Enio Lins
MILÍCIA DE ELITE II
Tropa de Elite II é um filme de José Padilha, rodado em 2010, sequência de Tropa de Elite I. Wagner Moura é o astro principal nos dois filmes na pele do oficial PM Nascimento, linha-dura. No primeiro filme, de 2007, o Capitão Nascimento enfrenta, mais na bala que na lei, o crime organizado; e os traficantes cruéis e sanguinários são combatidos por métodos cruéis e sanguinários. No segundo filme, um amadurecido e sempre amargurado (agora tenente-coronel) Nascimento tromba com as milícias, grupos criminosos formados a partir da própria polícia e que, na película, são representados pelo “Major Edvan” e “Coronel Fábio”.
A milícia é o principal problema contemporâneo da segurança pública brasileira porque, como Tropa de Elite II retrata, ela é parida no sistema policial, cresce e se desenvolve criminosamente usando a estrutura pública que deveria combater o crime. Normalmente inicia se apresentando como “justiceira” e “matadora de bandidos, em defesa das famílias de bem” num enredo antigo, cuja manifestação mais popular foram os “esquadrões da morte” que proliferaram entre os anos 50 e 80.
Daqueles tempos da Scuderie Le Coq, vem a figura do policial/bandido tido como herói, cujo ícone maior foi o assassino de aluguel e ex-policial Mariel Mariscot de Matos, playboy do crime organizado carioca até ser assassinado em 1981. A covardia típica da polícia bandida fez com que o também notório criminoso Lúcio Flávio (assassinado em 1975) protestasse publicamente contra essa acumulação de cargos: “bandido é bandido, polícia é polícia”.
Ainda mais nociva que suas antecessoras, a milícia contemporânea é a forma industrializada do que o Esquadrão da Morte foi modelo artesanal. As milícias hoje representam holdings do crime, controlando de cima e ao mesmo tempo prestando serviços para traficantes, contrabandistas, falsários, proxenetas e tudo mais, até a popular gatonet.
A eleição da facada, em 2018, levou as milícias ao poder, num quadro muito mais grave que o filme de Padilha denunciou e, em verdade, uma fusão dos “Major Edvan” e “Coronel Fábio”, está cingindo a faixa verde-amarela. Passa da hora de jair entendendo o “mito” como um miliciano e não um militar. O falso Messias é, em verdade, a antítese do que deve ser um soldado, não passa de um mito miliciano e quer, de todo jeito, continuar a usufruir do poder máximo. Quer a reeleição, mas acima de tudo saliva por um golpe autoritário para ter a impunidade absoluta.
NOTAS
# A armação “familiar” contra a candidatura de Paulo Dantas parece que deu chabu, deixando a representação bolsonarista local em desespero.
# Faltam três dias para o Brasil se livrar da versão miliciana do nazifascismo que tomou conta da presidência da República. Tic Tac, Tic Tac...
# Mas, não se esqueçam, além de livrar a presidência desse encosto, o Congresso Nacional também precisa ser desinfetado da praga bolsonazista.
# Não se esqueçam também da Assembleia Legislativa e deem uma chance aos novos nomes que estão se candidatando neste ano. Renovar sempre é bom.
# Findando o processo eleitoral brasileiro (em sua primeira fase) de 2022, é necessário um voto de parabéns à Justiça Eleitoral, que tem sido exemplar.
HOJE NA HISTÓRIA
30 de setembro de 1937 – Getúlio Vargas lê, na Hora do Brasil, um documento denunciando uma suposta articulação comunista chamada “Plano Cohen”. Posteriormente reconhecido como uma falsificação pelos próprios generais que o fabricaram, o “plano” foi usado como justificativa para suprimir as eleições que se realizariam em 1938 e jogar o País numa ditadura que durou até o final da II Grande Guerra. O general alagoano Góis Monteiro, líder das forças armadas desde 1930, foi um dos falsificadores do “Plano Cohen”. Detalhe: em 1937 o Partido Comunista do Brasil estava totalmente desbaratado e com a maior parte de sua direção presa desde 1935 (por conta da “Intentona”), e não tinha lógica nenhuma um projeto para tomada do poder pelos comunas.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.