Enio Lins
UMA PANTOMIMA TERRORISTA
Corrupção, segundo o Aurélio, é “deterioração, decomposição física de algo; putrefação”, além de “desonestidade, roubo, desvio de recursos”. Jair B é sinônimo de corrupção em todos os sentidos, mas em relação ao escândalo da tentativa de assassinato levado a efeito por seu aliado Roberto Jefferson, o primeiro significado fica ainda mais forte.
Tudo o que Jair B põe a mão, apodrece. Se putrefaz. O que quer que ele abrace, deteriora, desmoraliza-se. Tanto esforço para manipular o comando da Polícia Federal para que? Para transformá-la em polícia política e sua guarda pretoriana. E o resultado? Agentes da PF transformados em alvo no clube de tiro particular do falso messias, com um porta-voz das baixarias bolsonaristas se sentindo à vontade para meter umas 20 balas e jogar granadas (!) contra policiais federais que tentavam cumprir sua missão e reconduzi-lo à cela.
Existe algum antecedente disso na história do Brasil? Não. Bob Jefferson estava tão seguro de sua impunidade – com alguém do andar de cima o garantindo da reação (que seria) óbvia da polícia alvejada –, que filmou a si próprio na cena do crime, fazendo proselitismo da morte, se gabando dos projéteis que endereçara à Polícia Federal e afirmando que era só o começo. Poderoso. A PF recebeu os balaços e as granadas em obsequioso silêncio, enquanto o ministro da Justiça se deslocou às pressas, de Brasília, para o cenário da tentativa de assassinato de seus colegas... para que fazer o mesmo?
Teria sido o pistoleiro Bob Jefferson uma edição 2022 do Adélio Bispo? O falso messias sempre tenta um “milagre”, como a facada salvadora em 2018. Poderia ser, igualmente, tentativa de desviar a atenção do distinto público, tirando o foco da granada que Jair & Guedes detonaram contra o salário-mínimo e/ou dos tiros de fuzil que Guedes & Jair dispararam contra as aposentadorias. Sinceramente, sei não. Acho que esses bandidos todos estão disparando a esmo, alucinados pela iminência de uma derrota no dia 30.
Estruturas de Estado, fundamentais para a segurança da Nação e da população estão contaminadas, corrompidas pelos miasmas bosonaristas. Apodrecem. A PF virou prato feito para os apetites da familícia, e se humilha pelo mito, seja levando tiro, seja na patética cena de prisão do amiguinho Bob Jefferson, seja nas ações pirotécnicas contra políticos que não votem no Jair. E essa contaminação não se limita à PF.
NOTAS
# O cinismo de Jair B é estupefaciente: o mito agora diz que nem conhece Bob Jefferson, que nem foto tem agarrado com ele. O incrível é que o gado concorda!!
# O bolsonarista Bob Jefferson tem atuado como porta-voz pessoal de Jair B para arroubos que o carinha da faixa não tem coragem de verbalizar.
# A articulação entre Jair e Bob é tão íntima que este “entrou na Justiça” para que aquele fosse ainda mais irresponsável nas ações golpistas.
# Em 17 de setembro Bob acionou a Justiça Militar para que Jair viesse a ser “obrigado” a intervir no Senado e atacar (mais) o STF.
HOJE NA HISTÓRIA
25 de outubro de 1975 – Vladmir Herzog é torturado até a morte na prisão do II Exército, em São Paulo. Jornalista prestigiado, era diretor da TV Cultura e havia se apresentado espontaneamente para prestar esclarecimentos sobre sua ligação com o PCB. Vlado era seu nome original e havia nascido em 1937, na cidade de Osijek, então Reino da Iugoslávia, de família judia, que conseguiu fugir do país logo depois da invasão nazista. Para “justificar" o homicídio, os militares montaram um cenário de “suicídio” tão ridículo que é possível imaginar uma provocação grosseira à sociedade civil e, em especial, ao próprio general-presidente Ernesto Geisel e sua política de “distensão”, que visava desativar os grupos de terror da ditadura. O assassinato de Herzog provocou uma grande reação de repúdio contra o autoritarismo e teve enorme repercussão internacional. Um dos principais líderes dos protestos, junto com o Cardeal Paulo Evaristo Arns e o rabino Henri Sobel, foi o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Audálio Dantas, alagoano de Tanque d’Arca. Em 2012 Audálio publicou “As duas guerras de Vlado Herzog” (Editora Civilização Brasileira, 406 páginas), a melhor biografia sobre o menino judeu que sobreviveu ao nazismo europeu, mas não conseguiu escapar do fascismo brasileiro.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.