Enio Lins

CONSTRANGIMENTO NA ONU

Enio Lins 21 de setembro de 2022

Lula, em setembro de 2006, falando na abertura da Assembleia Geral da ONU, fez um discurso de estadista, assim como em seus pronunciamentos anteriores nas Nações Unidas, assim como FHC também procurava fazer naquela tribuna, assim como os presidentes brasileiros faziam antes. Naquele ano, o último de seu primeiro mandato, Luiz Inácio da Silva falou sobre a importância de se combater a fome no planeta.

O Brasil falava para o mundo, tendo como referência os grandes problemas universais. “A fome alimenta a violência e o fanatismo” disse o presidente do Brasil há 16 anos, acrescentando que “o mundo de famintos nunca será um lugar seguro”. A voz brasileira era ouvida e respeitada, até por lideranças ideologicamente distanciadas como George W. Busch, então presidente dos Estados Unidos.

“Uma nova ordem mundial mais justa e democrática, que priorize o desenvolvimento social e econômico, beneficiará principalmente os países ricos. A paz só virá com o desenvolvimento compartilhado” discorreu o líder brasileiro em 2006, em Nova Iorque, quando salientou que “só haverá segurança no mundo se todos tiverem direito ao desenvolvimento econômico e social. Se não quisermos globalizar a guerra é preciso globalizar a justiça”.

Em 2006, quando de sua fala na ONU, Lula era candidato à reeleição, mas seu discurso não abordou a disputa eleitoral brasileira em nenhum momento, e manteve-se no foco de estadista: “A guerra jamais trará segurança, a guerra só gera monstros, o rancor, a intolerância, o fundamentalismo, a negação destrutiva das atuais hegemonias. É preciso dar razões aos pobres para viver, não para matar ou morrer”.

Em 20 de setembro de 2022, Jair Messias transformou a fala brasileira na abertura da Assembleia Geral da ONU em um discurso eleitoreiro, centrado em sua própria pequenez de político medíocre e incapaz de olhar para além da própria braguilha. Atacou Lula, o adversário mais bem colocado na disputa presidencial, jactou-se do próprio comício feito em 7 de setembro, espinafrou as gestões anteriores e provincializou noutros temas próprios para Odorico Paraguaçu num palanque qualquer numa esquina de uma Sucupira terceiro-mundista.

Ao New York Times não passou despercebido o vexame internacional causado pelo mito: “Em um palco mundial, o presidente do Brasil fez campanha para uma posição que ele pode ´perder”. A Associated Press descreveu que “em plena campanha eleitoral”, Jair “pintou um quadro rosado da economia brasileira”. Vergonha mitológica, mais uma.

NOTAS

# O PDT, nacionalmente, acumula perdas em função do posicionamento pró-mito de Ciro Gomes, pois dirigentes históricos da sigla discordam dessa postura.
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Haroldo Ferreira, médico e liderança trabalhista paranaense, pediu desligamento do Diretório Nacional do PDT por conta dos rumos da campanha cirista.
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Vice-presidente da Fundação Leonel Brizola e integrante gtambém do Diretório Regional do PDT do Paraná, Haroldo Ferreira declarou voto em Lula.
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Recomenda-se assistir o documentário “A lei da selva: a história do jogo do bicho”, no Canal Brasil. Para Pedro Cabral, uma síntese do Brasil miliciano.

HOJE NA HISTÓRIA

21 DE SETEMBRO DE 1976 – Um atentado terrorista mata o diplomata chileno Orlando Letelier, opositor da ditadura Pinochet, em Washington DC. O americano Michael Townley confessou, anos depois, que colocou a bomba numa ação organizada pela polícia política chilena, a DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), sob ordem direta do ditador Augusto Pinochet, e contou com a colaboração da organização criminosa CORU (Coordinación de Organizaciones Revolucionarias Unidas), formada por refugiados cubanos nos Estados Unidos. Junto com Letelier estavam um casal de americanos, Michael e Ronni Moffitt, ela morreu e o marido ficou gravemente ferido. O governo americano entregou, em 2016, à presidente chilena Michele Bachelet, documentos que comprovam a responsabilidade do governo Pinochet no assassinato de Letelier. Esse atentado teria sido uma ação da Operação Condor, empreendimento terrorista de direita financiado pelos governos dos Estados Unidos a partir de 1975, embora o mesmo terrorista Townley tenha sido responsabilizado pela morte – também por explosivos – do general Carlos Prats (assassinado na Argentina em 1974). Depois de Letelier, os métodos teriam sido disfarçados como se fossem causas naturais ou acidentes, e as mortes dos ex-presidentes brasileiros João Goulart e Juscelino Kubistchek, ambos em 1976, são consideradas suspeitas de terem sido provocadas por agentes da Operação Condor.