Enio Lins
EM BUSCA DE UM ABRIGO DIGNO, BELO E SEGURO
Há uma semana aqui foi abordado o tremendo risco que a cultura alagoana corre em relação à preservação da nossa maior coleção de obras sacras e de arte moderna brasileira. Como essa bomba-relógio segue armada, vamos repetir a dose, tentando acrescentar novos elementos.
Um novo local para abrigar a Coleção Pierre Chalita é a principal necessidade de agora. Apesar dos cuidados verdadeiramente heroicos da equipe Solange Lages Chalita, leia-se Zelito Lages (elogie-se também a Jean-Pierre Le Campion), não é possível manter a saúde das peças por muito mais tempo, em função das condições ambientais nos espaços improvisados para guardá-las. Restaurar e manter esse acervo é outro item vital.
2020, ano bissexto, em seu quadrienal 29 de fevereiro, marcou o desabamento de metade do telhado do belo casarão que abrigava, com muito zelo e charme, a parte visível da Coleção Pierre Chalita. Exposta às chuvas e ao vento, a estrutura do imóvel entrou em perigo de colapso e, em consequência, todo acervo ali guardado perigou mais ainda, por ser constituído de peças com séculos de existência e/ou obras de arte criadas sobre suportes delicados como telas, vidros, porcelanas, madeiras leves.
Há dois anos e meio, portanto, esse tesouro perecível está amontoado da melhor forma possível, mas inadequada. Um local apropriado é, portanto, a urgência absoluta. Cada dia que passa esse patrimônio se deteriora inapelavelmente. O outro nó é que a Fundação Pierre Chalita está, há anos, sem cobertura econômica, antes da coberta de telhas desabar. O que complementava e complementa as despesas da instituição é a contribuição pessoal de Solange Chalita e de sua família, o que é materialmente insustentável. Aí entra o segundo item estratégico: não é mais o caso de ceder um imóvel em comodato para a Fundação, mas de receber em comodato o patrimônio do Museu Pierre Chalita.
Pierre Najm Chalita – justiça lhe seja feita – sempre teve uma visão pública sobre sua coleção privada, e nunca escondeu o desejo por um local ainda mais pertinente que o palacete cedido pelo Governo do Estado, em comodato, na Praça dos Martírios, nos idos de 1983. Chalita lutava por um espaço maior e, o que ele considerava essencial, um endereço capaz de dispor de área de estacionamento suficiente para acolher ônibus de turistas e das escolas alagoanas. Muita gente via nisso uma “ambição desmedida do Pierre”, mas ele estava certo. Para qualquer museu, a visitação estimulada é mais importante que a visita espontânea. As pessoas conduzidas até as peças de arte representam a real multiplicação do saber, pois são novos corações e mentes, antes distantes, que se abrem para o melhor da arte e da história.
Um local adequado é questão de cidadania e sustentabilidade para instituições como o Museu Pierre Chalita. E Alagoas dispõe, em Maceió, de mais de um imóvel nessas condições, próprios públicos, inclusive. A cessão de uma dessas edificações já seria uma grande economia no desembolso total, pois o sugerido aqui na edição do final de semana passado (próximo-passado, como se dizia corretamente, antanho) foi estimado para a construção ou aquisição de um imóvel, valor que precisa ser acrescido ao item subsequente, o processo de restauração das milhares de peças com naturais problemas de conservação.
Quais os locais possíveis, já de uso público, que poderiam abrigar o patrimônio museológico da Fundação Pierre Chalita? Para encurtar conversa, cito só duas possiblidades: Uma seria o Palácio Episcopal, casa que tem tudo a ver com o amplo segmento de arte religiosa da coleção, belo imóvel restaurado há poucos anos e possuidor de grande área de estacionamento; a Arquidiocese de Maceió não se negará a discutir essa questão, e Dom Muniz Fernandes tem uma larga visão cultural. Outra ótima opção seria o antigo CCBI, mais antigamente conhecido como a Faculdade de Medicina, localizado na homônima praça, também com farta área para estacionamento; a UFAL não se negaria a estudar esse projeto, e o Reitor Josealdo Tonholo, cientista com alma de artista, é pessoa também certa para essa ideia.
Fico por aqui, mas o lugar que Pierre mais desejava não era nenhum desses dois. Os olhos dele faiscavam pelo antigo Colégio Diocesano... Sabe onde fica isso, governador Paulo Dantas?
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.