Enio Lins
O DIA DA FACADA QUE GANHOU UMA ELEIÇÃO
Até 6 de setembro de 2018, as pesquisas indicavam Jair Messias congelado numa segunda posição, perdendo para Lula nas previsões de primeiro e segundo turno. Mesmo com o ex-presidente tendo sobre os ombros a brutal campanha da Lava-jato, penalizado por sucessivas decisões judiciais e preso a partir de abril, os cenários não se alteravam nas previsões de nenhum instituto. O ex-capitão, político profissional desde 1988, agora em tentativa de voo presidencial, já tinha gastado toda sua munição, colocado todo o seu bloco nas ruas e seu gabinete do ódio estava moendo na pressão máxima – não tinha mais para onde ir. Em 31 de agosto, a possiblidade de Luiz Inácio ser candidato foi detonada juridicamente e a oficialização do nome de Fernando Haddad como candidato do PT era aguardada para breve, o que geraria um fato novo no processo eleitoral, atraindo ainda mais holofotes para a campanha petista. As perspectivas eram péssimas para o candidato da arminha. Aí...
No dia 6 de setembro de 2018 uma inverossímil facada mudou o curso dos acontecimentos e salvou, satanicamente, a candidatura do falso messias. O surpreendente acontecido na cidade mineira de Juiz de Fora gerou um sem-número de teorias da conspiração – todas verossímeis. Não é possível explicar como – cercado por uma multidão de fãs machos-alfa, bombadões e versados nas artes da defesa pessoal, inclusos nesse conjunto dezenas de policiais altamente treinados e escalados formalmente para garantir a segurança do candidato – um estranho no ninho pudesse caminhar contra essa corrente humana e, metros antes do alvo, erguer a mão com uma faca enrolada toscamente num saco de plástico azul (chamando mais a atenção), avançar assim armado e... “pimba”: tocar no varonil abdômen mitológico!! Como?? Era mito a capacidade técnica-militar de todos esses homens de bem?!?! E que mito é esse? Um capitão paraquedista que berra ser “altamente treinado para matar”, mas não é capaz de se defender de uma faca de cozinha?
A partir 6 de setembro de 2018 um tsunami varreu a mídia. Todas as pautas foram submersas pela notícia de que o ex-capitão treinado para matar estava treinando para morrer. A imprensa nacional teve de manter equipes permanentes à porta do hospital, cobrindo a convalescência mitológica, com flashs ao vivo informando em tempo real: “agora o mito dormiu”, “hoje o mito cagou”, “o mito comeu papinha”, “o mito mijou”, “o filho do mito chorou”. O horário eleitoral gratuito foi soterrado por essa avalanche de reportagens, 24 horas por dia, em benefício de um único candidato, o Jairzinho Beira-Morte. Em setembro, pelo Datafolha, o recém-esfaqueado já havia pulado nove pontos em relação à pesquisa anterior (!) e ocupava o primeiro lugar com 28% (contra 22% de Haddad, agora o candidato do PT). Era o efeito facada.
Independentemente do 6 de setembro de 2018, as pesquisas naquele ano nunca indicaram um posicionamento confortável para o mito. No começo das enquetes, em janeiro de 2018, pelo Datafolha, Jair estava em segundo com 16% contra 37% de Lula. Em agosto, o mesmo instituto mostrava o mito estacionado, oscilando dentro da margem de erro, com 19% (contra 39% de Lula). Houve a facada e, no frigir dos ovos, Jair ganhou, embora não como desejado pelo seus. Inclusive sofreu uma redução de vantagem sobre Fernando Haddad de 14,75% no primeiro turno para 10,26% no segundo turno. Vitória indiscutível do futuro genocida. Porém um detalhe fere o orgulho bolsonarista mais do que a faca do Adélio: somando os votos do candidato do PT com os votos brancos e os nulos, compareceram às unas e se recusaram a votar no mito 58.133.604 pessoas, número superior aos 57.479.847 sufrágios no falso messias.
A data de 6 de setembro de 2018 entrou para a história como o Dia da Dependência do Brasil ao maior picareta que já passou pela presidência da República. Biltre que, cingido da faixa verde-amarela, banalizou a morte, ampliou e sublimou a corrupção, sigilou os próprios malfeitos por 100 anos, derrubou a economia brasileira da 9ª para a 13ª posição mundial (em 2011, alcançamos o sexto lugar!) e que, por suas estupidezes pessoais, envergonhou e envergonha o País frente todas as demais nações do planeta.
HOJE NA HISTÓRIA
Na primeira foto, o fã-clube bolsonarista filma o momento da suposta facada, sem preocupação em defender o mito; na segunda foto o mito é socorrido com um monte de inexplicáveis lenços (ou guardanapos) brancos que impedem a visão do ferimento
6 de setembro de 2018 – Um cidadão identificado como Adélio Bispo de Oliveira ultrapassou toda a espessa linha de segurança do ex-capitão e o teria atingido com uma faca, apesar da suposta ferida não ter sangrado, nem mesmo ter aparecido nos momentos seguintes ao atentado qualquer furo na camiseta do ferido.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.