Alisson Barreto
Maria e o sábado
Maria e o sábado
No Cristianismo, o grande dia é o Domingo e o sábado é o dia da espera pelo grande dia. E o grande dia para os cristãos é justamente o dia em que se comemora a ressurreição de Jesus Cristo.
É porque toda a semana objetiva o dia da ressurreição que o domingo é chamado fim de semana, ou seja, não é por acaso, é dia de realização de objetivo, de finalidade. Ou seja, o primeiro dia da semana é também o fim dela. Há uma finalidade alcançada a comemorar, que é a ressurreição do Cristo. Em Cristo, o domingo é o primeiro e o último dia da semana, é o começo e o fim. E fim não meramente em contagem, mas na finalidade. É um dia de mergulhar além do tempo e transcender.
Na língua portuguesa, o termo que nomeia o primeiro dia da semana vem do latim Dies Domini, que significa “dia do Senhor”. Enquanto em muitos idiomas o primeiro dia remete a uma idolatria ao Sol, ou seja, fazem alusão a um deus “fake” chamado Sol (ex.: em inglês, Sunday).
Ao cristianizar países que cultuavam o chamado deus Sol e ficar bem claro que o Sol é apenas uma das coisas criadas, os países que mantiveram a mesma forma de falar os nomes da semana
(que eu me recorde apenas os países de língua portuguesa mudaram os nomes dos dias da semana e o fizeram graças ao Catolicismo) passaram a ver os dias da semana apenas como uma alusão ao sistema solar: criado, não idolatrado. Aliás, se a realidade criada fosse o sistema solar, como o sistema solar gira em torno do Sol e a criação é direcionada para Cristo; poder-se-ia dizer que, nesse e apenas nesse paralelismo, Cristo seria o Sol dos povos, uma vez que toda a criação está voltada para Deus.
Pois bem... Durante os dias de feira, a humanidade faz a sua obra e no sábado aguarda o grande dia, o qual também é chamado de páscoa semanal, o domingo. Eu diria que o sábado é uma gestação para o dia da ressurreição, um alegre dia da espera, na certeza da vitória de Cristo sobre a morte. Maria é a mulher que dá à luz Aquele que é o Autor da luz. No sábado, com Maria os cristãos aguardam Aquele no Qual eles ressuscitam. Ou seja, quando uma pessoa é legitimamente batizada passa a fazer parte do Corpo de Cristo e, sendo o Corpo de Cristo gerado no ventre de Maria, a renovada pessoa que em Cristo se inicia tem uma mãe celestial: seu nome é Maria.
Quem, na espera, anda com Maria tem, no domingo, a grande alegria de com Cristo encontrar-se. Se n’Ele vive e com Ele morre, com Cristo e para Cristo ressuscitará. Como se percebe, a dinâmica do cristão é uma dinâmica na qual, semanalmente, se vive o tríduo pascal: na sexta-feira, as penitências preparativas; no sábado, a espera na fé; no domingo, a celebração da ressurreição.
A caminhada com a mãe do Senhor também envereda por essa realidade. E nisso vale recordar a trajetória do discípulo amado, comparada com a dos demais discípulos quando se depararam com a realidade de que Cristo fora preso e estava prestes a ser julgado, condenado e morto. Apenas o que com Maria permaneceu, conseguiu acompanhar Cristo até o fim, os demais fugiram com medo.
Ainda hoje, muitos cristãos fogem da verdade da cruz para não terem que ver e vivenciar a dor da perseguição sofrida por quem é íntimo de Deus, pessoa que está no mundo sem ser do mundo. A cruz assusta a muitos e assustou aqueles que não andavam com Maria. Deus é fiel, mas ser fiel a Deus e acompanha-lo até a cruz, só teve força quem o fez na companhia de Maria, a mãe fiel que não abandonou seu Filho.
Maria é essa mãe que não abandona seu Filho. Os que se fazem membros do Corpo de Cristo, na caminhada cristocêntrica, aprendem e vivenciam as consolações que Deus derrama por meio de Maria. Deus fez dela portadora de abundantes graças e consolações para os que querem realizar-se em Seu Filho. Maria é a mãe que sustenta e ajuda a caminhar os que aprendem a caminhar em Cristo e com Cristo.
Hoje é sábado, dia em que se espera a chegada do domingo. Por aqui e com Maria aqui se encerra esta reflexão de hoje para que com Maria se possa melhor esperar a ressurreição no amanhã. Hoje é dia de aguardar; amanhã, de celebrar, de festejar a vitória da Vida sobre a morte. Aos que são de Cristo, a Igreja dá à Luz e Maria conduz, rumo à Pátria Celeste, já vivendo-a neste mundo, por meio da Eucaristia.
Assim, nobre leitor, lembra-te de que ainda que tu te vejas a atravessar um vale de lágrimas; segura na mão de Deus, atravessa a tormenta; confia na companhia de Maria, olha para a cruz e não desista: espera, Cristo venceu a morte, o Amor de Deus nos sustenta. Semanalmente: com Maria esperemos e com Cristo nos reencontremos. Ainda que possam as semanas trazerem dores, depois vêm as alegrias e os louvores.
No sábado vivemos a espera pelo domingo que nos espera.
Com Maria, espera em Deus e deixa teu sorriso brilhar; pois ele ainda tem muita gente a alegrar.
Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.