Enio Lins
DEMOCRACIA SEM PRAZO DE VALIDADE
Deram um prazo de 72 horas para o golpe? Esse número cabalístico tem sido repetido e associado ao silêncio presidencial sobre o resultado das eleições. Enquanto isso a vagabundagem inconformada com a derrota prejudica a população com bloqueios nas rodovias mais importantes do País. Como é mesmo que a turma do lado oposto à Democracia rotula grevistas? Vagabundos, desordeiros, desocupados, terroristas... Pode-se usar os mesmos termos em relação a quem está fazendo esse esperneio antidemocrático agora?
Os poderes públicos devem reagir da mesma forma que reagem a bloqueios e manifestações dos sem-terra e dos sem-teto? Sim. Mas nunca da forma usada em Eldorado dos Carajás, jamais usando projéteis (nem de borracha) nem granadas ofensivas – esse tipo de reação é a forma criminosa de Estado e não podemos defender isso, nem contra quem defende golpes militares. Devemos defender a desobstrução das ruas para garantir o direito à livre circulação, até porque não existe possibilidade de acordo com manifestantes que defendem tão-somente o assassinato do Estado Democrático de Direito.
O lado de cá não é o lado de lá. Os resultados das eleições têm de ser respeitados, como o lado de cá respeitou o dito pelas urnas em 2018, assim como em todos os anos anteriores. Esse lado respeitou o impeachment de sua presidenta, embora não concordasse com as razões para isso. Do outro lado, até Collor soube respeitar seu impeachment, mesmo discordando da decisão. Lula, do lado de cá, respeitou a ordem de prisão que o mundo sabia injusta. O lado de lá não pode ter a liberdade de provocar um golpe. Essa diferença essencial, seminal, entre o lado de cá e o lado de lá está clara e nunca pode ser esquecida nem relativizada.
É-se indispensável não transigir com essas ideias e essas práticas. E é inadmissível se tolerar a contaminação de agentes públicos pelo esgoto golpista, especialmente quem está investido do poder de polícia, da missão de manter a ordem e fazer cumprir a Lei. Essa é a imagem mais perigosa deste momento, em cenas de desmoralização das forças policiais, ora de forma subserviente levando tiros e granadas de gente do lado de lá, ora se prestando a dificultar o trânsito de eleitores supostamente do lado de cá. A Justiça, em todos os seus níveis, está chamada a restabelecer a Lei e a ordem. Para todos os lados.
(notas)
# Durante anos, a residência do senador Renan Calheiros foi alvo de insultos que desconsideravam a família e o próprio líder lá presentes, assim como se desconsiderou a vizinhança de sua família. Essa prática não pode ser repetida a título de desforra.
# A vida ensina, a luta política ensina. É necessário aprender com a própria dor. Respeitar as casas alheias, respeitar os lares de adversários é uma lição tão simples quanto preciosa.
# Ainda se espera, até o fechamento desta coluna, um posicionamento de quem ainda ocupa a presidência da República. Sinceramente, gostaria de ter esperança de uma fala civilizada.
# Não podemos ser como eles, precisamos entender que a campanha acabou e do derrotado deve-se esperar um gesto de digno da cidadania democrática.
# Depois da confirmação da vitória de Lula, o real teve alta (2,60% frente ao dólar) e a bolsa teve alta de 1,31%.
HOJE NA HISTÓRIA
2 DE NOVEMBRO DE 1975 – Assassinado Pier Paolo Pasolini, intelectual e ativista italiano, cineasta, escritor e poeta. Sua morte, aos 53 anos, permanece não esclarecida, pois o assassino confesso, posteriormente, declarou que assumiu a culpa por ter sido torturado para isso, versão que ganhou reforço pelas evidências que o assassinato do genial artista teria sido cometido por mais de uma pessoa. Na lista de seus filmes impactantes, se destacam “Mama Roma”, “Teorema” e “Saló”. Esquerdista, homossexual e iconoclasta, Pasolini criou obras eternas no cinema e nas letras, e era alvo de muitos preconceitos e do ódio dos conservadores. Mais sobre Pasolini em:
Filmes dirigidos por Pier Paolo Pasolini * Melhores Filmes
Pier Paolo Pasolini » Recanto do Poeta
Pier Paolo Pasolini - Biografias - UOL Educação
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.