Enio Lins
NO RINGUE, BRIGAM TRÊS CONTRA UM
Faltam, a partir deste domingo, 21 dias para a eleição. Parece não haver mudança significativa no horizonte, mas, de repente, outra faca pode riscar na pista! Sem imprevistos, tudo indica dois segundos-turnos. Um no dia 2, outro no dia 30, ambos em outubro, ambos Lula x Jair. As demais candidaturas são coadjuvantes, embora nomes, números e fotos apareçam na urna no dia 2.
Apesar todo mundo querer resolver a parada no primeiro turno, a história das eleições presidenciais brasileiras reserva, pós-ditadura de 64, esse privilégio apenas para FHC, em 1994 e 1998. Todas as demais, seis das oito disputas foram decididas no segundo turno. Até este final de semana, matematicamente, Lula conserva a chance de vir a ser eleito de primeira, mas...
Contra a vitória de Lula no primeiro turno uma série de fatores se alevantam, e o que menos joga peso é o multimilionário esforço do segundo colocado para não ser nocauteado no dia 2. Jair pilota o mais rico tesouro de campanha na história do Brasil, mas o que pode salvar o falso messias de beijar a lona no round inicial não é essa dinheirama toda, e sim o trabalho das candidaturas postadas nos terceiro e quarto lugares. Ciro e Simone suam as camisetas para levar a disputa até o dia 30, e estão conseguindo.
Lula, pessoalmente, jogou um papel de vanguarda em relação ao próprio PT e foi buscar o ex-adversário Alckmin, num movimento de mestre. Janones foi convencido a retirar a candidatura para apoiar o número 13 já no primeiro turno, e foram reduzidas as arestas com Marina Silva. Mas o MDB não veio, o que representa senão a única, mas a mais sentida perda entre as siglas aliadas. O hercúleo esforço de Luiz Inácio para ampliação em torno de seu nome, apesar dos avanços expressivos, não garantiu até hoje a eliminação do segundo turno.
Jair, por sua vez, insistiu na estreiteza e manteve um general como vice, chutando Mourão, com quem tinha atritos desde 2018, e convocando Braga Netto, oficial que comandava a intervenção militar no Rio de Janeiro quando a vereadora Marielle (desafeta de seu filho zero-dois) e o motorista Anderson foram assassinados. Do ponto de vista miliciano, ele está certo: imobiliza e traz a cúpula das forças armadas para seu lado, alimenta sua base fanatizada com a visão de uma chapa puro-sangue (versão tropical da “raça pura”), enquanto o Orçamento Secreto é inteiramente torrado no próprio quintal, sem compartilhamentos outros.
Ao modo de cada um, Lula e Jair cumpriram suas metas na formação das respectivas chapas. O próximo passo seriam os “tratados de não-agressão”, ou alianças não-oficiais com outras candidaturas. Nesse item, até agora, Jair tem tido mais sorte, quer tenha ou não se esforçado nesse sentido. Lula não tem a simpatia de nenhuma outra candidatura com alguma expressão nesta briga, como Haddad teve em Boulos há quatro anos, pleito em que cabo Daciolo foi o Robin de Jair na batcaverna da direita no primeiro turno, e no segundo turno, foi vital para a vitória do 17 a mitológica viagem de Ciro à Paris.
Ciro Gomes prefere Jair a Lula, isso ulula. Sua munição de grosso calibre é disparada contra o candidato do PT, enquanto tiros de festim são direcionados ao ex-capitão. Parece que Gomes enxerga o porvir mais ou menos assim: a reeleição do mito , obviamente, seria um desastre maior ainda para o Brasil e, no duplo caos bozonazista, 2026 escancararia suas portas de banda a banda para ele. Pois Lula, não ganhando em 2022, estaria naturalmente debilitado quatro anos depois, aos 81 anos. Se o candidato do PDT não pensa assim, age como se assim pensasse.
Simone atira nos dois, tanto faz Lula ou Jair. Marca posição também de olho em 2026, candidatíssima. O que vier tá bom para ela, pois manterá sua postura de oposicionista/situacionista com seu velho e sabido MDB permanecendo, como sempre permaneceu desde a redemocratização, simultaneamente como oposição e situação em qualquer governo que seja eleito. O que Simone Tebet ganha em 2022 é a projeção nacional de seu nome, antes circunscrito à sua Região e ao agronegócio. E em qualquer hipótese, um segundo turno é lucro, por conta das articulações próprias para o encerramento do pleito.
Lula é o mais prejudicado nesse jogo, pois, na prática, briga sozinho contra três. Lógico que o candidato do PT pode e deve mobilizar ainda mais sua militância e, principalmente, ampliar sua comunicação com as bases do PDT e MDB. Ainda restam 21 dias. Tic, tac, tic, tac...
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.