Enio Lins
PATRIMÔNIO HISTÓRICO, GRANDE RIQUEZA ALAGOANA
Há três dias foi reaberta a Igreja de Nosso Senhor do Bomfim, centenária edificação no município de Marechal Deodoro. O histórico imóvel é símbolo da comunidade de Taperaguá, sítio considerado o primeiro local de ocupação colonial na posteriormente denominada Vila de Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul.
Fechada para restauração por dois anos, a reabertura teve caráter de festa. Não poderia ser diferente. A emoção da paróquia se une à emoção de qualquer pessoa a ver o resultado das obras, especialmente o primoroso trabalho de recuperação da pintura original do teto da nave principal.
Uma fantástica composição em perspectiva (difícil de executar) foi descoberta e recuperada. Estava escondida sob sete camadas de tinta, acrescidas a cada intervenção indevida que o templo foi recebendo ao longo do tempo, e que ocultavam uma bela obra de arte. Está recuperada, graças ao talento e esforço minucioso da equipe que teve Jamieres Viana como restaurador e Jessica Garcia como arquiteta responsável pelo (literalmente) conjunto da obra.
Parabéns! Especialmente para a superintendência em Alagoas do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), encabeçada por Melissa Mota. Parabéns ao prefeito de Marechal Deodoro, Cacau, parceiro dessa e das demais obras do IPHAN na primeira capital alagoana. Parabéns a Dom Muniz Fernandes, Arcebispo Metropolitano e igualmente parceiro de primeira hora.
Na solenidade, o prefeito Cacau inovou e se comprometeu a criar uma estrutura municipal voltada para o Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural, com legislação e incentivos adequados para a recuperação e preservação dos monumentos locais e dos bens imateriais. Essa é uma decisão que precisa não só ser valorizada, mas copiada.
Alagoas necessita urgentemente fazer flexão semelhante, não só ampliando o que já existe, mas criando legislação específica, nova, e novos instrumentos institucionais, capazes de cuidar do patrimônio histórico, arquitetônico, artístico e cultural. Essa é uma tarefa para o governador Paulo Dantas. Missão que se soma a outras, todas urgentes e indispensáveis.
Os oito anos Renan Filho deram uma sacudida impressionante, inédita, em termos de obras e projetos estruturantes. Até por conta desses avanços, novos projetos precisam vir à tona, apoiando-se na base construída. Um ousado compromisso do governo estadual para com o patrimônio histórico alagoano está maduro. A hora é essa!
NOTAS
# “Lampião, 24 horas” é o título do espetáculo montado por Naéliton Santos com estreia anunciada para o dia 29 de dezembro.
# A peça será apresentada no espaço cultural Bazarte, no bairro de Jaraguá, em Maceió, com entrada franca, às 20 horas do dia 29.
# O elenco é formado por Lidiane Amorim, Alan Cardoso e o próprio Naéliton, ator versátil com vários personagens interpretados numa longa carreira.
# Lampião e Maria Bonita, personagens tornados clássicos no imaginário regional e nacional, em seus derradeiros momentos, são a base para o enredo.
HOJE NA HISTÓRIA
13 DE DEZEMBRO DE 1968 – O Ato Institucional nº 5, AI-5, é assinado pelo General Costa e Silva. É o golpe dentro do golpe, pois o Regime Militar já havia assaltado o poder em 1º de abril de 1964. E perseguia, prendia, torturava e matava opositores, mas existia uma ala de golpistas que queria mais violências e dominação total da sociedade civil. Como desculpa foram usados os fatos (reais) de que se formava uma resistência armada, e de que um deputado federal, Márcio Moreira Alves, fizera um discurso considerado ofensivo aos militares.
O objetivo do AI-5, entretanto, foi eliminar resquícios do sistema democrático. Autorizava ao ditador de plantão a intervir no Poder Legislativo em todos os níveis; censurava as artes; autorizava ao ditador demitir sumariamente qualquer funcionário público, inclusive juízes, e a cassar mandatos parlamentares – dentre outras barbaridades. E a censura prévia à imprensa garantia o silêncio sobre a corrupção do regime militar.
Dez anos depois, em 31 de dezembro de 1978, o AI-5 foi revogado pelo General Ernesto Geisel (presidente da República entre 1974 e 1979), como parte do processo de “distensão”. Um sofrido caminho – combatido internamente por militares que não aceitavam renunciar ao terrorismo de Estado – que desembocaria no fim do regime totalitário e na reconstrução da democracia a partir de 1985. Mas pelancos da ditadura, fãs dos torturadores, continuam conspirando pela volta do terror e da impunidade absoluta do AI-5.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.