Enio Lins
Festas natalinas: sucesso de público há muito mais de 2022 anos
Está no sangue nordestino, especialmente no DNA alagoano, o Ciclo Natalino. Oficialmente, esse período de festa é mais curto que o praticado. Pelas normas cristãs, esse tempo festeiro deveria ser da véspera do Natal, 24 de dezembro, até o Dia de Reis, 6 de janeiro. Mas a quadra natalina começa mesmo no comecinho de dezembro.
Sociologicamente esse é um espaço de celebrações muito importante, pois esse costume foi trazido da Europa para o Brasil provavelmente desde o início da colonização, ainda no Século XVI. Tudo indica que veio com os brancos pobres trazidos, mais das vezes, à força, mesmo não sendo escravizados como os africanos. Essa periferia europeia, lusitana, carregou para o Novo Mundo os festejos de origem pagã disfarçados de celebrações cristãs.
Quais países no mundo festejam religiosamente os solstícios como as antigas tribos europeias faziam? Sinceramente, não sei. Mas podemos conferir, sem trabalho de exaustivas pesquisas acadêmicas, que aqui celebramos o solstício de inverno (junho, com as festas juninas) e o solstício de verão (dezembro, com as festas natalinas) com muita bebida, muita comida, muita dança, muito amor e pouca paz.
Você sabe como essas fuzarcas acontecem hoje na Europa-mãe? Não faço a mínima ideia. Com o advento do cristianismo como religião oficial no Império Romano, por volta do ano 313, com o Imperador Constantino, orientação religiosa reafirmada, em 380, pelo imperador Teodósio, as festas pagãs mais populares no vasto mundo romano foram sendo cristianizadas. As festanças de fim de ano, dedicadas ao deus Sol (esperança da volta do calor em pleno inverno no Hemisfério Norte) e à fertilidade, foram transformadas na comemoração pelo nascimento de Cristo – a Bíblia não diz em que dia ou mês teria nascido o Salvador –, se justapondo à data do nascimento de Mitra, a divindade mais adorada entre os soldados romanos. E as festividades do meio do ano, ancestralmente dedicadas à deusa Juno foram assumidas pelo trio de santos Antônio, Pedro e João, mas não perderam – em português – o nome da antiga dona da festa, daí ser até hoje festas “juninas” e não “joaninas”.
Assim, nesse solo brasileiro, nordestino e alagoano, brotam as folias pagãs como há muitos milhares de anos antes de nossa época, devidamente rebatizadas e abençoadas pela Igreja. Continuam umas belezas de animação, comida, bebida, danças. Curtam à vontade! Essas festas fazem sucesso há muito mais tempo que 2022 anos.
NOTAS
# O governador Paulo Dantas comemora a entrega das obras na rodovia Linduval Cícero, ligando Taquarana e Belém.
# A rodovia Belém/Taquarana é a quinta obra do Programa Alagoas de Ponta a Ponta, cujo cronograma prevê mais 18 obras.
# Ontem o secretário da Fazenda, George Santoro, recebeu o Título de Cidadão Honorário de Maceió, concedido pela Câmara Municipal da capital.
# Carioca da gema, Santoro merece essa e todas as demais homenagens que Alagoas possa lhe prestar, pois seu trabalho mudou as finanças alagoanas.
RECOMENDAÇÃO
“Augusto Malta e o Rio de Janeiro” é um belo álbum de fotos da então capital federal colhidas entre 1903 e 1936 pelo maior fotógrafo do cenário carioca: Augusto Malta.
Augusto César Malta de Campos nasceu em Alagoas no dia 14 de maio de 1864, no município então chamado de Paulo Afonso, área hoje dividida entre Mata Grande, Inhapi e Canapi. Seus biógrafos, para atualizar o dado, localizaram o ponto contemporâneo do nascimento como Mata Grande. Augusto mudou-se para o Rio aos 24 anos e tentou ganhar a vida em várias ocupações, tendo sido guarda municipal, guarda-livros, comerciante, entregador... mas não acertou em nenhuma dessas atividades. Um dia trocou sua bicicleta de entregas numa máquina fotográfica e daí por diante sua vida mudou.
O sertanejo alagoano virou o grande fotógrafo do Rio de Janeiro e sua carreira brilhou mais ainda quando foi contratado pelo prefeito Pereira Passos para fotografar o antes-durante-depois das grandes obras que transformaram a capital de uma cidade colonial luso-brasileira (as fotos de Malta mostram uma urbanidade semelhante à antiga Salvador) para uma metrópole neoclássica inspirada em Paris.
Este álbum, com uma coleção de imagens entre 1903 e 1936, mostra além das famosas imagens urbanas, cenas da vida cotidiana carioca como pessoas trabalhando e se divertindo, e áreas interiores nos prédios de então.
Onde adquirir? Na Amazon, o livro, zerado, está por R$ 175,00; nas lojas associadas ao site Estante Virtual, usado, o volume começa com o preço de R$ 75,00.
Na internet, a obra de Augusto Malta pode ser visitada em:
portalaugustomalta.rio.rj.gov.br
Augusto Malta | MIS
www.historiadealagoas.com.br/augusto-malta-o-alagoano-que-melhor-fotografou-o-rio-de-janeiro
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.