Enio Lins
POR ONDE ANDARÁ O PROJETO (INTEGRAL) DO PREFEITO GUILHERME PALMEIRA?
Nos idos de 1989, o prefeito Guilherme Palmeira, eleito no ano anterior, convocou os vereadores de Maceió para apresentar um projeto ousado. A primeira leva de edis foi logo a turma de oposição e, dentre os presentes naquele dia, apenas Ronaldo Lessa, recém-diplomado vice-governador, segue dialogando com as urnas.
Marcos Vieira, então secretário municipal, arquiteto e urbanista brilhante, apresentou o projetado. Ousado, de fato. A ideia era sanear o Vale do Reginaldo, desde a nascente, lá nas alturas do Tabuleiro, até a foz, na Avenida da Paz. As águas servidas, desde sempre drenadas erroneamente para o riacho, seriam tratadas como esgoto, canalizadas durante toda a extensão do riacho e conduzidas até a estação de tratamento central, na Praia do Sobral.
Rodovias em pistas duplas seriam construídas nas margens do Reginaldo/Salgadinho e trilhos de VLT implantados em paralelo. Era a primeira vez que se falava em Veículo Leve sobre Trilhos em Alagoas. Um fantástico projeto! Obras de longa duração, para várias gestões, mas algo perfeitamente viável e solução indiscutível para uma gama de questões intrincadas, desde o trânsito entre a cidade alta e a cidade baixa, até o grave problema ambiental da bacia do Reginaldo/Salgadinho.
Ao longo desses 33 anos o projeto tem sido abordado em capítulos, mas sem se aproximar da grandeza projetada. Nos tempos em curso está sendo anunciado trecho do Salgadinho, que deveria ser a derradeira etapa. Ótimo, é perímetro muito importante, mas é fundamental um balanço do conjunto da obra. Como será que andam os demais trechos do serviço de canalização das águas servidas e pluviais? Posto das pistas não se ter notícia. E o VLT?
Um VLT fluindo pelas grotas centrais de Maceió é, ainda hoje, uma obra revolucionária, especialmente depois que o processo de afundamento Bebedouro/Cambona engoliu a bem-sucedida experiência do VLT lagunar em sua rota original. É a melhor opção para o transporte público de massa nas condições urbanas da capital alagoana e o traçado feito na gestão Guilherme Palmeira, correndo pela ravina do Reginaldo desde as proximidades da Cidade Universitária até a antiga Rodoviária do Poço, segue sendo uma ideia notável, excelente.
Neste momento em que o trecho do saneamento do Salgadinho está sendo alvo de atenções (justas) é hora de repensar esse projeto quarentão. Ainda está nos trinques!
NOTAS
# Adiantando o serviço, mesmo, está a Liga Carnavalesca de Maceió, que já marcou data para a divulgação da sua programação do Carnaval 2023.
# A apresentação da agenda dos desfiles da Liga Carnavalesca de Maceió será realizada no dia 22 de dezembro, no Mercado das Artes 31.
# Localizando: o Mercado das Artes 31 fica em Jaraguá, na Avenida Cícero Toledo, vizinho as novas instalações da “balança do Peixe”.
# A Liga Carnavalesca de Maceió é responsável, há décadas, pela melhor programação autônoma do carnaval de rua na Capital alagoana.
RECOMENDAÇÃO
QUEIMADA! – Esse filme é uma verdadeira aula de política internacional e/ou economia política, abordando as dores do parto da fase contemporânea do capitalismo, retratando o fim do sistema colonial através dos acontecimentos numa ilha perdida no meio do atlântico. O nome do lugar, “Queimada”, é por conta dos incêndios provocados pelos primeiros colonizadores para “limpar a área” e expulsar os nativos.
Ambientada no século XIX, a ilha em tela produz açúcar sob o regime de escravidão de africanos, colonizada por portugueses. Aí, a velha e não muito boa Inglaterra manda um agente adiantar o serviço em Queimada, incentivando e organizando uma revolução para pôr fim ao escravagismo, liquidando assim a “concorrência desleal” com os produtos britânicos e, de quebra, incorporando a uma coisa chamada “mercado” uma multidão de gente antes escravizada e que não podia comprar nada.
Filmaço! Marlon Brando (1924/2004) faz o papel de Walker, o agente, nem tão secreto assim, do Almirantado Britânico – dizem que este seria o seu papel preferido. Evaristo Márquez (1939/2013), interpreta o líder negro José Dolores. A produção é de 1969 e o diretor é Gillo Pontecorvo (1919/2006), camarada genial, que antes havia dirigido o excelente “Batalha de Argel”, em 1966. Um detalhe: a população de Queimada, nos áudios que capturam as falas dos extras locais, fala – de verdade – em português.
Já conversamos sobre esse filme antes, mas repito a pedidos, com nova opção para assistir essa raridade.
Queimada filme - Veja onde assistir online (justwatch.com)
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.