Enio Lins

VIVA A EMANCIPAÇÃO ALAGOANA!!

Enio Lins 16 de setembro de 2022


Há 205 anos, em 16 de setembro de 1817, Alagoas – enfim – conquistou sua autonomia política. Era reivindicação antiga, oficializada em carta de 9 de dezembro de 1797, enviada por Bento Bandeira de Melo para o Secretário da Marinha e Ultramar do Império de Portugal, Conde de Linhares, justificando e defendendo a emancipação alagoana.


A força política de Recife & Olinda
era maior e travou a ideia. O poder recifense se estendia até os limites do Cerará e acompanhava o curso do São Francisco por longa extensão hoje baiana. O litoral sul da então capitania pernambucana, área em formato triangular e tendo como principais assentamentos as vilas de Penedo, Alagoas do Sul e Porto Calvo, sempre olhou de forma enviesada para a sua capital formal e, desde a chegada dos holandeses em 1630, se nota um posicionamento distinto e opositor, sendo Calabar um símbolo disso ao optar pelo lado batavo, e não fez esse movimento sozinho, embora tenha pagado solitariamente por essa decisão. A administração holandesa, até 1645, tratou esse triangulo de forma especial e criou as primeiras comarcas, oficializando as três povoações citadas.


Em 1808, a aristocracia recifense se indignou
, entre outras coisas, com a escolha do Rio de Janeiro, e não Recife, como nova capital, quando do deslocamento da família real lusitana para o Brasil. Salvador da Bahia também foi excluída, e antes era a capital da colônia, mas os baianos ficaram de boa e acompanharam, com berimbaus e tudo, o “meu rei” até as terras cariocas e lá se ajeitaram. Ao longo de nove anos, as camadas elitistas sediadas em Olinda & Recife pensaram em fazer-se república independente, englobando o Nordeste inteiro.


A ideia da sedição
ganhou peso intelectual nos salões do Convento de Olinda e espaço político com os senhores de engenho, militares e traficantes de escravos. Mas a coisa se precipitou pelo gesto do capitão José de Barros Lima, o Leão Coroado, que matou seu comandante português (Brigadeiro Barbosa de Castro), no dia 6 de março de 1817, quando recebeu voz de prisão por participar do grupo separatista. Daí por diante o pau quebrou.


A revolta não prosperou
, pois não teve êxito em conseguir apoios no resto da Região, nem mesmo no atual território de Pernambuco. Isolados dentro e fora de casa, os rebelados só travaram, e perderam, um único confronto, em Ipojuca (região de Porto de Galinhas). Leão Coroado findou preso, condenado por crime de lesa-majestade e executado em 10 de julho. Sua família refugiou-se em Alagoas, na região de Quebrangulo, e lá sua descendência vive em paz até hoje – informações detalhadas com Marcelo Lima, estudioso da história e prefeito quebrangulense, cujo Lima não é por acaso.


No vácuo de poder
causado pela desarrumação da revolta recifense (erroneamente chamada de “revolução”), prosperaram as antigas reivindicações emancipacionistas em relação à administração pernambucana (Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas). E, nesse embalo, a terra das alagoas (a palavra lagoa era grafada como alagoa) virou Província através de alvará régio assinado por Dom João em 16 de setembro de 1817. O hoje esquecido Ouvidor Batalha (Antônio José Ferreira Batalha) foi um dos principais articuladores da emancipação alagoana, além de artífice do reconhecimento de Maceió como vila, em 1815.


Dom João VI
, Príncipe-regente na época, e um dos mais hábeis dirigentes portugueses – apesar de ser vítima de uma imagem ridicularizada construída por adversários –, aproveitou a deixa para equilibrar o poder na Região e, além de Alagoas, consolidou a autonomia das províncias da Paraíba (emancipada oficialmente desde 1799) e do Rio Grande do Norte (emancipada só em 1822), que haviam sido engolidas pelo “grande Pernambuco”, e fortaleceu a Bahia, que em 1824, já sob Pedro I, ganhou toda a região limítrofe à jusante do Rio São Francisco, a partir de Paulo Afonso, antes ocupação pernambucana.


Nas disputas territoriais
pós-emancipação, o trilátero alagoano findou perdendo um triângulo menor ao centro-norte na área determinada em 1817, e ficou com esse formato de “V”, pois três municípios alagoanos voltaram a ser pernambucanos: Bom Conselho, Águas Belas e Correntes, numa contenda política/geográfica só encerrada em 1945, com um acordo entre os governos dos dois Estados. No apurado final, dos aproximadamente 30 mil Km² determinados para Alagoas há 205 anos, ficamos com 27,8 mil Km², perdendo 2,2 mil Km² para Pernambuco. Tudo bem. E não se fala mais nisso.

HOJE NA HISTÓRIA



16 de setembro de 1944 –
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) ocupa Massarosa, primeira cidade italiana importante conquistada pelos pracinhas. Dessa localidade, as tropas brasileiras avançaram para novas vitórias em Camaiore e Monte Prana. O Brasil demorou a se posicionar ao lado dos aliados, pois a ditadura Vargas era simpática à Alemanha Nazista, embora se declarasse neutra. O que convenceu mesmo o governo brasileiro a guerrear contra o nazifascismo foi a velada ameaça americana de invadir o Nordeste. Muito sabido, Vargas não deixou barato e negociou com Roosevelt altos investimentos dos Estados Unidos (como a primeira siderúrgica nacional) e até Maceió ganhou alguma coisa: o traçado e as primeiras pistas das atuais avenidas Fernandes Lima e Durval de Góis Monteiro, o Aeroporto Campo dos Palmares, e a base para hidroaviões na Lagoa Mundaú (hoje desaparecida). Já o Porto de Jaraguá, concluído em 1940, foi fruto de negociação anterior com a Alemanha. Em Alagoas existe um excelente museu sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, na 20ª CSM (Forte São João, perto da Estação Ferroviária), montado pela saudosa Major Elza Cansanção, veterana da FEB.