Enio Lins

EM BUSCA DE UM ABRIGO DIGNO, BELO E SEGURO

Enio Lins 13 de agosto de 2022

Há uma semana aqui foi abordado o tremendo risco que a cultura alagoana corre em relação à preservação da nossa maior coleção de obras sacras e de arte moderna brasileira. Como essa bomba-relógio segue armada, vamos repetir a dose, tentando acrescentar novos elementos.

Um novo local para abrigar a Coleção Pierre Chalita é a principal necessidade de agora. Apesar dos cuidados verdadeiramente heroicos da equipe Solange Lages Chalita, leia-se Zelito Lages (elogie-se também a Jean-Pierre Le Campion), não é possível manter a saúde das peças por muito mais tempo, em função das condições ambientais nos espaços improvisados para guardá-las. Restaurar e manter esse acervo é outro item vital.

2020, ano bissexto, em seu quadrienal 29 de fevereiro, marcou o desabamento de metade do telhado do belo casarão que abrigava, com muito zelo e charme, a parte visível da Coleção Pierre Chalita. Exposta às chuvas e ao vento, a estrutura do imóvel entrou em perigo de colapso e, em consequência, todo acervo ali guardado perigou mais ainda, por ser constituído de peças com séculos de existência e/ou obras de arte criadas sobre suportes delicados como telas, vidros, porcelanas, madeiras leves.

Há dois anos e meio, portanto, esse tesouro perecível está amontoado da melhor forma possível, mas inadequada. Um local apropriado é, portanto, a urgência absoluta. Cada dia que passa esse patrimônio se deteriora inapelavelmente. O outro nó é que a Fundação Pierre Chalita está, há anos, sem cobertura econômica, antes da coberta de telhas desabar. O que complementava e complementa as despesas da instituição é a contribuição pessoal de Solange Chalita e de sua família, o que é materialmente insustentável. Aí entra o segundo item estratégico: não é mais o caso de ceder um imóvel em comodato para a Fundação, mas de receber em comodato o patrimônio do Museu Pierre Chalita.

Pierre Najm Chalita – justiça lhe seja feita – sempre teve uma visão pública sobre sua coleção privada, e nunca escondeu o desejo por um local ainda mais pertinente que o palacete cedido pelo Governo do Estado, em comodato, na Praça dos Martírios, nos idos de 1983. Chalita lutava por um espaço maior e, o que ele considerava essencial, um endereço capaz de dispor de área de estacionamento suficiente para acolher ônibus de turistas e das escolas alagoanas. Muita gente via nisso uma “ambição desmedida do Pierre”, mas ele estava certo. Para qualquer museu, a visitação estimulada é mais importante que a visita espontânea. As pessoas conduzidas até as peças de arte representam a real multiplicação do saber, pois são novos corações e mentes, antes distantes, que se abrem para o melhor da arte e da história.

Um local adequado é questão de cidadania e sustentabilidade para instituições como o Museu Pierre Chalita. E Alagoas dispõe, em Maceió, de mais de um imóvel nessas condições, próprios públicos, inclusive. A cessão de uma dessas edificações já seria uma grande economia no desembolso total, pois o sugerido aqui na edição do final de semana passado (próximo-passado, como se dizia corretamente, antanho) foi estimado para a construção ou aquisição de um imóvel, valor que precisa ser acrescido ao item subsequente, o processo de restauração das milhares de peças com naturais problemas de conservação.

Quais os locais possíveis, já de uso público, que poderiam abrigar o patrimônio museológico da Fundação Pierre Chalita? Para encurtar conversa, cito só duas possiblidades: Uma seria o Palácio Episcopal, casa que tem tudo a ver com o amplo segmento de arte religiosa da coleção, belo imóvel restaurado há poucos anos e possuidor de grande área de estacionamento; a Arquidiocese de Maceió não se negará a discutir essa questão, e Dom Muniz Fernandes tem uma larga visão cultural. Outra ótima opção seria o antigo CCBI, mais antigamente conhecido como a Faculdade de Medicina, localizado na homônima praça, também com farta área para estacionamento; a UFAL não se negaria a estudar esse projeto, e o Reitor Josealdo Tonholo, cientista com alma de artista, é pessoa também certa para essa ideia.

Fico por aqui, mas o lugar que Pierre mais desejava não era nenhum desses dois. Os olhos dele faiscavam pelo antigo Colégio Diocesano... Sabe onde fica isso, governador Paulo Dantas?

Palácio Episcopal e Faculdade de Medicina, em fotos antigas, seriam também endereços adequados para o grande Museu Pierre Chalita