Alisson Barreto
Jesus Cristo é de direita ou de esquerda?
Jesus Cristo é de direita ou de esquerda?
I. Origens históricas dos termos direita e esquerda política
As definições políticas de direita e esquerda surgiram de um embate na idade média, entre dois grupos políticos em que um apoiava o rei e outro era contra. O rei pôs à sua direita os que o apoiavam e à esquerda, os demais.
O contexto era um processo revolucionário iniciado em 1789 d.C., denominado de Revolução Francesa, a partir da qual deu-se o início da Idade Contemporânea, segundo alguns historiadores.
II. Decorrências do estar à direita ou à esquerda do rei
Dessa colocação, ao lado direito do rei ou à sua esquerda, deduzem-se as posturas direitistas, as quais defendem a manutenção e perpetuação da situação, e esquerdistas, como as que defendem mudanças. Daí, respectivamente, serem chamadas de conservadores e progressistas. Naquela perspectiva monárquica, a direita era pela conservação do poder com as tradições da nobreza e a esquerda era pelo apoio à burguesia, portanto, de um lado os que estavam com o monarca e do outro os que queriam um desenvolvimento mais independente do rei.
Note que o Brasil não é mais um Estado monárquico, mas democrático, republicano e presidencialista. Ou seja, não temos um rei, mas um presidente. Porém, a lógica é a mesma: o poder junto do chefe de estado e de governo, que é a direita, lutando pela conservação do poder nas mãos dos que o detêm. À esquerda, a busca de incentivo ao progresso dos que não estão diretamente no governo, com apoio à diversidade de correntes não ligadas ao governo. O desdobramento disso é, portanto, um pouco diferente do que alguns afirmam, no Brasil.
Os extremos desse posicionamento seriam uma resistência à mudança e ao progresso versus uma aversão às tradições e ao conservadorismo. Ironicamente, a nossa bandeira, com seu slogan positivista, propõe “ordem e progresso”. Mas uma parte imersa no extremismo reage com aversão a pautas progressistas ou conservadoras.
No extremismo, aliás, muitos até se esquecem do que realmente é pauta da direita ou pauta da esquerda e começam a atacar valores como democracia, solidariedade e direito à vida, que não são pautas propriamente direitistas ou esquerdistas, mas valores humanos fundamentais à vida em sociedade.
III. Mas onde está o erro do direitismo e esquerdismo brasileiro?
O erro está em esquecer as origens dos termos e substitui-las pelo termo comunista, onde a esquerda seria o lado pró-comunista e a direita o lado anticomunista. Ora, como visto, isso é uma deturpação dos termos. Aliás, uma prática marxista muito comum: ressignificação de nomenclaturas e desconstrução de valores. E convenhamos: uma deturpação dos termos e significados é conveniente a quem queira polarizar, como o marxismo faz, dividindo a sociedade em dois grupos sociais antagônicos. No caso atual: os que são da direita versus os que são da esquerda.
Na prática, o dualismo em que os defensores de uma corrente ideológica ou de outra cobram de que as pessoas se posicionem como direitistas ou esquerdistas, segue a máxima marxista de dividir para que a massa revoltada assuma o poder, defendendo o partido que ela própria proporcionou, na esperança de proporcionar o bem comum, que na concepção de uns é chamada de comunismo e na de outros pode ser chamada com outros nomes, como direita ou esquerda.
IV. Jesus Cristo é de direita ou esquerda? Quanto ao império romano e quanto aos judeus
Quanto ao império romano, essa resposta fica evidente na resposta de Nosso Senhor Jesus Cristo ao ser perguntado sobre o pagamento de impostos.
Naquela ocasião, os judeus queriam pegá-lo pela palavra para condená-lo e indagaram-no se era lícito pagar tributo ao império romano. Jesus respondeu: de quem é imagem na moeda? (na moeda havia a imagem do imperador César) Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Portanto, de um lado estava o poder governamental no mundo e do outro o Reino de Deus. Lembre-se que, em outro momento, Jesus diz “meu reino não é deste mundo”.
Quanto aos judeus, percebe-se que eles se colocavam em lado opositor a Nosso Senhor Jesus Cristo, querendo condená-lo. Mas se coloque naquela situação e imagine: você é um cristão e alguém pergunta: você é do lado de César ou dos judeus? Em relação ao império romano, a direita é a que está do lado do imperador (do rei, lembra?) e a esquerda seriam os que não concordam em ter que apoiar o imperador romano (os judeus que desejavam o fim da submissão ao império romano). Como se depreende dos tópicos desta postagem, o tema dessa pergunta será retomado na última parte deste texto.
V. Jesus Cristo é de direita ou esquerda? Quanto ao cristianismo e aos princípios da Sagrada Escritura.
Quanto ao Cristianismo, Jesus é o centro que norteia a vida cristã. Em outras palavras, o cristianismo é cristocêntrico, ou seja, tem foco centralizado em Nosso Senhor Jesus Cristo. O mesmo se dá quanto à Sagrada Escritura, Jesus é a plenitude da Palavra, é onde a Bíblia se realiza. O Antigo Testamento prepara a humanidade para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e o Novo Testamento anuncia a Boa Nova que é a vinda de Cristo e a plenitude que se dá n’Ele.
Em termos apocalípticos, quando se fala em Reino de Deus, tem-se que Jesus é o Rei, Cristo Rei. Ele está sentado à direita de Deus Pai e virá, em Sua glória, para julgar os vivos e os mortos; à sua direita estarão os escolhidos por Ele para a salvação eterna e à sua esquerda os que estarão condenados eternamente.
