Enio Lins
ADIANTE, SEM MEDO E SEM ÓDIO
“Os cães ladram, e a caravana passa” é um provérbio árabe popularizado pelo jornalista Ibrahim Sued (1924/1995), o mais famoso colunista social do Brasil. Isso merece ser dito em relação à histeria grupal que afeta a um monte de gente desocupada que, uma semana depois de ter seu candidato inapelavelmente derrotado nas urnas, uiva defronte aos quartéis numa latomia sem intervalo. A caravana está passando, mas a matilha quer morder - além de latir.
A caravana, para o bem do Brasil, não pode se deter. Nem se assustar com o ladrar da cachorrada em frenesi, embora prestar atenção seja indispensável, pois essa saliva canina está contaminada com um tipo perigoso de raiva animal, fatal para a Democracia. Todo cuidado é pouco. Essa matilha doente está sendo permanentemente inoculada com dose cavalares de vírus do fascismo, da mentira, da calúnia e da difamação através de uma poderosa rede de distribuição de fake news que choca mais pela credulidade do público-cúmplice do que pela habilidade do famigerado gabinete do ódio.
O remédio político é não cair em provocação e o medicamento de choque é a Lei contra quem dissemina esses vírus de forma organizada, de forma pensada e objetivando a subversão e o terrorismo (dá certo prazer em sapecar esses termos sobre a extrema-direita). O alvo é Estado Democrático de Direito, vítima de uma campanha que visa a ruptura das regras constitucionais. Destaque-se que a quebra da hierarquia e a infiltração miliciana segue célere entre as forças policiais em todo Brasil.
À maioria da população brasileira e à militância democrática não interessa ir às ruas, neste momento, para enfrentar presencialmente esses “patriotas do caminhão”. Interessa, sim, é apoiar à Justiça no combate contra todas essas ilegalidades, fornecer denúncias, registrar os fatos, reforçar nas redes sociais o combate virtual, sem tréguas, contra as mentiras do gabinete do ódio e seus associados. E o futuro governo federal deve manter todo o foco na ampliação das forças de apoio, levantar os graves problemas a enfrentar e não perder tempo em polemizar com os bagunceiros pós-eleitorais.
Podem latir, uivar, grunhir. A caravana democrática vai passando. Vai passar. Como cantou Chico, “Vai passar/ Nessa avenida um samba popular/ Cada paralelepípedo da velha cidade/ Essa noite vai se arrepiar (...)”. Reconstruir um Brasil democrático, próspero e inclusivo é a missão histórica, cidadã e urgentíssima – é coisa de arrepiar.
NOTAS
# O governador Paulo Dantas está convocado a dispensar suas (merecidas) férias, pois tem a tarefa de fazer um governo impecável e sua reeleição já aconteceu.
# Consolidar e superar os êxitos e avanços dos oito anos de Renan Filho é missão para ser realizada em apenas quatro anos. Não há tempo a perder.
# O mito está numa maré de azar; perdeu mais um eleitor que era a cara dele: Guilherme de Pádua, o assassino de Daniela Perez, morreu.
# E o movimento dos sem-o-que-fazer continua esparramado pelo canteiro da Fernandes Lima, ramando que nem erva daninha, estragando o gramado.
HOJE NA HISTÓRIA
8 DE NOVEMBRO DE 1799 – Derrota da Revolta dos Alfaiates, ou Conjuração Baiana, com muitas prisões e enforcamento de quatro de seus líderes (um quinto condenado conseguiu fugir). É considerada, depois dos quilombos, a primeira insurreição – com caráter revolucionário – dirigida por afrodescentes no Brasil. Segundo o portal Terra, “Celso Ramos, professor de História da Estácio, explica que a Revolta dos Alfaiates é um importante marco da história afrobrasileira por vários motivos. Porém, o maior destaque – e o que mais ultrajou a elite colonial – foi o fato de ter sido uma tentativa de libertação popular e, sobretudo, de escravizados alforriados. Dentre os 49 apenados após os processos judiciais, a maioria era composta por negros, miscigenados, chamados de mulatos na época, e cinco mulheres. Os quatro condenados à forca, Manuel Faustino dos Santos Lira, Lucas Dantas de Amorim Torres, João de Deus do Nascimento e Luiz Gonzaga, tinham em comum o fato de serem 'mulatos' e trabalhadores". Mais em www.terra.com.br
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.