Enio Lins

NO MEIO DO TÚNEL, UMA LUZ

Enio Lins 04 de outubro de 2022

O obscurantismo mostrou sua força, mas não apagou todos os fachos de luz. Na disputa para a presidência da República, apesar do “mito” ter engordado um pouco além do que as pesquisas vinham apontando, o resultado não foi surpreendente, confirmando Lula na faixa dos 50% dos votos válidos, e com mais 1,7% teria levado a faixa no primeiro turno. Para o estrupício jair ficando na cadeira faltaram 6,8% de sufrágios à direita.

A extrema-direita barbarizou
mesmo foi na eleição proporcional. Como diz a filosofia popular, foi penico cheio, a fossa estourou, jogando dejetos para o alto. O senado, aparentemente, virou um circo de horrores com gente como Damares, Mourão, Moro, Magno, o cosmonauta Pontes. Restará ao lado são da casa uma tremenda batalha cotidiana, a partir do começo do próximo ano, para manter um mínimo de seriedade e de ética num colegiado estrelado por negacionistas de tão baixo nível.

Mas o negacionismo
terá de tirar da mira a urna eletrônica, pois a tese da vulnerabilidade do sistema foi derrotada pela própria eleição da bancada escatológica e pelos votos a mais do que o esperado para o meliante da faixa. A desinteligência nacional agora tenta atacar as pesquisas como forma de desacreditar alguma coisa ligada ao estudo e ao saber. Mas fica a curiosidade sobre o que a “auditoria militar” tem a dizer sobre o desempenho do sistema eletrônico que elegeu o general do Covid, Pazu, com expressivíssima votação para a deputança federal, além de ter depositado na conta do ao falso messias cerca de 10% a mais de sufrágios que o previsto por todas as pesquisas.

Nesse túnel para um tenebroso passado
, o futuro mantém acesas suas chamas de luz, sendo a principal delas a chance de eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 30 de outubro. Mas esse lume tem contra si, desde ontem, um redobrado esforço das trevas para o apagar, pois ao bolsonazismo interessa, acima de tudo, a concentração de poder em seu “mito” – tradução brasileira dos termos “duce” e “führer” (em italiano e alemão dizem a mesma desgraça). A reeleição da obtusa criatura que ainda está no palácio do Planalto representará um abraço de afogado contra a sempre frágil democracia brasileira, pois unirá Executivo e Legislativo numa cruzada contra a liberdade, contra a ética, contra a ciência, contra as artes, contra a diversidade, contra a Natureza.

HOJE NA HISTÓRIA

Mural antifascista lembra a batalha da Cable Street, na própria rua

4 DE OUTUBRO DE 1936 – Travada a Batalha da Rua Cable, em Londres, entre a União Britânica de Fascistas, e a frente antifascismo formada por judeus, democratas, socialistas, anarquistas e comunistas. Na época, a tendência nazifascista tinha força no Reino Unido e o próprio rei, Eduardo VIII, era simpático à Hitler. Liderados por Oswald Mosley, a extrema-direita anunciou uma grande passeata dos “camisas negras” num domingo, pelas ruas da região de East End, área londrina basicamente ocupada por judeus. A comunidade protestou e pediu ajuda às autoridades para não autorizar a provocação, mas não só o apelo foi negado como a polícia foi escalada para proteger os provocadores direitistas. Do outro lado da corda, Phil Piratin, judeu e militante do Partido Comunista da Grã-Bretanha, membro do Parlamento Britânico, convocou uma contramanifestação que foi integrada por democratas, socialistas, anarquistas, comunistas e naturalmente muitos judeus. E, naquele domingão britânico, pau quebrou na Cable Street. Ao fim e ao cabo de uma feroz briga de rua, os fascistas recuaram e o apurado do dia apontou para 175 pessoas feridas (dos dois lados, inclusive policiais) e prisão de 150 manifestantes antifascistas. Em dezembro do mesmo ano o Rei Eduardo VIII foi derrubado numa articulação de lideranças britânicas antinazistas, apresentando, para inglês ver, a justificativa de que “renunciava por amor”, pois a regras monárquicas o impediam de casar com sua mulher, a americana Wallis Simpson.