Note, porém, que o texto apocalíptico não se baseia na perspectiva histórico política de direita ou esquerda de um rei da terra, sendo-lhe superior. Ao contrário, o rei francês que, na Revolução Francesa, separou à direita os conservadores e à esquerda os revolucionários progressistas é que pode ter tomado como base o aspecto bíblico, numa versão política. Afinal, enquanto o cânon bíblico foi definido nos anos 300 d.C., a Revolução Francesa ocorreu cerca de 1.400 anos depois, iniciando-se em 1.789 d.C..
Resumindo: na perspectiva bíblica apocalíptica, fala-se em à direita ou à esquerda de Cristo Rei, para dizer os que deliberadamente escolheram seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo ou negar-se a seguir o Caminho salvífico. Na perspectiva mundano temporal, a óptica direitista é pelo conservadorismo ao lado do status quo governamental e a esquerdista é a progressista revolucionária.
Por conseguinte, não é Jesus que vai seguir um político ou lado ideológico, são as pessoas com suas filosofias, ideologias e escolhas que podem seguir Jesus Cristo ou não.
VI. Na política e na ideologia, o Cristianismo segue a direita ou a esquerda?
Como se percebe, o Cristianismo segue a Nosso Senhor Jesus Cristo, é cristocêntrico. Se fosse “mundanocêntrico” seguiria as linhas político ideológicas direitistas ou esquerdistas. Mas sãos os ideologistas e políticos que são convidados a seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo, não o contrário.
Ora, o Cristianismo se dá na vivência no Corpo de Cristo, seguindo o Cristo Cabeça. E o cristão busca a comunhão no Corpo de Cristo, morrendo com Ele para com Ele viver. A perspectiva do Cristão é ao sofrer, sofrer com Cristo e em Cristo. O cristão vive e morre com Cristo e com Cristo e para Cristo ressuscita. As dores de seu calvário são com Cristo, para Cristo e no Corpo de Cristo, e não a perspectiva dos chamados bom ladrão e mau ladrão.
De modo que o que a direita ou a esquerda proponham é que podem ou não adequar-se a o que Cristo propõe e o cristão aprova, não o inverso. Ou seja, não é o cristão que abraça e segue a direita ou a esquerda, mas a esquerda e a direita que têm que propor coisas que se adequem aos valores cristãos.
O cristão não é rebanho de político, mas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim também os pastores de Cristo direcionam o povo de Deus para os plano de Deus, não para os planos de governos dos homens.
VII. A máscara marxista do dualismo geopolítico atual
Fique atento, cristão! Nem todo aquele que diz “meu deus, meu deus” entrará no reino dos Céus. O Mal pode aparecer com vários nomes, várias capas, várias cores, mas suas propostas não estão na humildade, estão no orgulho. Assim, uma prática marxista pode dar-se em atribuir a qualquer um que se oponha ao seu plano de poder o nome de comunismo ou nazismo, ou fascismo (conforme o país em que se esteja) e, como o marxismo propõe: dividir a sociedade entre o seu lado (chamando-o de anticomunista, antifascista ou antinazista) e o outro lado, chamando pelo nome que causará mais aversão, medo ou repugnância em seu país. De modo que, na Rússia é melhor chamar o lado oposto de nazista e, no Brasil, conforme a linha ideológica que o cidadão abrace, chamar a oposição de fascista ou de comunista.
Uma das habilidades do marxismo prático é a reedição dos termos, o que, evidentemente, contrasta com a proposta do método científico, no qual a clareza da definição dos termos viabiliza a precisão da compreensão dos termos e da comunicação. Acontece, porém, que ao combater o as terminologias usuais e os mecanismos de formação e de informação, o revolucionário desvalora a pesquisa científica, nivelando-a a qualquer achismo e ideologia, reduzindo tudo a narrativa. Então, o revolucionário marxista, ainda que não saiba, está cooperando com a implantação do marxismo em seu país, ainda que acredite estar combatendo-o.
Em síntese e consequentemente, nota-se que o Brasil está diante de uma revolução política e ideológica. Nessa revolução, que subsiste no dualismo marxista de um lado contra outro: tem-se (A) um lado da tesoura que ataca o outro lado chamando-o de comunista e (B) do outro lado da tesoura, um lado que chama o primeiro de fascista.
Na prática, o Divisor, conseguiu dividir famílias e amigos entre dois lados que se digladiam, como o marxismo planejava. Chame-os da cor que quiser e com o nome que quiser, o que se vê na prática é um dualismo antagônico que atenta contra os princípios constitucionais da pluralidade de ideias e ideologias e contra os valores cristãos do respeito humano e altruísmo.
No mundo real, o Maligno consegue induzir o homem a acreditar que o inimigo é o outro e não a desunião e o antagonismo que ele semeia. No mundo atual, muitos acreditam que não ser direitista ou esquerdista é estar do lado errado. O verdadeiro Inimigo da sociedade é aquele que divide para ter mais força, que separa seres humanos de um lado ou de outro, levando seres humanos a acreditarem que outros seres humanos são seus inimigos, enquanto o Divisor rondeia, dando risadas.
Eu, porém, escolho a Nosso Senhor Jesus Cristo e é a Ele que sigo. E você? Já tomou sua decisão em relação a Cristo ou vai ficar seguindo a outros senhores?
Dado em Maceió, no dia de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, 12 de outubro de 2022.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto
Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.