Enio Lins
A ARTE E O OLIMPO DA ARTE
Comecemos a alternar as pautas aqui, nas viradas da semana, nesse comentário editorial da TIC TAC. Escrevinharemos hoje sobre arte. Artes, perdas e ganhos. Como não dizer nada sobre as duas grandes despedidas da semana que se encerra?
Gal Costa e Rolando Boldrin se foram. Viraram história, passam a viver para sempre enquanto memória, enquanto registro de suas obras, coisa que a tecnologia garante. Fizeram muito bonito ao longo de décadas e não só deixaram fãs, como ganharão mais daqui pra frente.
Gal era o nome. E sua imagem forte e sensual rimava com sua voz forte e sensual sem apelação, nem esforço extra para se destacar no cenário. Brilhava, simplesmente. Encantou por gerações, sem envelhecer nunca.
Geração encantada a dela: ela, Gil, Betânia, Caetano – só para citar o quadrilátero baiano dos “Doces Bárbaros” que efervesceram o Brasil com sua Tropicália contestatória e libertária desde os anos 60, luz em plena eclosão do golpe obscurantista de 1964.
Tom Zé, o genial, teve relembrada uma declaração dos anos 70: “Gal Costa sempre me trata com choques elétricos. Eu chego para ver ela e não vejo ela, e me arrebato por ela, e me desarrumo por ela”. Trecho disponível na internet, vale a pena assistir.
Rolando Boldrin era o espírito interiorano, do melhor do interior das pessoas, cortês, sábio, tolerante, conversa longa, sorriso largo, imagem que cristalizou a partir do programa Som Brasil, apresentado pela Rede Globo.
Boldrin, violeiro também, cantou e divulgou a vertente sertaneja antes do sertanojo ocupar todo espaço, recebendo gente de todo Brasil em seus programas nas várias redes de televisão por onde passou. Se vai sem deixar substituto à altura nessa área.
Ator de talento, Boldrin é pouco lembrado nesse segmento, e para ajudar a memória é só apelar para a Wikipédia e constatar sua atuação em 37 novelas e teledramas, entre 1954 e 1981, além de cinco filmes, entre 1958 e 2017. Confesso que me lembro.
24 álbuns musicais foram gravados por Boldrin, de 1974 a 2016, segundo o jornalista Mauro Ferreira em blog no G1: “o artista paulista construiu obra musical enraizada no universo do Brasil rural dos sons caipiras, das violas e das modas”.
Enfim, nesta semana, encerraram – com glória – suas carreiras Gal Costa e Rolando Boldrin, histórias diferentes, estilos distintos, mas o mesmo arrebatamento pela arte, pelas raízes do Brasil, o mesmo respeito pela cultura popular. Aplausos, aplausos!
NOTAS
# Agélio Novaes, artista plástico de muito talento, terá exposição individual no Anexo do Teatro Deodoro ainda neste ano. Imperdível!
# “Meu mundo é o papel” é o título da mostra de Agélio Novaes, com abertura prevista para a noite de 7 de dezembro. Curadoria de Walter Karwatzki.
# Charles Hebert, secretário de esporte e juventude, confirma que estão abertas as inscrições para o I Edital da Juventude Alagoana.
# O prêmio do I Edital da Juventude Alagoana é de R$ 50 mil, e as instruções estão na versão digital do Diário Oficial. É só acessar e seguir as regras.
RECOMENDAÇÃO
LAWRENCE DA ARÁBIA, o filme. Pode e deve ser lido também o livro “Os sete pilares da sabedoria”, onde T.E. Lawrence (1889/1935) conta sua experiência impressionante como oficial britânico entre os árabes com a missão de convencê-los a entrar na guerra ao lado dos ingleses. O filme se baseia no livro, e tem a direção de David Lean (1908/1991). No elenco, o magistral Peter O’Toole (1932/2013) é o protagonista, e o elenco conta com feras como Alec Guinness (1914/2000), Anthony Quinn (1915/2001) e lança no mundo da sétima arte o então jovem de origem egípcia Omar Sharif (1932/2015) – estamos falando de uma obra filmada em 1962! O relato autobiográfico de Lawrence mostra como o mundo ocidental agiu em relação aos povos árabes no conturbado cenário da I Grande Guerra. Uma aula de história e de política internacional em 216 minutos (três horas e 36 minutos de fita). Disponível no Google Play, Apple iTunes e no velho e bom formato DVD (mais barato na Amazon: R$ 29,90).
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.