marchava incógnito rumo a um porto onde embarcaria para Londres. Ricardo e Leopoldo haviam se estranhado no cerco à fortaleza de Acre, na Palestina, durante a III Cruzada, e o austríaco queria pegar pra capar o inglês, que o tinha enfrentado e destratado. Mas uma vez com o adversário detido, o tratou bem durante o cativeiro, pedindo tão-somente uma fortuna pesada aos britânicos para liberar o monarca deles. Resgate astronômico pago, rei encrenqueiro foi devolvido em condições de uso.
Mas Ricardo, fazendo jus ao apelido, não queria sentar o rabo no trono. Partiu para novas batalhas em território francês e lá morreu, por conta de uma infecção causada por flechada recebida no ombro (vulnerável pela recusa dele em usar armadura). Com um rei tão aventureiro de verdade, aventureiros de ficção grudaram na história real e aí foi encaixada a famosa lenda de Robin Hood, sempre roubando a favor dos pobres e lutando pela volta do Rei Ricardo Coração de Leão. Na gesta, Robin se opõe radicalmente ao “usurpador” João Sem Terra (seria do MST?), que na história real é irmão do Coração de Leão e o sucede, de fato, no trono – mas só depois da morte do mano.
Mais na Wikipédia, verbete Ricardo I da Inglaterra
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.