Enio Lins

A ignorância odeia Paulo Freire

Enio Lins 22 de setembro de 2022

Imensurável ainda os estragos causados à cultura brasileira pela onda retrógrada que se alastrou pelo País em ação da extrema-direita contra o sucesso dos governos por ela tidos como “esquerda” – aí englobados, grosso modo, tanto as gestões petistas quanto as tucanas, igualadas por um raciocínio tão estúpido quanto rasteiro.
Paulo Freire (1921/1997) é um dos principais alvos dessa fusão de obscurantismo com negacionismo. Um dejeto da virulência ideológica circulantes nas redes compara Freire com Foucault, Hobsbawm, Simone de Beauvior, Sartre... e agride a todas essas inteligências notáveis com coices ensandecidos. Os princípios da liberdade na educação, da democratização do ensino, do saber vinculado às questões mais sentidas em cada comunidade são vistos como subversivos e perigosos.

Atribuem ao educador pernambucano a responsabilidade de “deixar em situação deplorável o ensino no Brasil nos três níveis [sic]”, desconhecendo que o Método Paulo Freire é concebido originalmente para adultos analfabetos. Ignoram também que o pai da “Pedagogia do Oprimido” – terceira obra mais citada mundialmente em estudos na área de ciências humanas – é o educador brasileiro mais prestigiado no Ocidente, e seu currículo conta com pelo menos 48 títulos no nível de Doutor Honoris Causa em universidades brasileiras e do exterior.

Aplicado hoje na Alemanha no ensino do idioma alemão para refugiados estrangeiros, o Método Paulo Freire só foi integralmente experimentado no Brasil em 1961, na localidade de Angicos, Rio Grande do Norte, quando 300 adultos, cortadores de cana, foram alfabetizados em apenas 45 dias. Esse modelo chegou a ser inscrito no Plano Nacional de Alfabetização elaborado pelo governo João Goulart, mas foi excluído pelo golpe de 1º de abril de 1964. Como se sabe, a fórmula freiriana tem como base alfabetizar com o uso das vivências locais, e termos próprios do cotidiano de quem, até então, não sabe ler ou escrever. Processo que ainda hoje, 61 anos depois de sua primeira experiência, espera ser utilizado em larga escala no Brasil.

Alvo do ódio por tentar um método revolucionário de alfabetização, Paulo Freire foi preso em 1964 e forçado a se exilar. O mundo o acolheu: em 1969 foi convidado para ensinar em Havard e em 1970 escolhido como coordenador emérito do Conselho Mundial de Igrejas, sediado em Genebra, na Suíça. Voltou ao Brasil com a redemocratização, mas nem depois de morto a ignorância nacional e o analfabetismo político o perdoam.

NOTAS

# Com a proximidade da derrota eleitoral, em pânico, o bolsonazismo reacende seu rastilho golpista.
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Nova pesqZuisa divulgada pela Genial/Quaest indica crescimento para 10% da vantagem de Lula sobre o segundo colocado.
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Por determinação do palácio do Planalto, o ministério da Defesa aumenta a pressão militar contra o sistema eleitoral.
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Líderes da América Latina se posicionam, em carta, pedindo desistência do candidato do PDT à presidência do Brasil.
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Oscilando para baixo, a candidatura presidencial do PDT marcou apenas 6% na pesquisa Genial/Quaest.

HOJE NA HISTÓRIA

22 DE SETEMBRO DE 490 a.C – Batalha de Maratona, vencida pelos gregos contra os invasores persas comandados por Dario I, líder do Império Aquemênida. As tropas gregas, aparentemente, não poderiam vencer os persas, pois os reforços estratégicos prometidos por Esparta não chegariam a tempo. Dentre as muitas lendas sobre isso, uma diz que a determinação era: se perdessem a batalha, os moradores de Antenas teriam de ser mortos (por suicídio ou executados) para não virarem escravos. Quando a inesperada vitória estava garantida, o comandante grego, Milcíades, determinou que o melhor corredor de seu exército, Fidípedes, desse um pique de Maratona até Atenas para avisar do êxito, evitando a morte em massa de sua gente. Fidípedes saiu a mil e venceu em tempo recorde os 40 quilômetros entre Maratona e Atenas. Chegou, disse: “Vencemos!” e caiu morto de cansaço. As crônicas dizem também que esse mesmo atleta havia corrido, dias antes, 200 Km em dois dias, para levar outro recado até Esparta. Não é moleza mesmo. O porquê da atual prova de Maratona ter 42,195 quilômetros é outra história.