Enio Lins

A imobiliária do ex-capitão

Enio Lins 01 de setembro de 2022

Apareceu um tico do tesouro escondido da família do Jair. Adquirir 101 imóveis e, além disso, pagar por metade deles R$ 25,6 milhões (valores corrigidos) em dinheiro vivo não é coisa de amador. Ou é um fenômeno do empreendedorismo interplanetário ou é – obviamente e ululantemente – uma tremenda evidência de corrupção do mais alto nível.

Uma centena de imóveis não pode ser resultado da rachadinha coordenada pelo Zero-um durante anos, nem produto dos depósitos do Queiroz (futuro deputado?) na poupança de Dona Micheque, nem mesmo cabem no escândalo dos gastos no cartão corporativo. Essa verdadeira cidadezinha mitológica é o apurado de algo muito maior, algo que berra para ser investigado com a devida propriedade.

Da PGR não se pode esperar nada nesse sentido, pois o que lá chega relativo às falcatruas da familícia Bozonazi é imediatamente jogado no fundo da gaveta mais funda. Se alguma autoridade da Polícia Federal ousar mexer no assunto será mexida de lugar. O escândalo do patrimônio imobiliário do Mito, espalhado em nomes familiares, inclusive Vale da Ribeira adentro, é sério candidato ao esquecimento e à impunidade.

Onde foram parar as autoridades em geral e pessoas comuns indignadas com os “escândalos apontados pela lava-jato”? Certamente, naquela época de frenesi, não notaram que o partido mais citado nos inquéritos não foi o PT, mas o PP, sigla a qual estava filiado o ex-capitão Bozo – que, por acaso, sempre esteve dentro dos partidos governistas mais denunciados por corrupção, desde o período que Paulo Maluf era o astro nessa área. E, integrando novamente um dos partidos principais do Centrão, o PL, Jair se manteve no grupo de siglas que controla o Orçamento Secreto – imoralidade que ele, na condição de presidente da República, convenientemente não vetou. Coincidentemente é o mesmo grupamento que controlava a diretoria de Abastecimento da Petrobras na época do “Petrolão”, através de Paulo Roberto Costa (morto, de câncer, em 13 de agosto deste ano).

Os imóveis da mitológica família podem também ser os endereços de operações com as famigeradas milícias, ou será que é só amor desinteressado o que liga a familícia do Jair a essas organizações criminosas? Um dos milicianos mais notórios, o finado capitão Adriano da Nóbrega, foi homenageado em vida pelo amigo (e parceiro?) Flávio, o Zero-um, quando o primogênito do mito era deputado estadual carioca, em 2005, com a mais alta condecoração legislativa do Rio de Janeiro, a Medalha Tiradentes.

Evidências não faltam, basta seguir os imóveis.

NOTAS

# Hoje será a abertura da XI Festa Literária de Marechal Deodoro e o tema, Carnaval & Cultura, será o mote do Baile Histórico à Fantasia. Três grupos, com opções diferenciadas musicais, vão se revezar no palco defronte ao antigo píer, assim que a noite chegar.

# O primeiro debate entre os candidatos para o governo de Alagoas chamou atenção pela ofensiva de Collor contra Cunha (pela conquista total do eleitorado bolsominion), mostrando que a briga entre o segundo e terceiro colocados é a mais quente.

# A estratégia de Fernando Collor é clara e objetiva: se conseguir trazer para sua candidatura os votos ideológicos bozonaristas, somando-os com os seus próprios, multiplicará suas chances neste pleito. Elle seguirá tratorando Cunha por conta disso.

# Paulo Dantas soube se mover com eficiência, mantendo a calma e escolhendo bem os candidatos a quem fazer perguntas, driblando os adversários mais perigosos. Saiu-se das polêmicas e fez propaganda da continuidade das obras governamentais.

# Rui Palmeira manteve-se sereno e dividiu os petardos, de forma mais ou menos equânime, contra os três adversários mais bem situados, assumindo a postura de tríplice opositor. Teve sucesso na tática.

# Cunha, sob fogo intenso de Collor, naturalmente se prejudicou. Machucado, sobreviveu, mas vai seguir sob forte bombardeio collorido até o dia da eleição.

# O professor Cícero Almeida foi professoral, didático, elegante. Mas as inexistentes chances no processo eleitoral limitam-no a “marcar posição”.

# Pouco afeito à movimentação política/eleitoral, Luciano Almeida ficou no 0x0 nem empolgou nem decepcionou. Invisibilizou-se.

# O grupo de comunicação 7 Segundos foi o grande vencedor do debate, ampliando seu prestígio e sua audiência a partir do pioneiro confronto, estrategicamente localizado em Arapiraca, sua cidade-sede.

HOJE NA HISTÓRIA

1º de setembro de 1902 – exibido o primeiro filme de ficção científica, “Viagem à lua”, com roteiro e direção de Georges Méliès (1861/1938), a produção é igualmente pioneira no uso de animação e efeitos especiais (segundo a Wikipédia), sem faltar doses de humor. A película, com 14 minutos, é baseada em contos de Júlio Verne e H. G. Wells. Méliès é considerado o primeiro a fazer filmes de terror, com Le Manoir du Diable (A Mansão do Diabo), com 2 minutos, produzido em 1896. De tão marcante, “Viagem à lua” é frequentemente revisitado, inspirando novas produções e com suas centenárias cenas trazidas para filmes contemporâneos.