Enio Lins

SUPREMO SALVADOR DA PÁTRIA

Enio Lins 23 de setembro de 2022

O Poder Judiciário se transformou na esperança civilizatória do Brasil. O Legislativo, conduzido por uma maioria governista, o Centrão, virou num anexo do Palácio do Planalto, turbinado por um propinoduto de R$ 3 bilhões chamado “Orçamento Secreto”. E o poder executivo passou a ser escrito em minúsculas por ter se reduzido a um comando miliciano. Nesse cenário caótico, o Supremo Tribunal Federal, única luz disponível no túnel, passou a ser o alvo dos obscurantistas.

Não é um ente santificado o Judiciário, indiscutível. Há coisa de quatro anos esse poder derrapou com a maracutaia jurídica que levou um candidato à prisão para eleger outro e ainda por cima o principal juiz da questão assumiu, na cara de pau, um ministério no governo de quem garantiu a eleição. E, mais de trinta anos atrás, em 1988, a justiça militar absolveu (num segundo julgamento, quando havia condenado num primeiro júri) um capitão acusado de indisciplina e de preparação de atos terroristas – o resultado é essa tragédia vivida hoje.

Nos dias em curso, com o aumento das pressões e das ameaças de golpe militar, a atitude heroica, de resistência tem sido do Supremo Tribunal Federal. A petulância miliciana, antidemocrática, produziu, inclusive, vídeos bizarros, como os do ex-deputado Roberto Jefferson “se amostrando” como um Toni Montana (Scarface, interpretado por Al Pacino) equipado com coldres de sovaco e empunhando armas de grosso calibre, ameaçando sem rodeios a Democracia e autoridades constituídas. Com toda Justiça, foi engaiolado.

Querendo provocar mais um tumulto, esse mesmo ex-deputado dos coldres no sovaco protocolou no STM (Superior Tribunal Militar), em 16 de setembro, uma solicitação, com 23 páginas, clamando para os militares intervirem no Senado e no STF para “garantir a lei e a ordem”, numa pantomina jurídica destinada a “responsabilizar” a “presidência da República e o Ministro da Defesa” caso essas “autoridades” não venham a determinar tal ação às Forças Armadas. É patético, sim, mas é mais uma tentativa de testar as instituições e outro convite aos fardados para apunhalarem a Democracia. O tal pedido, novamente numa interpretação golpista do artigo 142 da Constituição Federal, tramita em sigilo, segundo o Metrópoles.

Supremo Tribunal Federal
, parabéns por tudo que tem feito pela Democracia! Mas redobre sua atenção, pois tentativas de intimidação e articulações golpistas seguem em cartaz.

NOTAS

# Anteontem, foi decretada a falência da Itapemirim, provavelmente a mais icônica empresa de transporte de passageiros no Brasil.
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Com dívidas superiores a R$ 2 bilhões, a Itapemirim é mais uma grande empresa que vai para o caderninho das capotadas no governo do Jair.
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Um dos maiores jornais do mundo, o britânico The Guardian disse em primeira página, abordando a questão ambiental, que “o mundo deve salvar o Brasil do suicídio bolsonarista”.
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"O Brasil registrou mais de 72.000 incêndios este ano, um aumento de 84% em relação ao mesmo período de 2018, segundo o INPE. Nem todos eram incêndios florestais, mas mais da metade estava na Amazônia", publicou o The Guardian.

HOJE NA HISTÓRIA

23 DE SETEMBRO DE 1939 – Morre Freud, em Londres, onde havia se exilado para fugir do Nazismo. De origem judaica, Sigismund Schilomo Freud nasceu em 1865, em Freiberg in Mähren (na época, Áustria, hoje, cidade de Príbor, na República Tcheca); adulto, mudou o prenome para Sigmund. Médico neurologista, foi quem abriu as portas da mente humana e inovou nas formas de abordagem da saúde mental sem o uso de medicamentos. Criou o método da psicanálise, baseado no ouvir e interpretar os relatos de pacientes. As polêmicas se estendem até hoje, mas o fato indiscutível é que ele mudou radicalmente a forma de entendimento e tratamento de distúrbios mentais. Publicou obras de grande importância como “A interpretação dos sonhos”, “Sobre a Psicanálise na vida cotidiana”, “Totem e tabu”, “Moisés e o monoteísmo”. Com a anexação da Áustria pela Alemanha Nazista, Freud, já padecendo de um câncer no céu da boca, sofreu o confisco de seus bens e sua biblioteca foi incendiada. Exilou-se na Inglaterra, mediante pagamento de resgate aos captores nazistas.